Bom marchador, o cavalo Campolina vem ganhando espaço nos criatórios. É um animal para sela, serviços e lazer e o Brasil já conta atualmente com cerca de 60 mil cavalos ativos (com idade inferior a 25 anos)

Selecionada para sela, serviço e lazer, a raça Campolina surgiu há 150 anos (1870), no estado de Minas Gerais, na época em que o pais era governado por Dom Pedro II, no Brasil Império.

Idealizada por um estudioso e apaixonado por equinos, o criador Cassiano Campolina, do qual herdou o sobrenome, a raça foi formada na região de Entre Rios de Minas, na Fazenda Tanque, de propriedade daquele criador. Constituída inicialmente de animais selecionados para uso pelo Exército (montaria) e para condução de carruagens, a raça tem sua história ligada ao início da criação de equinos no Brasil. Essa atividade começou a partir de animais trazidos por colonizadores portugueses. Com a chegada de animais, instalação dos primeiros criatórios e posterior expansão dos plantéis, alguns criadores passaram, desde então, a selecionar, através de cruzamentos, os melhores animais com base em avanços em sua genética, morfologia e andamento. Além de desenvolverem animais que atendiam às suas necessidades, eles abriram caminho, com seus trabalhos de seleção, para se chegar ao que se denominou raças brasileiras, entre elas o Campolina.

Criação da raça

Apreciador de cavalos e de cavalhadas que, naquela época, eram realizadas entre cristãos e mouros, o fundador da raça Campolina tornou-se conhecido por possuir os melhores animais da região.

Ele possuía um plantel composto por éguas sem características raciais definidas. Eram animais predominantemente de sangue da raça Berbere, introduzidas no Brasil pelos portugueses.

Por ocasião da inauguração da linha férrea de Queluz – hoje Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais – ficou encarregado da organização e comando do Partido Cristão para realização de uma das cavalhadas em homenagem ao Imperador Dom Pedro II. Naquele dia, porém, a esperada vitória dos cristãos não ocorreu e os mouros venceram a competição pela primeira vez. Ferido no seu orgulho, Cassiano desceu do cavalo e, diante do Imperador − presente ao evento − assumiu a responsabilidade pela derrota, atribuindo-a ao fato de serem seus animais quase exclusivamente de andadura. E desafiou os oponentes para uma nova disputa, prometendo empenhar-se na desforra.

Esses episódio fez Cassiano rever sua filosofia de criação de Campolina. A partir de então, passou a selecionar animais visando não só as cavalhadas, mas também à comercialização de animais Campolina. Durante uma visita à cidade de Juiz de Fora (MG), ele recebeu de um amigo, Antônio Cruz, uma égua preta de nome Medéia. Era uma fêmea nacional e estava prenhe de um garanhão puro sangue Andaluz, pertencente a Mariano Procópio, que o recebeu de presente de Dom Pedro II, criador de equinos à época. Incorporada ao plantel de Cassiano, na Fazenda do Tanque, Medéia gerou, no criatório, um belo potro de pelagem preta – posteriormente mudou para tordilha negra – autêntico 1/2 sangue Andaluz. Batizado de Monarca em alusão ao Imperador Dom Pedro II, o garanhão, que serviu durante 25 anos na Fazenda do Tanque, é considerado o marco inicial da Raça Campolina.

O fundador da raça, desde o inicio de seus estudos técnicos, concentrou os trabalhos de seleção e melhoramento genético na obtenção de animais de elevado porte, robustos, resistentes e de andamento cômodo, a fim de atender às exigências das longas cavalgadas que predominavam no transporte daquela época. Visava também suprir a demanda – existente na época – de animais de grande porte, destinados às disputas esportivas entre mouros e cristãos (as famosas cavalhadas) para a montaria dos dragões da Milícia Real e para as parelhas de cavalos e muares para tróleis, com demanda principal no Estado do Rio de Janeiro.

Em 1898, um fato importante envolvendo Monarca, considerado o pai do Campolina, mudou a trajetória da raça. Este reprodutor morreu e Cassiano Campolina, devido ao seu pouco conhecimento de raças exóticas, adquiriu um garanhão da raça Percheron (usado na movimentação de cargas) ) e o empregou em algumas filhas de Monarca A experiência foi negativa, pois os produtos obtidos se revelaram impróprios para sela. Em vista disso, o criador optou pela alternativa mais sensata: passou a utilizar os descendentes diretos no seu trabalho de seleção, destacando-se entre eles: Monarca II, Monarca III, Leviano, Predileto, Baiardo, Pope e Nobre.

Esse trabalho de seleção bem-sucedido de Cassiano, porém, foi interrompido em 1904, pois ele faleceu naquele ano. O criatório “C.C”, como ficou conhecido e que já contava com mais de três décadas de existência, só não encerrou suas atividades por causa do interesse e o entusiasmo por equinos que Cassiano conseguiu transmitir aos seus amigos. Assim, em testamento, passou para seu particular amigo, Joaquim Pacheco de Rezende, a Fazenda do Tanque e todo o seu plantem de equídeos.

A experiência do novo titular de Fazenda Tanque, porém, durou pouco, pois faleceu em 1911, legando para um dos seus filhos, Joaquim Rezende, a responsabilidade maior de prosseguir o trabalho iniciado por Cassiano. Desse trabalho participaram seus irmãos Antônio, José, e Newton Rezende, com atuação mais ativa do primeiro.

Linhagens-base: Gás e Passa Tempo

O trabalho de aprimoramento da raça prosseguiu até 1954, quando foi interrompido com o falecimento de Joaquim Rezende. Em seguida, já sob o comando do filho de Joaquim Rezende, Gastão Ribeiro de Oliveira Rezende, a Fazenda Tanque foi vendida e a criação transferida para a Fazenda Palestina, localizada no mesmo município de Entre Rios de Minas. Naquela época, um garanhão, de nome Rex, destacou-se por ter exercido uma influência marcante na fixação dos caracteres raciais do plantel, que passou a ser nacionalmente conhecido pelo prefixo “Gas”. Essa linhagem, posteriormente, passou a ser alvo de estudos de melhoramento e muito contribuiu para isso o reprodutor Tejo, o qual gerou os famosos garanhões Gas Prelúdio, Gas Montezuma, Gas Astro, Gas Rex II, e Apolo de Santa Maria (todos foram campeões em Exposições Nacionais e Estaduais). Dos reprodutores, Prelúdio foi o mais importante, pois contribuiu de forma relevante na fixação do andamento e de uma melhor caracterização da raça.

Além da Fazenda Tanque, outros criatórios desempenharam papel importante na formação da raça Campolina, destacando-se entre eles a Fazenda Campo Grande. O criatório, que ficava distante da Fazenda Tanque 70 quilômetros, era de propriedade do coronel Gabriel Andrade. Amigo particular de Cassiano Campolina, coube a esse criador a conquista de outro marco importante na raça Campolina: a consolidação de outra linhagem com a Marca F, dos famosos cavalos do sufixo Passa Tempo.

O titular da Fazenda Campo Grande desenvolveu uma tropa que se destacou pela marcha. Além disso, apresentava, na conformação, característica raras: conjunto de frente mais leve, um porto pouco menor em relação ao da linhagem Gas e membros com ossatura mais delicada. Dentre os produtos da seleção “Passa Tempo – desenvolvidos na década de 60 – estavam os famosos reprodutores Xerife e Expoente de Passa Tempo. Esses garanhões geraram dezenas de campeões e campeãs nacionais, contribuindo com uma morfologia mais refinada e um andamento de grande qualidade. Essas foram as marcas importantes deixadas pela linhagem “Passa Tempo” para aprimoramento da raça Campolina.

Conservada e aperfeiçoada com grande cuidado por amigos de Cassiano e selecionadores de Campolinas. a raça ingressou em nova fase com a criação, em 1951, da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Campolina (ABCCC). a qual, naquele mesmo ano, estabeleceu as características da raça (composição genética e padrão oficial que vigoram até hoje (ver abaixo):

Composição genética da raça Campolina

A composição genética da raça Campolina tem por base o sangue das raças Berbere e Andaluz, através do garanhão Monarca (pai da raça) e seus descendentes, e de éguas nacionais.

O Berbere é nativo do Norte da África e de lá muitos animais da raça passaram a ganhar espaço em vários países, entre eles a Espanha e o Brasil. Na Espanha, a raça contribuiu para a formação do Andaluz e, no Brasil, serviu de base para o surgimento dos primeiros equinos nascidos em nosso país. O Berbere é uma raça de animais de sela, sendo que o cavalo é dotado de excepcional agilidade, capaz de cobrir, com grande velocidade, distâncias curtas. Com altura variando entre l,40 m e l,50 m, os animais apresentam, como pelagens predominantes, as cores tordilha, alazã e castanha.

Já o Andaluz, é originário da Península Ibérica. Atualmente, os cavalos dessa raça, nascidos na Espanha, constituem a raça Espanhola e os nascidos em Portugal, a raça Lusitana. É uma das raças mais velha do mundo e foi básica para a formação de quase todas as raças existentes. Os cavalos – fortes e rústicos e com altura oscilando entre 140 m e 160 m –, são de sela, para esporte, serviço ou lazer. Os animais de pelagem escura (castanho e preto) são os preferidos, mas há também os tordilhos e alazões.

Padrão racial

FINALIDADE: Cavalo de sela marchador para o trabalho e lazer.

APARÊNCIA GERAL: Equino de alto porte, tipo sela, proporcional, equilibrado em sua aparência, nobre, atento e dócil, apresentando linhas harmoniosas e bem definidas.

1) Qualidade: Constituição forte e vigorosa, estrutura com musculatura proporcional, ossatura seca e harmoniosa, pele fina, pelos finos e macios.

2) Altura Mínima aos 36 meses: Machos – 1,54 e Fêmeas – 1,45
Ideal para Adulto: Machos – 1,62 e Fêmeas – 1,56

3) Temperamento: Dócil e ativo, de fácil manejo e equitação.

4) Pelagem: Admitidas todas as pelagens e particularidades

5) Proporções: A relação entre os comprimentos de cabeça, pescoço e espádua devem
guardar medidas aproximadas (1:1:1).

A relação entre o comprimento de dorso-lombo e garupa, além de largura de garupa deve guardar medidas aproximadas e ligeiramente menores ao comprimento de cabeça (5/6: 5/6: 5/6: 1).

Altura de cernelha e comprimento de corpo devem guardara medidas aproximadas (1:1).

Altura de costados e vazio subesternal devem guardar medidas aproximadas
(5/6:1).

A altura da cernelha e comprimento do corpo devem guardar a proporção de aproximadamente 2 vezes e meia o comprimento da cabeça (2,5:2,5:1).

CABEÇA

1) Forma: Trapezoidal tendendo a retangular quando observada de perfil; com a extremidade das narinas menor que a extremidade da nuca; proporcional no seu comprimento, largura e altura, harmoniosa e proporcional.

2) Perfil: Retilíneo na região frontal, suavemente convexilíneo no chanfro, sendo a convexidade com início abaixo da linha dos olhos e com término na região das narinas

3) Orelhas: De textura delicada, tamanho e afastamento proporcionais às dimensões da cabeça, paralelas, dirigidas para o alto, móveis em em torno de seu eixo, com pavilhão de abertura mediana e terminadas em forma de ponta de lança.

4) Fronte: Ampla e plana

5) Ganachas: Definidas, afastadas, com contornos ósseos, nítidos e suaves.

6) Olhos e Olhas: Olhos afastados, móveis e expressivos, escuros com pálpebras
finas e flexíveis, olhais pouco profundos.

7) Narinas: Amplas, flexíveis e afastadas.

8) Boca: De abertura média, lábios móveis, firmes e justapostos.

PESCOÇO

Rodado em sua borda superior e côncavo na borda inferior, leve e musculado, com dimensões proporcionais; ligado à cabeça de de forma harmoniosa e seca; bem direcionado, inserindo-se nos terços médio e superior do tronco.

TRONCO

1) Cernelha: Longa e bem definida.

2) Peito: Amplo e musculoso

3) Costelas: Longas e arqueadas, proporcionando um tórax amplo e profundo

4) Dorso: De comprimento médio, reto, musculado, proporcional e harmoniosamente ligado à cenelha e ao lombo.

5) Lombo: Curto, reto, proporcional, harmoniosamente ligado à garupa e coberto por forte massa muscular.

6) Flancos: Curtos e cheios.

7) Ventre: De forma arredondada, harmonioso e pouco levantado na parte posterior.

8) Ancas: Simétricas, bem cobertas e harmoniosas.

9) Garupa: De altura não superior à cenelha, ampla, longa, proporcional, musculada, com região sacral não saliente, harmoniosamente ligada ao lombo e cauda, suavemente inclinada e de contorno suavemente convexo quando vista de perfil.

10) Cauda: Inserção média, bem implantada e dirigida para baixo, crinas fartas e sedosas.

MEMBROS

1) Espáduas: Longas, oblíquas, definidas, musculosas e de amplos movimentos.

2) Braços: Longos, oblíquos, musculosos e bem articulados.

3) Antebraços: Longos, com direção vertical e musculosos.

4) Joelhos: Largos, secos, bem articulados, e aprumados na mesma vertical dos antebraços e canelas.

5) Coxas: Musculosas

6) Pernas: Fortes, longas e musculosas.

7) Jarretes: Secos, lisos, fortes e bem articulados.

8) Canelas: Médias, secas, com tendões fortes, bem delineadas e direção vertical vistas de perfil.

9) Boletos: Largos, definidos e bem articulados.

10) Quartelas: Médias, oblíquas, fortes e bem articuladas.

11) Cascos: Consistentes e hidratados, harmoniosamente ligados às quartelas, proporcionando boa inclinação; arredondados nos anteriores e ovalados nos posteriores

ANDAMENTO

Marcha natural com deslocamentos nitidamente dissociados e tríplices apoios definidos, cômoda, elegante, regular e desenvolta

1) Dissociação: É a movimentação dos quatro membros em momentos diferentes, de forma rítmica e cadenciada, resultando na ocorrência dos diferentes apoios laterais, diagonais e tríplices, permitindo a manutenção do animal sempre em contato com o solo durante sua locomoção, condição básica para que ocorram os tríplices apoios.

2) Comodidade: É a qualidade do andamento pela qual os movimentos do animal não transmitem atritos e abalos ao cavaleiro.

3) Estilo: É o conjunto formado pela postura, equilíbrio, harmonia, elegância e e energia dos movimentos do animal.

4) Regularidade: É a manutenção do mesmo tipo de marcha durante o deslocamento, conservando-a sempre bem definida e estável, no mesmo ritmo e cadência.

5) Desenvolvimento: É a resultante de passadas amplas, elásticas, desenvoltas e equilibradas, de modo a cobrir maior distância com menor número de passadas, em marcha natural e velocidade regular, sem
prejuízo da dissociação e comodidade de sua marcha.

DESCLASSIFICAÇÕES

1) Pseudo albina (gazo) Despigmentação da pele:

2) Olhos: Deficiência de Pigmentação da íris (albinidismo).

3) Temperamento: Animais agressivos ou extremamente linfáticos.

4) Cabeça: Forma triangular.
Perfil da fronte convexilíneo.
Perfil do chanfro côncavo ou excessivamente convexo.

5) Orelhas: Acabanadas.

6) Lábios: Animais com relaxamento das comissuras labiais ou belfo, impedindo a justaposição dos lábios, fazendo com que os lábios inferiores se apresentem relaxados, caídos e móveis ao caminhar.

7) Assimetria da arcada dentária: Prognatismo

8) Pescoço: Borda inferior convexa (invertida ou de cervo).

9) Dorso e lombo: Concavilíneo (lordose, selado).
Convexilíneo (cifose, dorso de carpa).
Desvio lateral da coluna (escoliose).

10) Garupa: Mais alta que a cernelha (menso). Tolera-se a diferença de até 2 centímetros.

11) Membros: Taras ósseas e defeitos graves de aprumos.

12) Sistema Genital: Anorquidia (ausência congênita dos testículos)
Monorquidia (ausência de um testículo).
Criptorquidia (1 ou 2 testículos na cavidade abdominal
Assimetria testicular volumétrica acentuada.
Hipo ou hipertrofia testicular uni ou bilateral.
Anomalias congênitas do sistema genital feminino.

13) Anomaliascongênitas ou hereditárias: Todas

14) Andamento: Animais que não apresentem dissociação durante sua locomoção, e os exclusivos de andadura, marcha ou de trote.

15) Mensurações: Altura de animais adultos: Fêmeas abaixo de 1,45
Machos abaixo de l,54
Altura da garupa superior à da cernelha. Tolera-se a diferença de até 2 (dois) centímetros a mais na garupa.
Proporções de altura e comprimento do tronco
Animal longilíneo, ou seja, com pequena amplitude torácica e longe do chão (tipo corrida).
Animal brevilíneo, ou seja, com amplitude torácica acentuada e perto do chão (tipo tração).

Expansão e comercialização da raça

Com a entrada em vigor do padrão oficial da raça, o Campolina ingressou numa fase de crescimento e negócios.
Atualmente, em constante expansão, o mercado do Campolina acompanha a evolução da própria raça. Com os anos, tornou-se altamente valorizada e é comercializada em leilões ou diretamente nos haras e exposições que, muitas vezes, funcionam como porta de entrada para novos criadores e proprietários.
Apesar de altamente valorizada, a raça Campolina é democrática e oferece um excelente custo-benefício seja para cavalgadas, exposições ou lazer. Com isso, consegue aliar um mercado promissor com os prazeres proporcionados pela criação de cavalos.
Os leilões de elite da raça atingem grandes médias e demonstram a liquidez dos criatórios que trabalham com o melhor da genética, morfologia e marcha. O Campolina difundiu-se por todo Brasil, ampliou seu sólido mercado e atrai, a cada dia, novos investidores.
A crescente procura pela raça é prova da força deste mercado, os criadores estão com dificuldades em atender a demanda e já comercializam coberturas, embriões e óvulos de importantes exemplares da raça. Os investidores acreditam que é amplo o mercado para exportar esse magnífico cavalo.
O Brasil conta, atualmente, com cerca de 60 mil cavalos ativos (com idade inferior a 25 anos). Um mercado que, segundo a ABCC Campolina, chega a movimentar R$ 50 milhões anuais entre leilões e vendas diretas.
Os preços para um animal de passeio variam entre R$ 5 mil e R$ 20 mil reais. Os animais considerados de elite, utilizados para reprodução e em competições, podem chegar a R$ 2 milhões, sendo que o preço varia de acordo com fatores genéticos e premiações.