É fácil prever que num futuro próximo a sociedade exigirá o concurso dos veterinários no setor da segurança alimentar.
Isso decorre da explosão populacional. No momento estamos com 7 bilhões mais ou menos e dentro de 40 anos seremos 9 bilhões. Esses 2 bilhões a mais precisam comer. Assim, o alimento passará a ser a nova moeda do século XXI.
No século XIX a moeda eram as máquinas da Revolução Industrial e a dona do mundo era a Inglaterra, porque tinha as máquinas, movimentadas com as correias feitas com o couro do peixe-boi da Amazônia. Essa moeda possibilitou que a Rainha Vitória afirmasse: “O sol nunca se põe no Império Britânico”.
Veio o século passado e a nova moeda foi a energia do petróleo, substituindo na maquinaria a energia obtida do carvão de pedra inglês e da madeira das colônias. E essa nova moeda ficou de propriedade dos Estados Unidos.
A moeda do futuro é o alimento e toda a produção de alimentos de origem animal necessitará de veterinários qualificados
Alimento, a moeda do século XXI
Agora, veio a nova moeda do Século XXI, que é o alimento, e nós veterinários temos grande responsabilidade no assunto. Ela fará com que o Brasil vença seu atraso na saúde, na segurança e na educação. Tudo como fizeram os Estados Unidos exatamente há um século. A corrupção que havia lá é a mesma que existe hoje aqui, apenas com um século de diferença. A educação, a pior possível. Então, com a nova moeda apareceram líderes. No caso da medicina, apareceu um grande líder: Flexner. Seu célebre Relatório modificou todo o ensino médico dos Estados Unidos.
A necessidade de melhorar o ensino
O ensino médico que no Brasil está precisando ser modificado. E espero também que o ensino veterinário seja modificado e que muitos cursos sejam fechados.
Há necessidade urgente de ser modificado para melhor o ensino veterinário no Brasil.
As quatro necessidades básicas
A explosão populacional humana determina quatro necessidades básicas: alimento, energia, habitação e matéria-prima. Dessas quatro necessidades, uma delas gerou a moeda do século passado: a energia do petróleo. A próxima moeda é o alimento.
Na produção de alimentos de origem animal temos concorrentes. No caso da carne, por exemplo: Austrália, Estados Unidos e um pouquinho da União Europeia.
A dificuldade das barreiras
Surgem barreiras de todos os tipos. Inicialmente foram as barreiras tarifárias comandadas pela OMC – Organização Mundial do Comércio. Depois, vieram as barreiras sanitárias e depois a exigência do bem-estar animal. Um indivíduo da Noruega, há 10 anos, na OIE, dizia que tem que haver a barreira do bem-estar animal e o Brasil venceu e vence tudo isso com o seu boi “clorofilado” (alimentado a pasto). E, finalmente, a rastreabilidade, que o Brasil também venceu.
Recapacitação de pessoal
Toda produção de alimentos de origem animal necessitará de veterinários qualificados. Será uma verdadeira reorganização das atividades e aproveitamento da mão de obra constituída pela massa de veterinários atuais e dos que serão formados, para atender às necessidades do “rolo compressor” da agropecuária.
Há necessidade da recapacitação de uma grande porcentagem de veterinários e principalmente desses que estão aparecendo nas mais de 200 escolas, porque esses irão encontrar a clínica saturada.
E o que fazem eles? Vão para cursinhos se preparar para fazer concurso para a Polícia Federal, prestar concurso para ser segurança ou ascensorista do Senado Federal. Não somente os veterinários mas também os graduados em outros cursos superiores.
Participação da Academia
A recapacitação dos profissionais, em curto prazo, é tarefa na qual a Academia Brasileira de Medicina Veterinária terá grande participação. A preocupação de interessar veterinários em sua recapacitação, diante do levantamento do problema da segurança alimentar em veículos de grande penetração, como o programa Fantástico, da TV Globo e a revista Veja, por exemplo, deixou de ser apenas da Academia e passou para o domínio público.
Uma só inspeção
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a indústria exportadora de carnes pretendem que as exigências atendidas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), sejam as mesmas para os respectivos serviços de inspeção estaduais e municipais.
Trata-se da indispensável descentralização dos serviços de inspeção com a condição de serem mantidas as exigências do SIF.
Apoio da SNA
Assim como vem prestando importante colaboração para as reuniões da Academia, cedendo suas instalações e oferecendo apoio logístico, a SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, também apoiará, na pessoa do seu presidente, administrador de empresas Antonio Mello Alvarenga, e da diretoria da Entidade, os cursos rápidos de recapacitação que estão em fase de estudo.
Milton Thiago de Mello é Presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária