Por  Breno Arigoni, Fabrício Bonfim e Mariana Oliveira – Discentes da Disciplina de Defesa Sanitária Animal do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ

Supervisionado por Clayton B. Gitti – Professor Titular da UFRRJ

A avicultura é um dos setores mais dinâmicos da produção animal, desempenhando papel estratégico na segurança alimentar e na economia global. Entretanto, doenças de alta transmissibilidade como a Influenza Aviária (IA) e a Doença de Newcastle (DNC), configuram sérias ameaças à saúde animal, ao comércio internacional e, em determinados cenários, à saúde pública. A IA é causada por vírus do gênero Influenza A (família Orthomyxoviridae), enquanto a DNC é provocada por um vírus do gênero Avulavirus, pertencente à família Paramyxoviridae. Ambas as enfermidades afetam aves domésticas e silvestres de todas as idades e possuem potencial zoonótico.

Considerando a necessidade de mitigar riscos e preservar a integridade das cadeias produtivas, diversos países desenvolveram planos de contingência para emergências zoossanitárias, organizando antecipadamente ações de preparação e resposta frente a surtos de doenças. Esses planos reúnem diretrizes técnicas, administrativas e operacionais que orientam a identificação, a contenção e a eliminação de focos, definindo responsabilidades, fluxos de atuação e formas de coordenação interinstitucional. Fundamentados em princípios epidemiológicos e de gestão de risco, buscam reduzir o tempo de resposta e minimizar perdas relacionadas à produção animal e à saúde pública.

Considerando a necessidade de enfrentamento à influenza aviária e à doença de Newcastle, esses instrumentos abrangem vigilância epidemiológica e comunicação de risco. Dessa forma, contemplam desde o monitoramento de risco, até etapas de comunicação e ações posteriores ao evento, assegurando organização entre níveis de gestão. Este artigo analisa os principais elementos desses planos em relação à IA e à DNC.

A Influenza Aviária caracteriza-se por um amplo espectro de manifestações clínicas, variando desde formas leves até apresentações graves, como ocorre nos vírus classificados como Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP). Em humanos, infecções podem resultar em febre, dispneia, tosse e, em casos severos, pneumonia e morte.

Fonte- pixnio.com/free-images

A Doença de Newcastle, por sua vez, é igualmente altamente contagiosa e afeta diversos sistemas orgânicos das aves. Embora o risco zoonótico seja menor que o da IA, podem ocorrer casos leves de conjuntivite em humanos expostos a aves infectadas. Dessa forma, ambas as enfermidades são consideradas relevantes no contexto da Saúde Única, por integrarem elementos da saúde animal, humana e ambiental.

A IA e DNC apresentam sintomatologia semelhante, complicando o diagnóstico clínico diferencial. Entre os sinais comumente observados destacam-se:

  • distúrbios respiratórios (dispneia, espirros, secreção oronasal);
  • alterações digestivas (diarreia);
  • sinais neurológicos (torcicolo, tremores, incoordenação motora);
  • redução na produção de ovos e deformidades na casca (cascas finas, falta de pigmentação).

A diversidade de sinais reforça a importância da vigilância epidemiológica e da confirmação laboratorial para o diagnóstico definitivo.

A vigilância epidemiológica constitui a base dos planos de contingência e se organiza em duas modalidades:

– Vigilância ativa: realizada por equipes oficiais da Defesa Sanitária Animal, inclui inspeções em propriedades avícolas, monitoramento sistemático de aves domésticas e silvestres, bem como coleta programada de amostras para detecção precoce de IA e DNC.

– Vigilância passiva: baseia-se na notificação de suspeitas por médicos-veterinários, técnicos, produtores e demais agentes do setor. Essa modalidade é fundamental para identificar rapidamente eventos atípicos que possam indicar a presença de enfermidades de notificação obrigatória.

Quanto às medidas de resposta e contenção: quando ocorre a notificação de uma suspeita, equipes regionais são acionadas para conduzir a investigação epidemiológica. Entre as medidas iniciais incluem-se:

– Interdição da propriedade;

– Restrição de trânsito de aves, ovos férteis, veículos e equipamentos;

– Coleta de amostras para envio aos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDA);

– Intensificação da biosseguridade.

Caso a doença seja confirmada laboratorialmente, a propriedade é declarada foco e são estabelecidas zonas de contenção, geralmente definidas como:

Zona perifocal: raio aproximado de 3 km;

– Zona de vigilância: raio aproximado de 7 km;

– Zona de proteção: raio aproximado de 15 km.

A principal medida de controle no foco é o despovoamento sanitário das aves da propriedade afetada, conforme diretrizes nacionais e internacionais. Os produtos e subprodutos provenientes da área infectada são inutilizados e não podem ser comercializados. Importante destacar que o despovoamento não é realizado em casos de suspeita nem aplicado automaticamente em toda a zona perifocal, mas apenas nos locais oficialmente reconhecidos como foco.

Para declarar o fim do foco, é necessário comprovar:

– Ausência de novos casos;

– Conclusão das ações sanitárias;

– Fechamento da investigação epidemiológica;

– Atendimento aos prazos e requisitos internacionais estabelecidos pela OMSA.

Somente após cumprir tais etapas o país pode iniciar os procedimentos formais para restabelecimento de seu status sanitário.

A Influenza Aviária e a Doença de Newcastle constituem riscos permanentes à avicultura global e demandam vigilância contínua, resposta rápida e articulação entre serviços veterinários, setor produtivo e instituições de saúde. Os planos de contingência apresentam-se como instrumentos fundamentais para prevenir a disseminação das enfermidades e mitigar seus impactos. A adoção de medidas padronizadas, embasadas no conceito de Saúde Única, contribui para preservar a integridade sanitária das populações avícolas, proteger a saúde humana e garantir a sustentabilidade econômica do setor avícola.

Referências:

– BRASIL. Ministério da Agricultura e Pecuária. Plano de Contingência para Emergências Zoossanitárias – Parte Geral. Brasília: MAPA, 2023a.

– BRASIL. Ministério da Agricultura e Pecuária. Plano de Contingência para Emergências Zoossanitárias – Parte Específica: Influenza Aviária de Alta Patogenicidade e Doença de Newcastle. Brasília: MAPA, 2023b.

Foto de capa: Imagem https://pxhere.com/