Opinião

Opinião2017-07-02T12:21:30-03:00

A Carne é Forte

Por Antonio Alvarenga

A “Operação Carne Fraca” da Polícia Federal colocou o setor de proteína animal brasileiro no epicentro de uma crise mundial de credibilidade e confiança.

Passado o ápice dos acontecimentos, ficou claro que a PF errou na dose, ao divulgar a operação como a “maior já realizada no país”. Isso porque as investigações se referiam a fraudes pontuais – que devem, obviamente, ser apuradas com rigor e seus envolvidos punidos severamente. No entanto, infelizmente, passou-se a impressão que se tratava de um ‘modus operandi’ generalizado da agroindústria brasileira de carnes.

Os exageros foram posteriormente reconhecidos, mas o estrago já estava feito, tanto entre os consumidores brasileiros quanto nos mercados internacionais. A notícia se espalhou como um rastilho de pólvora e os embargos ao produto brasileiro não demoraram a acontecer.

A verdade é que o Sistema de Inspeção Federal (SIF) é amplo, e ciente, rigoroso, con ável do ponto de vista tecnológico e reconhecido internacionalmente por garantir produtos seguros, saudáveis e de qualidade. Se não fosse assim, o Brasil não seria um dos mais importantes players do mercado global de carnes, liderando os embarques de frango e atuando como um dos principais protagonistas em suínos e bovinos.

A carne brasileira, de alta qualidade, é exportada para mais de 150 países, alcançando vendas de US$ 14 bilhões, ou seja, 7 % do valor total das exportações do país em 2016.

Entretanto, os mais robustos sistemas de vigilância não estão imunes e/ou blindados contra os desvios de conduta humana, e esta é a questão central de todo este imbróglio.

A ação da PF identificou um esquema que envolvia o aliciamento de agentes públicos em troca de favores, para um número limitado de indústrias, com a interferência de determinados políticos. Nesses casos pontuais, a cadeia produtiva das carnes foi um veículo utilizado para viabilizar uma rede de corrupção.

Os problemas, detectados nos frigoríficos, prejudicam principalmente os produtores, que representam o elo mais frágil de uma cadeia onde há concentração excessiva no segmento industrial.

O fato é que a reabertura e a plena normalização de alguns mercados – conquistados após décadas de trabalho – não será fácil, pode demorar e deixar sequelas.

A atuação do ministro Blairo Maggi foi rápida e eficiente. A resposta das principais entidades do setor também foi determinante para um melhor entendimento do problema. Toda crise exige esclarecimentos em tempo real.

Na medida do possível, as informações disponibilizadas pelo ministro e especialistas conseguiram demonstrar a realidade dos fatos e reverter, pelo menos em parte, o prejuízo sofrido. No entanto, as sequelas serão inevitáveis.

As cadeias produtivas do agronegócio precisam tirar lições do episódio. A comunicação e o marketing do setor com a população urbana é fator-chave de sobrevivência, reputação e resultado nanceiro. É preciso investir cada vez mais na divulgação da origem da matéria-prima e na qualidade da segurança sanitária, dos processos e dos alimentos produzidos.

Ser transparente com a sociedade é uma estratégia crucial de construção positiva de marca. É preciso estabelecer uma aliança do interesse de todos e conquistar a opinião pública. Isso se faz cotidianamente, para que seus argumentos sejam respeitados e melhor considerados nos momentos de crise, como o de agora.

Este é mais um desa o para o agronegócio brasileiro.

(*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura

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