1 Panorama atual

A pecuária brasileira é considerada uma das mais expressivas, inovadoras e competitivas do mundo. Todo o sistema tradicional de criação existente nas várias atividades do setor começou a ganhar modernização e padrão tecnológico internacional com a criação da EMBRAPA 1972, cuja missão era: Viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura e pecuária em benefício da sociedade brasileira“.

Não resta dúvida de que o sucesso alcançado em 2020, R$ 1.55 trilhão de reais, 21.4% do PIB brasileiro (setor agrícola 68% e pecuário 32%), CNA, teve influência significativa dos Programas e Projetos desenvolvidos pela Embrapa, em todo o território nacional, o financiamento federal da produção agropecuária através dos Planos Safras Anuais, a mudança do conceito de fazenda para empresa rural, o melhoramento genético do rebanho, o controle fitossanitário das pragas e doenças, a melhoria das pastagens, o empreendedorismo rural, vinculado à tecnologia 4.0 (4G), e a informatização sem fio, entre outros fatores zootécnicos (intrínsecos e extrínsecos), tecnológicos e ambientais que mudaram o manejo e bem-estar animal, minimizando os custos e perdas e maximizando ganhos, nos grandes empreendimentos rurais.

No aspecto tecnológico, a informatização dos Sistemas de Produção e controle dos planteis e rebanhos com câmeras, sensores biométricos, ships informativos individuais, redes sem fio, etc, que constituem a pecuárias de precisão, ligados a uma CGI, (Central de Gestão de informação), que monitora em tempo real dados biológicos e ajuda e facilita o gestor no manejo, planejamento e tomada de decisão, características da pecuária avançada, atual e moderna.

Pesquisas, projeções e perspectivas do agronegócio mundial publicadas pela SCOT CONSULTORIA, ” Consumo mundial de proteína animal – perspectivas e atitudes ” , Bebedouro-SP, 2018, revela que segundo a Organização das Nações Unidas-ONU/FAO, a população mundial em 2024 ultrapassará 8 bilhões de habitantes, sendo 400 milhões a mais do que a atual, (7 592 Mil, 2018), aumentando o consumo de proteína animal mundial em 1.4%, sendo necessário o incremento da produção de 3.8%, para satisfazer essa demanda.

2 Limitações e desafios mundiais

O espaço terrestre agricultável, produtivo e mecanizável próprio para instalações de grandes projetos, agrícolas e pecuários, está escasseando-se a cada ano. Indicadores da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – ONU/FAO, aponta que as maiores potências produtoras de alimentos do mundo, a Ásia já utilizou 80% das terras aráveis produtivas e os Estados Unidos só tem espaço para crescer através de reduzidos ganhos de produtividade ou a produção de determinada commodity em detrimento de outra.

No sul da Ásia, Ásia Ocidental e África do Norte não há terras agricultáveis. Nesse contexto, cerca de 90% das terras com potencial de expansão agropecuária estão na America Latina e na África Subsaariana, com metade delas concentrada em apenas 7 países: Brasil, República Democrática do Congo, Angola, Sudão, Argentina, Colômbia e Bolívia. ( Fig 01)

As nações terão que contar com o melhoramento genético animal e vegetal para atender a essa demanda, que, de acordo com a FAO, devido ao modelo tecnológico atual estar esgotado, as taxas de crescimento da produtividade caíram em relação às principais lavouras na última década.

Há também a variação climática, a escassez hídrica e o aquecimento global interferindo diretamente na agricultura, e de acordo com ( Cordell et al, ) 2009, a agricultura moderna depende de fertilizantes, e o fósforo de rocha (Apatita), um dos principais adubos, por não ser um recurso natural renovável, as atuais reservas legais, podem se esgotar num período de 50 a 100 anos.

A produção mundial de carnes aumentou nas últimas décadas, principalmente a originada de aves e suínos devido à expansão territorial da produção e ao aumento da produtividade.

Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), os principais produtores mundiais de carne são os Estados Unidos, a União Europeia, a China e o Brasil. O Brasil, é o segundo produtor mundial de carne bovina e de frango e o quarto maior produtor de carne suína. ( AgroNovas,2019 ).

3 Gigantes brasileiras de proteína animal

3.1 Carne Bovina. IRMÃOS QUAGLIATO.

Pertence aos irmãos Quagliato (Roque, Francisco, Fernando, Luiz ) o maior complexo pecuário de corte do país. Situado na Região de Xinguara, sudeste do Estado do Pará, o Complexo do Rio Vermelho, com um território de mais de 85 000 ha e constituído de 8 (oito) fazendas: Rio Vermelho, Brasil Verde, Santa Rosa, São Sebastião, Califórnia, Primavera, Preferida e Colorado, teve início no ano de 1973, incentivado pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia-SUDAM, governo militar, no Projeto de ocupação e desenvolvimento da Amazônia. Especializada na criação de zebuínos, nelore, hoje com um plantel de mais de 200 mil cabeças, encontrou em Xinguara condições ecológicas excelentes para seu desenvolvimento agropecuário e empresarial. Considerado o maior rebanho de corte do Brasil estanciado numa região e de um mesmo Grupo, Grupo Quagliato, nessas fazendas modernas se realizam todo os ciclos zootécnicos da cadeia produtiva bovina de corte: produção, cria, recria e engorda, sendo os processos de cada fase monitorados e acompanhados por computação.

Para manter essa portentosa massa viva em condições de higidez e alimentação permanente, aproveitando-se da alta temperatura tropical e chuvas perenes, foram formados pastos consorciados com as melhores gramíneas e leguminosas para pastoreio que modificaram fisiograficamente o meio ambiente local numa região florestal, onde não existia ainda atividades agropecuárias.

Contando uma equipe técnica altamente especializada e qualificada de veterinários, agrônomos, técnicos agrícola e pecuário, além de peões treinados e uma tropa de muares para a lida diária e manejo do gado no campo e currais, o complexo Quagliato é considerado um dos mais modernos núcleos produtores de carne bovina do Brasil, e os dados zootécnicos apresentados em relatórios oficiais anuais comprovam esses resultados estatísticos impressionantes. ( fig 02)

3.1.1 RESULTADOS ZOOTÉCNICOS OBTIDOS.

– Rebanho do Complexo – Mais de 200 000 cabeças entre touros, vacas, bezerros, boi magro e boi de engorda;

– Manejo – São utilizados 50 minifazendas chamadas “retiros” onde se concentram cerca de 3 000 animais cada, em manejos rotacionados conforme a necessidade e função zootécnica desejada;

– Vacas Matrizes – Cerca de 60 000 vacas inseminadas artificialmente com prenhês confirmada, ( 30% ) acima da média nacional de inseminação, ( 7% );

– Natalidade – Taxa de Natalidade em torno de 90%, acima da media brasileira de 60%;

– Precocidade de acabamento – Animais atingem o acabamento aos 36 meses com 19 arrobas contra a média nacional de 16 arrobas aos 4 anos de idade;

– Desfrute do rebanho – Cerca de 28% são vendidos para o abate anualmente.

Completando esse ano 48 anos de existência (1973-2021) e associado à Empresa de Genética Lagoa da Serra, que compartilha há 8 anos de melhoramento genético do rebanho, o empreendimento já comercializa no mercado nacional e internacional, além do gado vivo, o sêmem sexado e embrião congelados.

3.2 Leite. FAZENDA COLORADO.

Situa-se em Araras-SP, a 180 km da capital, São Paulo, a maior e mais moderna granja leiteira ” fábrica de leite ” do país. Primeiramente, pertencente ao empresário Lair Antonio de Souza, falecido em 2015, uma das mais antigas fazendas leiteiras do Estado, teve inicio em 1823, com a construção do primeiro estábulo; em 1964, a ampliação da propriedade com a anexação de 100 alqueires adquiridos e em 1980, com a compra da Fazenda Bom Jesus, ganhou sua denominação definitiva Fazenda Colorado.

Recordista brasileira da produção de leite Tipo A, da marca Xandô, por oito anos consecutivos, ganhadora do Top Milk 100, Programa que avalia as 100 maiores produtoras de leite do país, bateu no ano de 2020, o recorde lácteo nacional de 80.024kg, com a ordenha de 2.100 vacas e média de 41 kg por animal. (Compre Rural, 2020).

Customizada e otimizada com a melhor tecnologia de produção de leite existente no país e no mundo, todo o sistema de ordenha é operado eletronicamente por computador, sendo que o leite extraído, de cada vaca, canalizado, vai direto do úbere para o sistema de pasteurização, padronização e envasamento sem contato manual com os ordenhadores. O sistema Carrossel utilizado na fazenda tem capacidade de ordenhar 72 vacas a cada 15 minutos, levando cerca de 7:30h para ordenhar às 2 100 vacas em lactação.

O Galpão onde estão confinados as vacas e novilhas em produção tem cerca de 20 000 m² de construção e utiliza o sistema free-stall com temperatura e ventilação controladas. O rebanho de 3 700 animais da raça holandesa preto e branco (PO) é formado na própria fazenda com inseminação artificial e transferência de embrião, o que garante animais de alta performance funcional e melhoramento genético.

Uma verdadeira montanha de ração constituída de feno, silagem e concentrado é consumida, diariamente, na alimentação do gado, tudo, balanceado e calculado automaticamente, para cada animal, por máquinas informatizadas e importadas. Todos os resíduos orgânicos animal (fezes e urina) são reciclados para a produção, em biodigestores, de bioenergia e biofertilizantes para irrigação e adubação das pastagens.

O gerente técnico administrativo da Fazenda é o Dr. Médico Veterinário, Sérgio Soriano, especializado em reprodução Bovina e pós-graduado em administração de empresa pela Fundação Getulio Vargas, FGV. (Fig 03)

3.3 Carne Suína. MASTER SUÍNOS

O Brasil é o quarto maior produtor de proteína suína do mundo ficando atrás apenas da China, União Europeia e Estados Unidos (EMBRAPA, 2020). A suinocultura brasileira chegou a essa posição mundial de destaque graças às condições sanitárias de seu atual rebanho (40.6 milhões de cabeças) e a melhoria genética de transformação das raças autóctones tradicionais produtoras de banha, em cruzamentos industriais com raças americanas e européias, tipo carne, sendo destaques as raças Duroc, Landrace, Large White e Hampshire, às mais cogitadas zootecnicamente.

A maior Região produtora de carne suína do país é a Região Sul com (49.7%) do rebanho nacional, destacando-se nesse contexto, o Estado de Santa Catarina que é responsável por (19.2%) desse total. (IBGE,2020) É justamente em Santa Catarina, município de Videira, que se localiza a maior granja e o maior produtor de suínos do Brasil, o empresário médico veterinário Dr. Mário Faccin, que com um rebanho de 31,5 mil matrizes, espalhadas nas 08 fazendas entre Santa Catarina e Goiás, consegue a produção de 800 animais/dia, 938 mil cabeças/ano, 333.600 suínos abatidos e 23.500 t de produtos acabados anualmente.

Com um pouco mais de 25 anos de existência, o complexo empresarial Master, representado comercialmente pela Sulita, utiliza um Sistema compartilhado de produção com mais de 300 produtores integrados à sua cadeia produtiva que recebem toda a orientação técnica, os leitões das creches, além da ração e medicamentos até a terminação.

Adotando um Sistema tecnológico vertilcalizado e autônomo, razão de seu sucesso empresarial, o complexo atua em toda a cadeia produtiva suína com centros de produção, fábricas de ração, núcleos de pesquisa de melhoramento animal e indústrias de abate e processamento. Considerada a maior empresa produtora de suínos do Brasil e uma das maiores do mundo, referência de gestão de produção compartilhada, a Master possui mais de 1000 funcionários e 300 produtores compartilhados, com um crescimento empresarial de 20% ao ano (COMPRERURAL, 2020). ( Fig 04 )

3.4 Carne de frango. JBS-SEARA

Pertence ao Brasil e aos brasileiros a multinacional JBS-AVES, do empresário presidente Wesley Batista, a maior produtora de proteína avícola do mundo. Representada no país pela SEARA Alimentos e internacionalmente – América do Norte, América Central, e Europa -, pela PILGRIM”S, PRIDE CORPORATION, essa gigantesca holding familiar do agronegócio, dos irmãos Batista, que também produz, beneficia e comercializa mundialmente, carne bovina, ovina e suína e subprodutos, começou no setor de aves, em 2009, com a aquisição da americana Pilgrim’s Pride, líder em aves nos EEUU. ( JBS,2020).

Com o axioma ” Alimentamos o mundo com o que há de melhor “, pautado na sustentabilidade, modernização, tecnologia da informação e sistema integrado de produção e gestão, tem no mundo mais de 100 milhões de consumidores, em 190 países, nos cinco continentes.

Trabalhando no Sistema integrado de produção, beneficiamento e comercialização, seguindo rigidamente a “compliance” empresarial, da matriz gerencial de São Paulo, tem capacidade de abate de 12 milhões de aves/dia, e cerca de 400 médicos veterinários e extensionistas que trabalham na orientação da produção e inspeção dos alimentos ” in natura” produzidos.

No Brasil, são mais de 81 mil parceiros produtores em granjas próprias e fazendas integradas, incluindo 4 900 produtores familiares, que recebem da Empresa SEARA todas as orientações técnicas para a produção de frangos de corte, desde os pintinhos, ração, vacinas, medicamentos etc, sendo suas plantas avícolas produtoras ( 30 Unidades ) localizadas, principalmente, nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Bahia, maiores Unidades de produção.

Nos Estados Unidos, a transnacional brasileira, representada pela PILGRIM”S PRIDE, líder da produção de carne de frango americana, adquirida em 2009 e pela GOLD`N PLUMP, produtora de frango orgânico, também adquirida pela JBS, possui 36 Unidades de produção e processamento com extensão comercial e distribuição no México, Porto Rico, Reino Unido e Europa Continental.

Com uma receita bruta gerada em 2019 de 204.5 bilhões de reais e lucro liquido de 31.9 bilhões, o Complexo empresarial industrial brasileiro, produtora de carne de aves, com 240 mil colaboradores e 400 Unidades produtoras no mundo, tem as seguintes metas: Visões do Futuro:

– Garantir alimento de qualidade para mais de 7.7 bilhões de habitantes do planeta;

– Perspectiva e planejamento de aumento de 70% de proteína animal nos próximos anos;

– Melhora da performance operacional e diversificação do portfólio dos produtos industriais que proporciona crescimento, benefícios de integração das diversas cadeias produtivas animal que compõem o MIX da Empresa. (Fig 05)

Edino Camoleze. méd vet mil. MS Tecnologia de Alimentos. Acadêmico Titular da ABRAMVET.