É um animal nativo do Brasil, sendo encontrado em florestas primárias e secundárias de domínio de Mata Atlântica, distribuindo-se dos estados de Pernambuco ao Rio Grande do sul, com registros também no centro e leste de Minas Gerais.

Trachycephalus mesophaeus é um anfíbio pertencente à família Hylidae, que reúne espécies de anuros conhecidas popularmente como pererecas. Perereca-dourada, perereca-grudenta e perereca-leiteira são diferentes nomes comuns atribuídos a esta espécie, sendo o primeiro nome associado à coloração amarelo-ouro observada no macho durante o período reprodutivo e os dois últimos associados à secreção branca e pegajosa liberada quando o animal é capturado, em um comportamento defensivo. Inicialmente, a espécie pertencia ao gênero Phrynohyas e atualmente é classificada no gênero Trachycephalus, já que se reconheceu que se tratava de sinonímia.

Trachycephalus mesophaeus em Morretes, Paraná. Fotos: Glauco Oilveira. @glaucobichosolto

É um animal nativo do Brasil, sendo encontrado em florestas primárias e secundárias de domínio de Mata Atlântica, distribuindo-se dos estados de Pernambuco ao Rio Grande do sul, com registros também no centro e leste de Minas Gerais. Devido à sua ampla distribuição e ao grande número de indivíduos, assim como à sua capacidade de suportar certo nível de alteração no habitat, é listada pela Internacional Union for Conservation of Nature (IUCN) na categoria “pouco preocupante” (LC).

A espécie habita áreas de bordas florestais, em altitudes inferiores a 700 metros, estando sempre associada à vegetação próxima a corpos d’água. Assim como os demais hilídeos de grande porte, são animais arborícolas, conhecidos como “tree frog” (sapo de árvore), no entanto podem também abrigar-se no interior de bromélias localizadas no alto destas.

Seu comprimento rostro-cloacal ou CRC (parâmetro morfométrico que mede a distância entre a ponta do focinho e a margem posterior da cloaca) é de aproximadamente 61 mm nos machos e 70 mm nas fêmeas. Observa-se a ocorrência de saco vocal duplo nos machos.

A coloração de sua pele varia de castanho escuro a bege, fornecendo uma camuflagem extraordinária e tornando-o semelhante ao tronco das árvores, porém, durante o período reprodutivo, observa-se a coloração amarela dourada nos machos. Nota-se na região dorsal de seu corpo, um desenho que lembra a forma de polígono, com coloração mais escurecida, que se estende da região anterior até a cloaca. Uma faixa compacta de coloração amarelada, marginada por linha preta, circunda as laterais do seu corpo, com início posterior à região dos olhos e término próximo à região inguinal. Seus olhos são vistosos, de cor amarela com machas pretas.

Sua dieta inclui uma variedade de invertebrados, como insetos (baratas, besouros, formigas, lacraias, gafanhotos, grilos) e anelídeos (minhocas). A diversidade na escolha dos itens alimentares revela uma estratégia oportunista, alimentando-se do que estiver disponível no momento, o que confere vantagens ao animal, caso alterações ambientais interfiram de forma direta na disponibilidade do alimento.

Seu período reprodutivo está diretamente associado às estações chuvosas, onde os machos descem das árvores ou bromélias para vocalizar e assim atrair as fêmeas. O pico de atividade reprodutiva é relatado por pesquisadores da espécie, com populações aglomeradas em brejos e lagoas temporárias ou permanentes, utilizadas para a reprodução após a ocorrência de fortes tempestades.

A estratégia reprodutiva utilizada é conhecida por “explosive breeding” (reprodução explosiva), onde se podem encontrar centenas de indivíduos nos corpos d’água, e se estende por poucos dias. Normalmente, a vocalização se inicia durante o crepúsculo e o início da noite, sendo contínua e sobreposta, gerada por diversos machos, formando um sonoro coro, que é bem propagado em diversos tipos de ambiente, atraindo desta forma as fêmeas.

Trachycephalus mesophaeus em Morretes, Paraná. Fotos: Glauco Oilveira. @glaucobichosolto

Dependendo da quantidade de fêmeas presentes no ambiente, nos dias com altas densidades, a competição pode aumentar, o que interfere no comportamento de corte utilizado pelos machos. Assim, pode ser vantajosa a adoção de diferentes estratégias comportamentais, como a do “macho deslocador”, que consiste em interromper um casal já em copula, deslocando-se o macho da fêmea. Também se pode observar a adoção da estratégia chamada “procura ativa”, que consiste suspender a vocalização e passar a procurar ativamente pelas fêmeas, que quando encontradas, são interceptadas e abraçadas. Esse abraço, denominando “amplexo axilar”, refere-se ao comportamento onde os machos usam as patas dianteiras para segurar a fêmea na região peitoral por meio das axilas. A fêmea por sua vez eleva a cabeça, enquanto o macho eleva o dorso e, desta forma ocorre a aproximação das cloacas. Os ovos vão sendo liberados na água através de movimentos repetitivos e vibrações do abdômen.

São liberados aproximadamente dois mil ovos, que ficam agregados em um filme gelatinoso de finas camadas que os protege e os envolve, formando uma crosta flutuante. Os ovos eclodem liberando os girinos, que ao longo de seu desenvolvimento sofrem metamorfose, originando as formas terrestres.

A perereca-dourada, assim como as demais espécies de anuros, possui importante função como indicadora de qualidade ambiental. Por serem dependentes da pureza da água, são animais sensíveis a alterações do ambiente, como mudanças no regime das chuvas e também extremamente afetadas pela poluição, principalmente provocada por substâncias tóxicas. O desmatamento representa uma das maiores ameaças às populações de anuros, assim como o desaparecimento de brejos, poças e riachos, que são utilizados por estes animais como locais de reprodução.

A criação de áreas de preservação, a exemplo das unidades de conservação, assim como o incentivo à realização de pesquisas científicas, são importantes medidas a serem adotadas para a garantia da preservação desta espécie.

Trachycephalus mesophaeus em Morretes, Paraná. Fotos: Glauco Oilveira. @glaucobichosolto

Bibliografia consultada

CARVALHO-E-SILVA, S. P.; GARCIA, P. 2004. Trachycephalus mesophaeus. The IUCN Red List of Threatened Species 2004: e.T55822A11372732.    <https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2004.RLTS.T55822A11372732.en.> Acesso em 09 de junho de 2020.

KWET, A.; SOLÉ, M. A new species of Trachycephalus (Anura: Hylidae) from the Atlantic Rain Forest in southern Brazil. Zootaxa, Ilheus. 2008.

MIRANDA, D. B; ALBUQUERQUE, S.; TURCI, L.; BERNARDE, P. S. Richness, breeding environments and calling activity of the anurofauna of the lower moa river forest, state of Acre, Brazil. Sociedade Brasileira de Herpetologia. Paraná, v.32, n.2, p. 93-108, 2015.

POMBAL, J.P.; HADDAD, C.F.B. Estratégias e modos reprodutivos de anuros (AMPHIBIA) em uma poça permanente na serra de Paranapiacaba, Sudeste do Brasil. Papéis Avulsos de Zoologia, São Paulo, v.45, n.15, p. 201-213, 2005.

PRADO, G. M. et al. Comportamento reprodutivo, vocalização e redescrição do girino de Phrynohyas mesophaea (HENSEL, 1867) do Sudeste do Brasil (AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE). Boletim do Museu Nacional. Rio de Janeiro, n.510, 2002

SILVA, S.P.C. et al. Aspectos da reprodução, da vocalização e da larva Phrynohyas mesophaea HENSEL (AMPHIBIA, ANURA, HYLIDAE). Revista Aquarium. 2002

ULLOA, J.S. et al. Explosive breeding in tropical anurans: environmental triggers, community composition and acoustic structure. BMC Ecology, p.19-28, 2019.