A Platinosomose, é uma doença causada pelo trematódeo Platynosomum spp. (AZEVEDO et al., 2013), parasito que acomete, geralmente, o fígado, a vesícula biliar e os ductos biliares dos gatos, podendo acometer também o intestino delgado e outros tecidos mais raramente (HENDRIX, 1995).
O hábito de caça está diretamente relacionado a esse parasitismo, uma vez que a infecção do gato ocorre, principalmente, pela ingestão de lagartixas contendo as metacercárias encistadas, sendo essa a principal forma de infecção (BRAGA, 2016).
O ciclo heteroxeno de vida do Platynosomum spp. é complexo, envolvendo moluscos terrestres, isópodes terrestres (hospedeiros intermediários) e lagartixas (hospedeiro paratênico) para completar seu ciclo no fígado e ductos biliares do gato (hospedeiro definitivo). O felino irá contaminar o ambiente ao defecar e eliminar os ovos embrionados, que serão ingeridos pelo primeiro hospedeiro intermediário (moluscos terrestres – Subulina octona); o Miracídio sai do ovo pelo opérculo, penetra no tecido do molusco, torna-se esporocisto e desenvolve cercárias em seu interior. Então, um segundo hospedeiro intermediário, um isópode terrestre, ingere essas cercárias liberadas pelo primeiro hospedeiro intermediário, e desenvolve-se a fase infectante – metacercária. Em seguida, o hospedeiro paratênico (lagartixa) ingere esse isópode e carrega a metacercária encistada na vesícula biliar sem haver transformação do parasito em seu organismo. O gato, por sua vez, se infecta ao ingerir a lagartixa contendo a metacercária encistada, as quais migram para o ducto biliar, transformando-se em adultos sexualmente maduros, completando o ciclo. (LIMA et al., 2008). Ademais, o homem pode participar acidentalmente do ciclo, o que faz com que a platinosomose seja considerada uma zoonose. Nos humanos, a doença consiste na presença de trematódeos no trato biliar e predispõe ao desenvolvimento de neoplasias (ZEN et al., 2005).
As manifestações clínicas são inespecíficas, como: letargia, icterícia, emagrecimento, vômito, hepatomegalia e anorexia (SALOMÃO et al., 2005). Por isso, é dever do médico veterinário realizar uma anamnese detalhada para verificar se o animal possui hábitos de caça, se já fez ou faz uso de antiparasitários e qual(is) foram administrados, histórico do animal e manifestações clínicas (NORSWORTHY, 2004). Em caso de relato de caça de insetos e outros seres como lagartixas e baratas, já é possível considerar a doença em questão como um dos diagnósticos diferenciais (SAMPAIO et al., 2006).
Através da associação das manifestações clínicas com o histórico/anamnese do felino é possível ter uma suspeita de platinosomose (NORSWORTHY, 2009). O diagnóstico definitivo é o achado dos ovos operculados nas fezes do felino ao realizar exame coproparasitológico, desde que não haja obstrução completa do ducto biliar por fibrose e/ou achados do parasito adulto na necropsia. Além disso, é preciso considerar que podem ocorrer afecções simultâneas, onde Platynosomum spp. não é exatamente o causador principal da sintomatologia, principalmente por platinosomose, frequentemente, apresentar quadro clínico assintomático.
A técnica padrão-ouro que vem se destacando para detectar ovos de trematódeos é a sedimentação com formalina-éter, podendo apresentar eficiência de 100% em alguns casos (AZEVEDO, 2008). A técnica de sedimentação demonstra oito vezes mais ovos que o exame direto, revelando a presença de ovos marrons, de casca espessa e operculados, característico de Platynosomum spp. Entretanto, em alguns casos é recomendado a realização de exame fecal seriado, já que a técnica de sedimentação identifica somente 25% dos felinos parasitados (FOLEY, 1994). Os ovos podem ser encontrados na técnica de centrífugo-flutuação, porém a mais recomendada, por ser considerada mais sensível, é a de sedimentação em formalina-éter.
Pode ocorrer do diagnóstico não ser alcançado com o exame fecal, e os achados proporcionais à infecção por parasitos hepatobiliares serem inconsistentes em exames hematológicos e bioquímicos, como eosinofilia, hiperbilirrubinemia e aumento sérico de alanina aminotransferase (ALT/TGP), da aspartato aminotransferase (AST/TGO), da fosfatase alcalina e da bilirrubina (BUNCH, 2006; FOLEY, 1994). Nesse caso, o próximo passo é o exame ultrassonográfico do fígado, vesícula biliar e trato biliar (TAMS, 1994), que não têm achados específicos, porém auxilia na avaliação do fígado e detecta obstruções biliares, sedimentações da vesícula biliar, alterações no parênquima hepático e espessamento das paredes da vesícula biliar. A laparotomia exploratória é indicada apenas em casos de obstrução biliar, essa cirurgia facilita a biópsia do fígado e a compressão manual da vesícula para aliviar a obstrução e, em casos de uma compressão mal sucedida, é possível explorar a vesícula e fazer a canulação e lavagem dos ductos biliares (NORSWORTHY, 2009). A análise histológica pode revelar inflamações, edemas e hiperplasias nos ductos biliares; com uma infecção de quatro meses observa-se uma hiperplasia do epitélio do ducto biliar com inflamação periductal. Seis meses após a infecção é possível observar uma extensa fibrose do tecido conectivo ao redor dos ductos biliares, sendo considerado um processo crônico e grave (FERREIRA et al., 1999).
A prevenção da platinosomose é um desafio, uma vez que é um hábito natural da espécie felina caçar pequenos seres vivos. Porém, gatos com acesso à rua possuem maior risco de serem infectados por terem maior contato com os hospedeiros, além de ficarem mais suscetíveis a diversas outras doenças. Dessa maneira, restringir o acesso a rua e evitar o hábito de caça do seu gato é imprescindível para evitar a infecção pelo parasito. Além disso, é importante a vermifugação com praziquantel a cada três meses para a prevenção contra o agente etiológico (FOLEY, 1994; NORSWORTHY, 2009) e a realização do exame de fezes periódico para o controle dos mais diversos endoparasitos (FOLEY, 1994).
Por sua vez, o tratamento também é realizado com praziquantel, sendo o protocolo indicado pelo veterinário de acordo com as necessidades do paciente. A estabilização do animal com soluções eletrolíticas em casos de desidratação e alimentação facilitada é de suma importância para evitar quadros de lipidose hepática (NORSWORTHY, 2009). A antibioticoterapia pode ser necessária para evitar infecções secundárias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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