Por Engº Agrº Alberto Figueiredo

No Brasil a produção de leite de vaca está presente em mais do que 90% dos municípios, e, segundo o último censo agropecuário do IBGE, realizado em 2017, mais do que um milhão de propriedades rurais declararam produzir leite de vaca.

A diversidade, cultural e climática do território nacional acaba provocando uma grande variedade de sistemas de produção, que vão desde os mais rústicos e extrativistas, até os mais sofisticados, em regime de confinamento.

Cada um desses sistemas produz um resultado financeiro diferente, que vai desde à descapitalização contínua dos envolvidos, forçando-os à desistência, até empreendimentos que experimentam sucesso financeiro contínuo e capacidade de investimento em estruturação e verticalização da produção.

Para quem têm a intenção de iniciar, ou para os que, estando na atividade, desejam melhorar seus resultados, alguns tópicos nos parecem fundamentais de serem analisados:

1. Comercialização da produção:

Por ser o leite um produto perecível, quanto mais rápido sair da propriedade produtora para a indústria de beneficiamento, melhor.

Para que isso aconteça precisam ser levados em consideração alguns fatores:

  • Estrada de acesso à propriedade
  • Volume de produção
  • Qualidade do leite produzido
  • Proximidade com indústrias de beneficiamento

2. Escolha do sistema de produção:

Para cada sistema de produção a ser selecionado, serão mais ou menos importantes alguns fatores de produção:

  • Terra adequada para produção de alimentos para o rebanho (sejam pastagens complementadas com forrageiras para o inverno, sejam vegetais adequados para produção de silagem ou feno).
  • Disponibilidade de mão de obra adequada para as exigências de cada sistema de produção escolhido.
  • Capacidade financeira de investimento para a construção de instalações e aquisição de equipamentos fundamentais para a produção, armazenamento e depósito de insumos.
  • Escolha do material genético adequado.

3. Planejamento:

  • Estudo, tão detalhado quanto possível, de todos os fatores envolvidos para a implantação ou reestruturação do projeto de produção, de modo a evitar, ao máximo, os riscos de insucessos decorrentes de imprevistos.

4. Gestão:

  • Definição de responsabilidades pela gestão do negócio, no núcleo familiar ou empresarial.

5. Algumas regras fundamentais:

  • REGISTROS E CONTROLES:

Não se gerencia o que NÃO SE MEDE!

Não há SUCESSO no que não se gerencia!

Só no dicionário SUCESSO vem antes de TRABALHO… (Einstein).

O DONO é o principal responsável pelo (IN)SUCESSO da fazenda.

Não existe fazendeiro “grande” nem “pequeno”; o que existe é fazendeiro eficaz ou ineficaz. (prof. Malafaia).

Desde a identificação de cada animal da propriedade, até o registro contábil da despesa com a aquisição de uma simples agulha, passando pela anotação de todos os eventos relativos à cada animal existente na fazenda, tanto os registros quanto os respectivos controles, zootécnicos e financeiros são imprescindíveis para fundamentar as decisões de melhoria contínua a serem implementadas.

  • EQUILÍBRIO DO REBANHO:

Em uma fazenda dedicada à produção de leite, a principal receita provem da venda do leite.

Quem produz leite é a vaca, após cada parição.

É prática comum o produtor fazer a retenção de todas as crias (machos e fêmeas), que necessitam de alimentação, medicamentos, cuidados, que custam dinheiro.

Dinheiro que terá que ser tirado da venda do leite.

Assim, quanto maior for a proporção de vacas em condições de produção, na composição do rebanho, maiores as possibilidades de resultado financeiro favorável.

  • GENÉTICA:

A composição genética do rebanho é diretamente proporcional à expectativa de produção de leite por vaca.

Assim, a produção média das vacas do rebanho influencia diretamente no resultado financeiro.

  • ALIMENTAÇÃO DO REBANHO:

A vaca de leite é um ruminante. Portanto necessita ingerir volumosos, que fornecem fibras essenciais para o funcionamento do sistema digestivo. As principais fontes desses volumosos são os vegetais, tanto sob a forma de pastejo, quanto fornecidos em confinamentos.

Devem corresponder, no mínimo, a 60% da dieta total.

A oferta de volumosos em quantidade e qualidade adequadas, é importante fator de aumento da rentabilidade nas fazendas leiteiras.

A água, limpa e fresca, e os concentrados, são fundamentais para uma dieta equilibrada e lucrativa.

  • CONFORTO ANIMAL:

Os bovinos e bubalinos são muito susceptíveis à incidência de raios solares e temperaturas elevadas.

Proporcionar aos animais ambiente adequado com sobra, ventilação e umidade, proporcionam elevação da produção e aumento de lucro para o produtor.

 

A pergunta inicial (PRODUÇÃO DE LEITE DE VACA COM RENTABILIDADE É POSSÍVEL?), poderá ser respondida à medida em que os principais fatores anteriormente listados sejam considerados e colocados em prática.

Qualquer desequilíbrio em algum(ns) deles, pode significar a diferença entre o LUCRO ou o PREJUÍZO.

Existem no Brasil diversos sistemas públicos e privados de assistência técnica e gerencial das propriedades leiteiras.

Sua utilização depende do interesse de cada produtor.

 

Alberto Figueiredo é engenheiro agrônomo, produtor rural de leite no município de Resende, dirigente de instituições de representação dos produtores e membro de colegiados relacionados com o associativismo e política setorial.
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