Por Luiz Octavio Pires Leal, da Academia Brasileira de Medicina Veterinária e Jornalista profissional

Serve para todo mundo, sempre, o tempo todo.

Muito mal entendido, muitas oportunidades perdidas, muitas desavenças acontecem todo dia em função de um texto mal escrito, complicado, sem uma definição clara.

Lembre-se do ditado “Não importa o que você escreve (ou fala) e sim o que o outro entende.” Parece coisa simples, mas não é. É o que os especialistas chamam de “ruído da comunicação”.

E o que estamos tratando, nesse texto, não se refere aos escritores de ficção, mas sim às comunicações diárias dos leigos, das pessoas comuns.

Escrever bem, não é escrever complicado com o objetivo de demonstrar cultura e sim de modo claro, sintético e objetivo, “para que o outro entenda”. Hospital não é nosocômio nem advogado, causídico. Isso é coisa do passado.

As dicas a seguir, pretendo que sejam de alguma utilidade:

1. Comece com um título. As estatísticas dizem que o título é lido muitas vezes mais do que o texto.

2. Um bom título resume todo o conteúdo do texto: “O Brasil tem a absurda quantidade de mais de 600 faculdades de Veterinária”.

3. Logo abaixo, escreva o lide (de leader, o que lidera, o que vem na frente): “Enquanto em todo o Planeta há menos do que 400 faculdades de Veterinária, o RJ tem 40, mais do que a França (4), os Estados Unidos (10), a Inglaterra (5) e a China e a Rússia sete, cada uma. Depois, então, vem o texto com suas observações e críticas. 

4. Esse exemplo foi para um artigo da sua autoria.

5. Mas a comunicação diária, simples, rotineira, não deve ser muito diferente.

6. Escreva sempre no sentido do mais importante para o menos importante. 

7. Se você está precisando de um emprego, escreva numa página inicial, mais ou menos o seguinte: “Me chamo Vera Lúcia Albuquerque. Tenho 23 anos. Sou casada. Moro no Rio. Tenho experiência em Tecnologia de Alimentos e desejo uma oportunidade de demonstrar os meus conhecimentos e o meu prazer em trabalhar”. 

8. Mas se você não tem experiência em nada, escreva um princípio semelhante e finalize assim: “Acabei de me formar, sem me especializar em nada e desejo uma oportunidade de aprender, num período experimental, sem retribuição de qualquer espécie. 

9. Ao escrever, evite a ordem inversa e use a direta. Ordem inversa é coisa de latinista e só complica a vida do leitor. 

10. Muito cuidado com a concordância. Um erro terrível e muito comum é com o verbo haver:”Haverão muitas festas de fim de ano”. ERRADO. O certo é “Haverá muitas festas de fim de ano.” Coisas da gramática.

11. Outro é “a nível de” O correto é “em nível de”.

12. “Gostei muito da estadia na sua casa”. Errado. Estadia é o tempo de permanência de um navio no porto. O certo é estada.

13. Evite textos longos que o comum dos mortais tem preguiça de ler. Mas se isso for indispensável, divida seu texto em blocos, precedidos de um entretítulo pequeno.

14. O uso generalizado e prático da Internet não é uma justificativa válida para você “assassinar” o nosso idioma que é um dos mais importantes, bonitos e completos do mundo. Você é você e não Vc. Também é também mesmo e não Tb, ou coisa parecida.

15. “Um dos únicos” é bobagem. Único é único, exclusivo.

16. Ao escrever um relatório, em vez de redigir a Conclusão no final, escreva no início. Assim: “Nossas vendas aumentaram 30% a partir do segundo mês depois da Pandemia. Isso recomenda a recontratação dos funcionários demitidos”. O índice de leitura aumentará muito e os menos interessados nem precisarão ler o texto.

17. Existem erros que viraram coisa certa pela aceitação popular. Um bom exemplo é a palavra “Ecologia”, que tem origem científica e significa  “A inter-relação dos seres vivos na natureza”. Dizer um passeio ou um jardim ecológico é uma bobagem que pode ser escrita.

18. Economize os adjetivos. Usados em excesso, eles perdem a força.

19. Não limite a sua leitura aos textos científicos ou técnicos. Leia os cronistas que, por definição, escrevem sobre os fatos do dia a dia. Os livros de aventura também podem ser muito bons.

20. Cuidado com os textos “Politicamente corretos.” Eles podem ser confundidos com covardia.

21. “Escrever é cortar palavras”, é um bom conselho. Depois de escrever seu texto, veja as palavras que podem ser cortadas, facilitando a leitura.

 

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