O combate à dor e à inflamação deve priorizar não apenas a eficácia terapêutica, mas também a segurança e o bem-estar prolongado destes animais
Processos inflamatórios são respostas fisiológicas normais do organismo frente a agressões traumáticas ou biológicas (como infecções), e devem ser controlados e resolvidos para que o órgão ou sistema afetado possa retomar sua função plena e eficiente.
“As inflamações podem acometer qualquer tecido ou sistema orgânico e apresentam sinais clínicos clássicos, como dor, aumento da temperatura local, hiperemia — decorrente da maior permeabilidade vascular —, edema nas estruturas envolvidas e, consequentemente, comprometimento parcial ou total da função”. explica a médica-veterinária e coordenadora técnica de equinos da Ceva Saúde Animal, Camila Senna. Ela acrescenta que as inflamações no sistema locomotor em equinos, geralmente se manifestam por claudicação e resistência à movimentação. Já no sistema digestório, são comuns os quadros de cólica.
Conforme relata a especialista, os equinos são particularmente predispostos a lesões no sistema locomotor, especialmente nos membros anteriores, que sustentam e amortecem cerca de 55% do peso corporal. Por estarem mais sujeitos a sobrecargas — especialmente em animais de esporte e tração —, essas regiões são frequentemente acometidas por processos inflamatórios, como desmites e tendinites.
“O desconforto gerado pela inflamação é evidente tanto no comportamento do animal — que pode tornar-se mais agressivo ou arredio — quanto na performance, que tende a diminuir. Além disso, os mediadores inflamatórios têm efeitos deletérios sobre os tecidos acometidos, dificultando sua regeneração quando produzidos em excesso. Por essas razões, o uso de anti-inflamatórios é fundamental na rotina clínica e cirúrgica de equinos”, observa.
Quais anti-inflamatórios utilizar?
Atualmente, os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) são amplamente recomendados para o manejo da maioria dos processos inflamatórios em equinos, devido à sua atuação na inibição da síntese de prostaglandinas, importantes mediadores da dor.
“O principal desafio dos AINEs tradicionais é que eles inibem de forma não seletiva as enzimas ciclooxigenases COX-1 e COX-2. A COX-1 é essencial para a homeostase de diversos órgãos e tecidos, estando presente em plaquetas, rins, endotélio e no trato gastrointestinal, onde participa da produção do muco protetor gástrico e da inibição da secreção ácida, prevenindo gastrites e úlceras. Já a COX-2 é induzida por estímulos inflamatórios e está diretamente associada à febre, dor e inflamação”, detalha Camila.
Entretanto, segundo a médica-veterinária, o uso prolongado de AINEs sem proteção adequada pode comprometer a integridade do sistema gastrointestinal, favorecendo quadros de desconforto abdominal. Para reduzir esses efeitos adversos, surgem os AINEs com inibição seletiva da COX-2 — como os firocoxibes —, que têm se consolidado como alternativa segura e eficaz.
O firocoxibe é o primeiro AINE com ação altamente seletiva sobre a COX-2 aprovado para uso em equinos. Estudos clínicos demonstram sua eficácia no controle de inflamações dolorosas em tecidos moles e musculoesqueléticos, em pós-operatórios e em casos de febre.
A especialista conta que, em estudos com equinos submetidos a cirurgias intestinais, o firocoxibe demonstrou superioridade em relação à flunixina meglumina na recuperação de lesões isquêmicas da mucosa intestinal. Já em animais com osteoartrite, observou-se que, após 14 dias de tratamento, aqueles tratados com firocoxibe apresentaram melhora significativamente superior em relação à dor à palpação, edema articular e amplitude de movimento, quando comparados ao grupo tratado com fenilbutazona”, relata Camila.
Por fim, a veterinária cita que quando o bem-estar do equino atleta é respeitado e está livre de dor ou desconforto, ele tem condições ideais para expressar todo seu potencial e alcançar a performance desejada.