O escritor estava concentrado nas suas “mal traças linhas”. Usava um computador antigo, com processador que rodava uma versão superada do Word! Estava em casa, por força da quarentena imposta a todos. A tarde era quente e desagradável, não ajudava; o texto não fluía no teclado! Qual o assunto? Muito banal, era desses sem maior apelo emocional. Mais uma fofoca política do que realmente algo do interesse público, não considerando a situação dramática de pandemia.

De repente, entram no pequeno escritório, de supetão, a sua esposa seguida pelo filho do casal, um menino de sete anos. Ela e o garoto, num só pranto convulsivo, não conseguiam falar direito. Assustado, pensou o escritor: “O que terá acontecido?”; “Meu Deus, quem será que morreu? Alguém da família?” Largou pra lá o texto que escrevia; deu total atenção ao momento. Aquilo aparentava ter urgência.

Levado pela emoção, ele também ficou com os olhos embargados por lágrimas; com a voz trêmula, tomou coragem e perguntou aflito: “O que foi que aconteceu, gente?”.

Logo a seguir, ele nem esperou a resposta, fez rápida oração ao desconhecido provável defunto. Ele estava embarcando na emoção, abraçado e soluçando, junto com a esposa e o filho, quando as coisas se tornaram mais claras.

A mulher balbuciando, respondeu: “Foi…, foi…, foi o filme!”

Um filme muito emocionante – Hachi: a dog’s tale

Não havia morrido ninguém! Felizmente!

Simplesmente, haviam assistido “Hachiko – Amigo para Sempre”, filme inglês/americano, de 2009, um drama adaptado e que tem por base a história verdadeira do cachorro japonês, carinhosamente chamado, Hachi. Ao final, mãe e filho, estavam muito emocionados!

O cão simboliza, até hoje, no Japão, o amor total e a fidelidade ao dono. Na história real, o protagonista humano é um professor universitário, a quem o animal esperava na estação do trem todos os dias. Sem saber do falecimento do professor, o animal esperou pela volta do dono, no mesmo local da gare, por anos.

Pronto! Estava desvendado o enigma de tantas lágrimas da mulher e do filho. Assim, o escritor retornou ao seu cantinho. Sentou-se calmamente; queria voltar a escrever, mas não conseguia pensar no assunto que estivera escrevendo. Na sua cabeça, só aparecia aquela figura do Akita, pacientemente sentado na estação, esperando o impossível retorno do professor.

Pensou assim: – “Quantos outros cães existem, pelo mundo afora, que diariamente se postam, em algum lugar estratégico, para aguardar o retorno de seus amados donos? Na casa de muita gente, sempre tem um adorável “Hachiko”! Não é verdade?”

Sem conciliar os pensamentos, resolveu que iria assistir também o vídeo, mesmo se tivesse de chorar. Procurou na Internet, achou e…, chorou de montão! Pronto, não se fala mais nada! Não se deve estragar a diversão das pessoas, contando detalhes do enredo, muito menos revelando o final.

O cão imortalizado numa estátua

Antes do filme, Hachiko mereceu uma homenagem em bronze!

Reconhecido ainda em vida, o cachorro teve a imagem memorizada numa estátua, em bronze, no ano de 1934, obra do artista japonês Teru. Um ano depois de inaugurada, o cachorro morreu de velhice. Infelizmente, em 1944, num esforço de guerra, a primeira estátua foi derretida, para reaproveitamento do metal, visando a fabricação de armas japonesas.

Contudo, a história daquele cachorro não ficou no esquecimento. Coube a Takeshi Ando, filho do primeiro escultor, com alguma dificuldade para obter bronze, a tarefa de erguer a nova estátua. Foi, em 15 de agosto de 1948, ano do terceiro aniversário da rendição do Japão na segunda grande guerra, que o monumento ficou pronto.

Mundialmente famosa, aquela história, prova de lealdade e afeto canino, emocionou muitas gerações, resultando na escultura feita em tamanho real, colocada na estação de Shibuya, na capital japonesa, onde tornou-se uma espécie de ponto de encontro popular; e que depois virou filme. Assistam ao vídeo, “Hachi: a dog’s tale”!