Paulo Daniel Sant’Anna Leal, médico veterinário, MSc, DScV, Pós-Doutorado, Membro da Academia de Medicina Veterinária no Estado do Rio de Janeiro/AMVERJ
ABB – Como médico veterinário clínico e cirurgião de animais de companhia, como resume a evolução desse tipo de atividade, no Brasil, na última década?
PAULO LEAL – A evolução técnica foi evidente, com o avanço tecnológico significativo, o que proporcionou diagnósticos mais assertivos e terapêuticas mais eficiente, principalmente devido aos avanços trazidos da medicina humana.
ABB – Quais os principais problemas de falta de educação dos cães e como corrigi-las?
PAULO LEAL – Treinar, orientar ou educar os cães é parte essencial da responsabilidade dos proprietários, isso demanda conhecimento e orientação profissional. Desempenha papel fundamental no desenvolvimento de uma convivência harmoniosa entre o animal e a família. A educação ou o treinamento oferece aos cães as ferramentas necessárias para compreender as expectativas do ambiente em que vivem, estabelecendo limites e padrões de comportamento aceitáveis. Além disso, um cão bem treinado/educado é mais feliz e saudável, experimentando menos estresse e ansiedade. Nesse cenário, é crucial evitar alguns erros na educação do cão para garantir que o processo seja efetivo e correto. A falta em um padrão de ordens ou orientação, ou seja, a presença da inconsistência nas regras confunde o cão. Para evitar isso, defina normas claras desde o início e mantenha uma abordagem coesa na educação, seja comandos, horários ou recompensas e apresente aos familiares que terão contato com o novo morador, no caso, o cão, para que todos sigam a mesma ordem, evitando a confusão por parte do cão.
ABB – É correto que o único alimento que deve ser dado para os cães, sejam as rações? E, de um modo geral, as diversas marcas e tipos de ração são confiáveis, em termos de qualidade?
PAULO LEAL – As rações são uma opção prática e confiável para os cães, o preço é o determinante para a composição dos nutrientes e na qualidade destes, e são capazes de oferecer os nutrientes básicos diários aos cães, a administração da ração, independente da marca, exige algumas obrigatoriedades como evitar o fracionamento na compra, ou seja, de preferência sempre a pacotes fechados, evite a compra de rações expostas e em sacos já abertos. Obedeça a orientação do volume a der dado diariamente. Evite adicionar outros alimentos não industrializados, pois esta ação desequilibra os nutrientes dos produtos industrializados. Por isto, é indicado escolher ração comercial a opção da comida caseira, para servir como refeição única para o cachorro. Importante lembrar a necessidade prescrição por um médico veterinário, tanto quanto ao volume de ração diário, quanto, ao tipo, e no caso da opção de dieta caseira, pois esta depende de um balanceamento ou de uma recita para as proporções corretas de proteína, carbo-hidratos e gorduras.
ABB – Quais as doenças mais comuns dos cães e dos gatos que podem ser evitadas com vacinas?
PAULO LEAL – Em um país como o Brasil, com as características do clima e da população animal, principalmente da população de animais errantes, impõem um cuidado rigoroso na profilaxia das doenças que circulam entre a população de cães e gatos. Vale lembrar que algumas são zoonoses. As doenças infecciosas que devem ser evitadas a partir de profilaxia vacinal nos cães são a leptospirose, composta por quatro cepas inativadas para a produção de imunidade vacinal, a L. Canicola, Icterohaemorrhagiae, Pomona e Grippotyphosa. Além destas, temos a vacina contra os vírus da cinomose, hepatite infecciosa canina, coronavirose, parvovirose, parainfluenza, adenovirose. A tosse dos canis, agora chamada de Complexo Respiratório Infeccioso Canino (CRIC), é o nome comum dado a um grupo de agentes infecciosos que podem afetar o sistema respiratório dos cães, os quais podem ter seus sinais clínicos minimizados através da vacina contra Bortedella bronchiseptica e o vírus da Parainfluenza tipo 2. Quando se fala de profilaxia vacinal de gatos, é importante a orientação veterinária sobre os fatores de riscos para a determinação do melhor protocolo vacinal. As doenças que podem ser minimizadas através das vacinas nos gatos são: Rinotraqueíte, panleucopenia, leucemia felina, clamidiose. A vacina obrigatória por Lei e que pode acometer cães e gatos, além de outros mamíferos e por ser uma zoonose, com elevado grau de letalidade é a raiva, obrigatória anualmente.
ABB – Como acontece com os cães, existe um grande número de raças e variedades. Como escolher o gato certo?
PAULO LEL – A principal orientação é sobre tempo que o proprietário terá disponível para as obrigações de cuidado e lazer com o gato, o habitat que será disponível a este animal e se já há outros moradores. Há uma infinidade de raças, porém, o gato, independente da raça, tem comportamento próprio que não difere muito entre as raças. Portanto, a orientação profissional é sempre adequada na escolha do pet, quanto a espécie, raça, idade, e se será por adoção, resgate. adoção.
ABB – Quais são os riscos de uma intimidade excessiva com os cães e os gatos?
PAULO LEAL – Importante lembrar que há doenças que circulam entre animais e seres humanos e algumas delas podem promover agravos tanto nos animais quanto nos proprietários, principalmente quando há uma maior interação devido à proximidade. Arranhaduras de gatos, mordeduras mesmo que por brincadeiras e outras interações com maior promiscuidade podem produzir doenças nos proprietários, principalmente se os animais tem acesso a rua, aumentando o risco.
ABB – E as rações para gatos, são diferentes das dos cães, e as existentes no mercado são confiáveis? Não é correto suplementar as rações com alguns tipos de alimentos caseiros, como frangos e peixes, que eles adoram?
PAULO LEAL – Biologicamente, cães e gatos pertencem à ordem Carnivora, que abriga uma diversidade de predadores. Eles são especialistas em se alimentar de carne e, para isso, têm todo o organismo projetado para a digestão de proteínas e outros componentes de origem animal, principalmente quando era advindo do ato de caçar. No entanto, cães e gatos fazem parte de ramos distintos da ordem, conhecidos como Canídeos e Felinos, apresentando particularidades anatômicas e fisiológicas distintas, o que determina uma necessidade nutricional diferenciada. Os cães, apesar de serem animais carnívoros, desenvolveram hábitos alimentares onívoros durante o processo de domesticação. Dessa forma, outras categorias de alimentos passaram a fazer parte de sua dieta. Já os gatos permaneceram com a alimentação estritamente carnívora, tendo o organismo voltado apenas para a digestão dessa fonte alimentar. Logo, as rações são produzidas considerando as exigências nutricionais e os hábitos alimentares de cada espécie. Dentro dessas características, elas também variam de acordo com idade, tamanho, estado nutricional, exigências energéticas, entre outras particularidades. Isso possibilita a produção de rações com diferentes propriedades e preços, inclusive com uma variedade das fontes alimentares utilizadas, o que determina principalmente a qualidade e o preço. Quando alimentamos o gato estritamente com ração comercial, e eventualmente ou moderadamente oferecemos alimentos in natura como salmão, atum ou frango, ou qualquer outro tipo de proteína, não há nenhum problema, os gatos podem comer salmão, mas apenas em quantidades moderadas e não com muita frequência. Apenas a proteína animal não é suficiente para manter seu gato saudável. Os gatos precisam de uma dieta completa e balanceada para garantir que recebam todas as gorduras, carboidratos, proteínas e micronutrientes.