Um olhar ao passado da arte animal: Lascaux! (Cavernas no sudoeste da França)

Por muitos anos, as grutas de Lascaux foram consideradas como o local da existência das mais antigas representações de arte rupestre (datação: 17 mil anos). Acreditava-se ser a Europa o continente onde essa arte surgiu; recentemente, arqueólogos descobriram, em cavernas da Indonésia, vestígios de pinturas feitas há aproximadamente 44 mil anos. Vale lembrar que no Brasil, lá para as bandas do Piauí, existe um dos maiores sítios arqueológicos disponíveis para visitação, o Parque Nacional Serra da Capivara, onde é possível ver desenhos com datações de 25 mil anos ou mais.

Foco na Arte Animal

Oscar D’Ambrosio, conhecido e renomado jornalista, mestre em Artes Visuais, comentou: “Uma das principais funções da arte é comunicar ao observador um pensamento, …”; “O que não pode ocorrer num trabalho significativo é que ele passe indiferente ao receptor, fazendo com que não tenha nenhum tipo de emoção após contemplá-lo.”

Se é assim, podemos entender a presença de tantos animais nas cenas rupestres. As linguagens disponíveis, para os homens das cavernas eram: oral e pictórica. É possível imaginarmos a precariedade oral, com grunhidos que imitassem animais e outras coisas, como o vento, o fogo e a trovoada. Não havia palavras, apenas se fazia a comunicação das ideias, que deveriam ser representadas na forma de reforço gestual ou de desenhos.

Hoje, como simples receptores da informação, ao vermos um desenho primitivo, com a representação de animais, mal podemos interpretar a dramaticidade dos momentos e das emoções comunicadas pelos homens das cavernas.

Ao transmitirem nas pinturas rupestres mensagens cotidianas, certamente não havia pretensão meramente artística ou questões estéticas de lirismo primitivo. Acreditamos mais num sentido prático do que decorativo, para justificar arte tão primitiva, especialmente quando as composições, simples e frágeis, mostravam cenas de caçadas aos animais, fonte certa de alimento, quando não até mesmo simples defesa da gruta.

Da arte rupestre aos nossos dias

A mesma função de comunicar ao observador uma representação mental de uma coisa concreta ou abstrata, tornou-se uma função constante ao longo da arte animal, como aqui queremos expressar. Ao optar por incluir animais na cena artística, os artistas passaram a transmitir significados de grande importância para os seres humanos.

Durante suas aulas, o antropólogo Prof. Luiz Marins, que esteve na Austrália estudando os aborígenes, descreveu os rituais primitivos de preparação para a caça ao canguru. Na narrativa do professor, os aborígenes só saiam para capturar o animal, depois de terem imaginariamente abatido o canguru; possivelmente, tais encenações de caçada ocorriam no fundo das cavernas, como em Lascaux, diante das paredes e tetos gravados com as cenas que, até hoje, cumprem seu papel de comunicar.

Lectio Consummatum est

Vamos imaginar? Acendemos uma fogueira, bem no fundo da caverna! Alguém assume a liderança do ritual. Poucos sentados no chão, são os idosos; outros dançando, empunhando armas para a caçada; mulheres e crianças, de longe, observam, olhos arregalados! O crepitar do fogo ilumina o ambiente, cada vez mais fica nítido o caminho na selva desenhado na parede. O chefe aponta qual será o animal a ser perseguido. Todos vibram. Gritos e urros! Os corpos suados, ao som de troncos batidos compassadamente, vão formando uma espécie de dança ritualística; histeria coletiva! Sobra adrenalina! Finalmente, motivados e com o animal imaginariamente capturado, saem da caverna os mais experientes da tribo. Exaltados! Em suas mentes não existe espaço para o fracasso; afinal, eles já mataram a fera durante a dança na caverna, agora é só ir apanhar a carne fresca e sangrando; ela irá alimentar a todos por alguns dias.