Por Sávio Freire Bruno* e Nathália Macedo Lima**

Introdução

O príncipe (Pyrocephalus rubinus), também conhecido como barão-do-melgaço, são-joãozinho, sangue-de-boi, papa-moscas-vermelho, mãe-do-sol ou ainda coração-de-boi, é uma ave da ordem Passeriformes e família Tyrannidae. Como alguns de seus nomes populares sugerem – e até mesmo seu nome científico, que significa “cabeça de fogo rubi” – o macho adulto tem grande parte de suas penas em tom vermelho bem chamativo.

A espécie apresenta dimorfismo sexual, tendo a fêmea plumagem mais discreta, cinza clara com estrias escuras na região ventral (Fig.1), enquanto o macho ao longo de seu desenvolvimento assume gradativamente sua plumagem característica vermelho vivo marcante na parte ventral (Fig. 2). A linha escura atrás dos olhos e o dorso escuro estão presentes nos dois sexos (Favretto, 2023).

Fig. 1: Príncipe (Pyrocephalus rubinus) fêmea apresenta plumagem mais discreta com estrias na região ventral. Foto: Luiz Bravo, Londrina/PR; 03/05/2015.

Fig. 2: Príncipe (Pyrocephalus rubinus) macho adulto. Foto: Sávio Bruno, Paracatu/MG; 07/08/2020.

Com indivíduos adultos medindo entre 13 e 14 centímetros e pesando de 11 a 14 gramas (Favretto, 2023), essa espécie migratória ocorre do sul dos EUA ao centro-sul da América do Sul. No Brasil, está presente em quase todos os estados do país, com exceção de Amapá, Maranhão, Piauí e Bahia.

Distribuição geográfica e ambiental

O príncipe é uma espécie comum e tolerante à alteração de habitat, características que favorecem sua ampla distribuição geográfica e o fazem presente na Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai, e no Brasil em quase todo o território (Favretto, 2023.).

Graças a sua ampla distribuição geográfica pelo país, essa espécie pode estar presente em todos os biomas brasileiros, ocorrendo em uma grande variedade de ambientes: áreas campestres, arbustivas, borda de florestas, áreas abertas com árvores dispersas, áreas urbanas arborizadas e cerrado.

Hábitos Alimentares

Essa ave se alimenta de artrópodes, incluindo insetos e aranhas, e pequenos peixes. As presas podem ser capturadas em voo ou no solo e, após captura, o indivíduo retorna ao seu poleiro.

Comportamento reprodutivo e nidificação

A reprodução da espécie foi registrada em regiões e períodos diferentes do ano: no centro-sul do continente, entre outubro e janeiro, e no norte do continente, entre março e novembro. Durante o período reprodutivo, o macho troca as penas amareladas da barriga por penas vermelhas de coloração mais intensa, além de fazer voos exuberantes e cantar com mais frequência.

Há participação do macho na escolha do local, mas o ninho é construído pela fêmea, num período de 5 a 7 dias (Romero, 2014). O ninho tem formato de semiesfera, é composto principalmente por fibras vegetais, raízes, palha, pelos de animais, e forrado internamente com plumas, cerdas e pelos. (Favretto, 2023). Feito o ninho, ocorre a ovipostura de 2 a 4 ovos pela fêmea, que pode ocorrer em dias alternados ou sucessivos (Fig. 3).

Fig. 3: Ninho de príncipe (Pyrocephalus rubinus) em formato de semiesfera, composto de fibras vegetais e forrado internamente com plumas. Acomoda 3 ovos cor creme com manchas marrom escuro. Foto: Vinícius Domingues, Rio Grande/RS; 13/11/2016.A incubação pela mãe dura de 12 a 15 dias, e após a eclosão os filhotes ainda permanecem no ninho por mais 15 ou 18 dias. Os dois adultos exercem cuidado parental, mas a fêmea é mais presente nessa função (Favretto, 2023).

Principais ameaças

Além de ameaças naturais como a coruja-orelhuda e o falcão-de-coleira, predadores do príncipe, a espécie vem enfrentando a perda de habitat. Os dois fatores que mais contribuem para o agravamento dessa perda são a agropecuária e alteração dos sistemas naturais, como construção de represas e hidrelétricas.

 

Bibliografia

CANASSA, G. G. Migração austral do príncipe (Pyrocephalus rubinus: Aves): uma avaliação através da ciência cidadã. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Ciências Biológicas) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, [S.l.], 2022.

DUBOIS, Nicole Meireles. História natural e efeito das mudanças climáticas no tamanho da ninhada de Pyrocephalus rubinus (Aves, Tyrannidae). 2016. Dissertação (Mestrado em Ecologia) – Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Ecologia, Brasília, 30 mar. 2016. 73 f., il. Disponível em: http://repositorio.unb.br/handle/10482/20220. Acesso em: 10 jun. 2025. DOI: http://dx.doi.org/10.26512/2016.03.D.20220.

ELLISON, K.; WOLF, B. O.; JONES, S. L. Vermilion Flycatcher (Pyrocephalus rubinus), versão 1.0. In: POOLE, A. F. (Ed.). Birds of the World. Ithaca, NY: Cornell Lab of Ornithology, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.2173/bow.verfly.01. Acesso em: 10 jun. 2025.

FAVRETTO, Mario Arthur. Aves do Brasil – Vol. II. [S.l.]: Clube de Autores, 2023. p. 308.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE – ICMBio. Aves: Parque Nacional dos Campos Gerais. Brasília: ICMBio, 2021. 64 p. Disponível em: https://www.gov.br/icmbio/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/guias-de-aves/avespnebook.pdf. Acesso em: 15 jun. 2025. Informação utilizada na p. 23.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE – ICMBio. Processo de avaliação do risco de extinção da fauna brasileira – Pyrocephalus rubinus (Boddaert, 1783). Brasília: ICMBio, [s.d.].

MUÑOZ‑SANTOS, I.; RÍOS‑CHELÉN, A. A. Vermilion flycatchers avoid singing during sudden peaks of anthropogenic noise. Acta Ethologica, v. 26, p. 201–210, 2023. DOI: https://doi.org/10.1007/s10211-022-00409-x. Acesso em: 15 jun. 2025.

RÍOS‑CHELÉN, A. A.; MACÍAS‑GARCIA, C. Flight Display Song of the Vermilion Flycatcher. The Wilson Bulletin, v. 116, n. 4, p. 360–362, 2004. DOI: https://doi.org/10.1676/04-027. Acesso em: 15 jun. 2025.

RÍOS‑CHELÉN, A. A.; QUIRÓS‑GUERRERO, E.; GIL, D.; MACÍAS‑GARCIA, C. Dealing with urban noise: vermilion flycatchers sing longer songs in noisier territories. Behavioral Ecology and Sociobiology, v. 67, p. 145–152, 2013. DOI: https://doi.org/10.1007/s00265-012-1434-0. Acesso em: 10 jun. 2025.

ROMERO, M. M. Biologia reprodutiva de Pyrocephalus rubinus (Aves: Tyrannidae) no sul do Brasil. 2014. Dissertação (Mestrado em Zoologia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/6157. Acesso em: 15 jun. 2025.

WIKIAVES – A Enciclopédia das Aves do Brasil. Príncipe (Pyrocephalus rubinus). Disponível em: https://www.wikiaves.com.br/wiki/principe. Acesso em: 15 jun. 2024.

 

*Sávio Freire Bruno é Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF). Professor do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Biossistemas (UFF).
**Nathália Macedo Lima é Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal Fluminense.
Revisão de texto: Eduardo Sánchez.
Foto de capa: Príncipe (Pyrocephalus rubinus) macho adulto. Por Sávio Freire Bruno. Paracatu/MG, 07/08/2020.