Por: Sávio Freire Bruno e Yula Fabbrin Xavier

Introdução

O periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus) é uma ave que pertence à família Psittacidae, juntamente com as araras e papagaios. Muitas espécies dessa família possuem a capacidade de imitar a fala humana, como é o caso do periquitão-maracanã, que também é conhecido como aratinga, aratinga-de-bando, maritaca, entre outros, a depender da região do país.
O nome científico, Psittacara leucophthalmus, se origina do grego e significa “ave com cabeça de papagaio e olhos brancos”, fazendo referência à sua característica marcante de possuir a porção ao redor dos olhos de cor branca. Sua plumagem em geral é verde, com exceção de algumas penas em vermelho ao lado cabeça e pescoço e nas coberteiras inferiores das asas, que além das penas avermelhadas também possuem penas amarelas na parte inferior, estando mais evidentes durante o voo. As penas vermelhas estão ausentes quando o indivíduo ainda é jovem. É uma ave de tamanho médio, que geralmente não costuma ultrapassar os 32 cm.

São aves de hábitos sociais que podem ser encontradas em casais, mas também em pequenos ou grandes bandos, alcançando até 40 indivíduos. O bando pode ser avistado dormindo em conjunto sobre rochas, plantações de cana e até mesmo telhados urbanos (SIGRIST, 2006).

Casal de periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus). Detalhe de certas coberteiras inferiores das asas avermelhadas e porções amareladas. Foto: Sávio Freire Bruno, Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, 25/08/2021.

Distribuição Geográfica e Ambiente Específico:

O periquitão-maracanã possui uma ampla distribuição na América do Sul. No Brasil, pode ser encontrado em grande parte dos Estados (SICK, 1997), especialmente em áreas abertas e semiabertas do Cerrado, mas também em bordas de matas, manguezais, matas de galeria e buritizais. Sua presença em áreas transformadas pela ação humana já é uma realidade, especialmente no sudeste brasileiro, não só nas plantações, mas nas periferias e nos grandes centros urbanos, a exemplo da cidade do Rio de Janeiro e entorno. É notável a presença de grandes bandos em revoadas, quando estão fora do período reprodutivo.

Hábitos Alimentares:

Essa é uma espécie de psitacídeo que, assim como outras, se alimenta principalmente de frutos e sementes. Também observamos a ingestão de flores, como da quaresmeira (Tibouchina granulosa, Melastomataceae), que ilustra a capa deste artigo.

Procura pelo seu alimento tanto em copas de árvores mais altas quanto em arbustos frutíferos dentro de florestas e bordas de mata (SICK 1997). Também visita as plantações, seja de grãos ou frutos, buscando alimento em propriedades rurais. Nas áreas urbanas também sai em busca de frutos e sementes.

Comportamento Reprodutivo:

Os casais podem nidificar em troncos ocos de árvores, palmeira de buriti, paredões de pedra e, curiosamente, também sob telhados (sótãos), assim como nas edificações humanas em geral (LAGOS et al., 2018).

Durante o período de reprodução, uma vez formados os casais, estes se afastam do bando e são vistos voando sempre juntos (JOFFILY 2010). No decorrer da nidificação, como muitos psitacídeos, não costumam formar grandes ninhos nem coletar externamente materiais para tal, podendo, entretanto, roer algum material ao seu redor. Isso inclui não só materiais macios, como espuma de colchonetes, mas também a fiação de residências, o que muitas vezes resulta na necessidade de adaptações que favoreçam a convivência.

O periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus) forma casais com forte vínculo. Ambos cuidam com grande zelo de seus filhotes. Foto: Sávio Freire Bruno, Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, 09/11/2015.

No Parque Nacional da Serra da Canastra, em fevereiro de 2023, observamos um casal que nidificou em um armário metálico de um alojamento, onde as aves roeram uma perneira de courino  e um colchonete espumoso que, aparentemente, serviram como substrato para o ninho (vide foto do ninho). Foram observados dois filhotes já com a plumagem bastante desenvolvida e sob o cuidado parental de ambos os pais.

Filhotes de periquitão-maracanã com a plumagem já bem desenvolvida e próximos a abandonar o local de nidificação. Foto: Sávio Freire Bruno, Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, 15/02/2023.

Principais Ameaças:

Psittacara leucophthalmus atualmente encontra-se na situação “Não preocupante” (LC), segundo os critérios de avaliação da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), que analisa o nível de ameaça de extinção de uma espécie.

Como muitos representantes da fauna nacional, e mais especificamente da ordem Psittaciformes, o periquitão-maracanã sofre com o tráfico e comércio ilegal de animais silvestres, uma atividade cruel e criminosa da qual têm sido vítimas. Outras ameaças como incêndios florestais, perda e destruição de habitat devem ser consideradas.

Apesar de sua situação atual ser menos preocupante quando se trata da ameaça de extinção da espécie, esforços que garantam a conservação do Periquitão-maracanã são de vital importância. Não se trata apenas de manter uma espécie em nosso ecossistema, mas também de proteger a rica biodiversidade e os processos ecológicos que estão interligados na natureza.

Referências bibliográficas:

ALMEIDA, Filipe Iglesias de. DIETA DE Psittacara leucophthalmus (STATIUS MÜLLER, 1776) (AVES: PSITTACIFORMES) NA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS. 2023. 48 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa – Minas Gerais, 2020.

BRUNO, S. F.; MATIAS, C. A. R. Liberdade não rima com grade: o tráfico de animais silvestres no Rio de Janeiro e suas implicações. 1 ed. Rio de Janeiro: Projeto Cultural, 2023. 184 p.

ANDRADE, Marco Antonio de. AVES SILVESTRES: Minas Gerais. 2. ed. Belo Horizonte: Edição do Autor, 1997. 176 p.

JOFFILY, D. (2010) Soltura monitorada de exemplares do periquitão-maracanã,  Aratinga leucophthalma (Statius Muller, 1776) apreendidos pelo Ibama no estado do Rio de Janeiro e aspectos da alimentação de indivíduos da família Psittacidae. Dissertação de mestrado. Seropédica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

LAGOS, Adriano Rodrigues et al. Guia de aves:: da área de influência da usina hidrelétrica de batalha. Rio de Janeiro: Furnas, 2018. 216 p.

SICK, Helmut. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 912 p

SIGRIST, Tomas. Aves do Brasil: uma visão artística. 2. ed. São Paulo: Avis Brasilis, 2006. 672 p.

SIGRIST, Tomas. Guia de campo: avifauna brasileira. 3. ed. São Paulo: Avis Brasilis, 2013. 592 p.

WIKIAVES. Periquitão (Psittacara leucophthalmus). Disponível em: https://www.wikiaves.com.br/wiki/periquitao. Acesso em: 29 de out. 2023.

Sávio Freire Bruno é Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Professor Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF).

Yula Fabbrin Xavier: Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal Fluminense.

Revisão de texto: Eduardo Sánchez.

Foto de capa: Sávio Freire Bruno. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, 23 de agosto de 2021.