Origem
Segundo a historiografia da piscicultura mundial, o peixe tilápia (Oreochromis niloticus, Linnaeus, 1758), Fig 01, com cerca de 70 espécies e subespécies distribuídas nos gêneros: Oreochromis, Sarotherodon, Petrotilapia e Tilapia, tem como pátria o continente africano, sendo o rio Nilo e o lago Vitória, seus principais nichos ecológicos primitivos e originais. Registros históricos também indicam que esse peixe já era cultivado em aquicultura pelos egípcios há 4 000 a.C., pela facilidade de criação, alta prolificidade, alimentação herbívora e onívora, resistência a doenças e sabor da carne, considerada especiaria nos banquetes e festas egípcias e romanas.
Expansão mundial
Presente nos cinco continentes que formam o planeta: África, Ásia, Europa e América do Norte e do Sul, a tilápia, dentre os peixes de água doce, foi o que mais imigrou e migrou territorialmente entre os continentes constituindo habitats e biótopos diferentes nas mais distantes e diversas partes do mundo, sendo, por isso, considerado um peixe cosmopolita por excelência. Nessa existência milenar e habitando continentes diferentes, modificou seus aspectos físicos, hábitos e costumes pela necessidade de se adaptar e sobreviver ao clima, temperatura, altitude, longitude, alimentação nos diferentes meios fluviais e lacustres, superando muitas vezes, a alta poluição, contaminação e salinidade dos rios, lagos, lagunas e estuários, ambientes aquáticos diversificados, tornando-se um peixe virtuoso, eclético e versátil do ponto de vista biológico.
Biologia
Adaptada e aclimatada aos ambientes lênticos, (rios, lagos, lagoas, lagunas, represas, açudes e reservatórios) a tilápia é um peixe ovíparo de alta prolificidade, podendo reproduzir até 6 vezes ao ano. A maturidade sexual varia de 06 a 12 meses dependendo das espécies e fatores ambientais climáticos. Os machos são maiores que as fêmeas, apresentando características anatômicas fenotípicas diferenciais bastantes visíveis, dimorfismo sexual.
As tilápias que habitam grandes lagos apresentam uma maturação sexual tardia e um maior peso corporal. Na maioria das espécies o macho faz o ninho, enquanto a fêmea faz a oviposição, incubação dos ovos e desenvolvimento larvário até a fase de alevino na boca.
A tilápia do Nilo em condições ideais de cativeiro, ambientais e nutricionais controladas e equilibradas, tem crescimento rápido e uniforme podendo alcançar 28 cm de comprimento e 0.5 kg de peso aos 08 meses de idade, (TUCH, 1999).
Introdução no Brasil
A tilápia como peixe exótico à nossa fauna ictiológica foi introduzido experimentalmente no Brasil na década de 1950, por uma hidroelétrica de São Paulo, Light, importando a variedade congolesa (Tilápia rendalli). Em 1971, o governo brasileiro, através do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, importa e coloca a tilápia do Nilo (Oreochromis sp) para peixamento dos grandes açudes da Região Nordeste e produção de alimentos. Em 1996, o Brasil importou da Tailândia, a tilápia tailandesa, (Oreochromis niloticus) geneticamente melhorada, variedade que melhor se adaptou às águas tropicais e subtropicais do solo brasileiro. Considerando o ano de 1952, como surgimento desse peixe no Brasil, pode-se afirmar, sem dúvida, que nesses últimos 67 anos, nenhum outro animal aquático, teve o crescimento ponderal e econômico como a tilápia, 223% na última década. (EMBRAPA, 2018)
Características Zootécnicas
Considerado um peixe domesticado, mas ainda novo no território nacional, apesar de existir mais de cem espécies e subespécies, no mundo, nativas e melhoradas geneticamente, apenas cinco despertam a atenção de pesquisadores, piscicultores e empresários: tilápia do Nilo, Moçambique, azul, rendalli e zanzibar, todas por possuírem características zootécnicas expressivas desejáveis semelhantes, bem definidas.
- Ciclo de vida. Ovo, embrião, larva, alevino, juvenil e adulto;
- Longevidade. Vive em média 10 anos. (Bailey, R.G., 1994);
- Dimorfismo sexual. Machos maiores que as fêmeas;
- Alimentação. Na natureza: Onívoro com tendência herbívora. Juvenis alimetam-se de plâncton. Adultos, alimentam-se de plantas, algas, insetos, crustáceos, sementes, frutos e raízes. Em cativeiro: especialmente ração, conforme o estágio de vida;
- Sistemas de Criação. Extensivo, semi-intensivo, intensivo, super intensivo;
- Condições da água. Temperatura – 27º a 32º C; PH – 7.0 a 8.5; Transparência Secchi – 25 a 70 cm; Salinidade 15 a 30 ppt; Oxigênio – acima de 4,5 mg/l.
- Reprodução. Natural – 6 a 8 desovas ao ano, cerca de 800 a 2000 ovos. Artificial – em laboratórios de reprodução conforme a necessidade e demanda do mercado.
- Conversão alimentar. 1.3 de ração/ para 1 kg de tilápia.
- Despesca comercial. 500 a 800 g após 6 meses de cultivo dependendo da espécie.
Espécies mais cultivadas no Brasil
Agronegócio da Tilápia
A tilapicultura e toda sua cadeia produtiva é uma das atividades da piscicultura que mais crescem no mundo. Segundo o Relatório Anual da FAO – (SOFIA, 2018) – a produção pesqueira mundial, incluindo: peixes, crustáceos, moluscos e outros animais aquáticos, foi de 171 milhões de toneladas, com um valor comercial de US$ 362 milhões de dólares. Os peixes de água doce e salgada contribuíram com 54.1 % milhões de toneladas. A tilápia participou com 4.5 milhões de t, ou seja 8.8 % da produção mundial. Essa produção exuberante, principalmente, nos trópicos, só foi possível graças ao melhoramento genético das espécies e os avanços científicos tecnológicos da biotecnologia, destacando nesse particular a reprodução artificial muito desenvolvida na China, Japão, Índia, Tailândia e no Egito, os grandes produtores internacionais.
Agronegócio da Tilápia no mundo
Existente em 140 países do mundo, a tilápia se apresenta com um dos mais promissores peixes de água doce cultivados no planeta. Criada naturalmente em lagos, lagoas, estuários e rios ou em cativeiro, sistema intensivo e superintensivo – tanques-rede, escavados e raceway – tem demonstrado a preferência dos piscicultores e empresários mundiais pela adaptabilidade ao meio ambiente, facilidade de criação, precocidade, prolificidade, resistência à doenças e sabor de sua carne, na alimentação e gourmeteria requintada; bem como, sua pele, na medicina, indústria farmacêutica e artefatos de couro. Além disso, permite a consorciação de criação com outros animais: suínos, peixes, crustáceos (carcinocultura) e/ ou projetos agrícolas, rizicultura.
No contexto mercadológico mundial, segundo o Relatório Mundial da Aquicultura, FAO, 2018, a tilápia já é o quarto peixe mais cultivado no mundo, sendo superada apenas pela carpa (Ciprinius carpius), que ocupa os primeiros lugares; seguida pelo salmão (Salmo solar), 9º lugar e o panga (Pangasius spp), na 11ª posição. Os maiores produtores mundiais de tilápia são a China com 1.8 mi/t, Indonésia 1.1 mi/t e o Egito 800mil/t ano. O Brasil é o quarto produtor com 311,6 mil/t. (Anuário Peixe BR, 2018).
O mercado internacional da tilápia tem a China como maior produtor e exportador e os Estados Unidos como maior comprador. No ano de 2017, a China vendeu aos norte-americanos 57.9 mil/t de peixe inteiro e filetado congelado, num total de US$ 214 bilhões de dólares, a um preço médio de US$ 3.71. (Seafood, Brasil).
Agronegócio da Tilápia no Brasil
Embora introduzida oficialmente no Brasil na década de 1970, a criação da tilápia para fins comerciais e econômicos somente teve início em 1990, no estado do Paraná, que iniciou a tilapicultura para fins econômicos e industrial, (Kubitza, 2003). Para que a atividade pudesse prosperar e atingir os objetivos esperados pelos empresários, piscicultores e governantes, foi preciso organizar o setor, investir em tecnologia e incrementar a cadeia produtiva em todos os seus elos de ligação: insumos, produção, beneficiamento e comercialização. Assim, em Toledo e Assis Chateaubriand, surgiram os primeiros frigoríficos dedicados exclusivamente ao processamento de peixes e tilápia. Desta forma, não tardou para que o Estado se tornasse o maior produtor de peixe, atingindo uma produção próxima a 12,8 mil toneladas apenas em 2002.
O sucesso da criação racional da tilápia estabelecido no Paraná, com apoio governamental, cooperativismo, melhoramento genético das espécies e industrialização dos produtos, foi seguido rapidamente por Santa Catarina, que estabeleceu o MAVIPI- Modelo Alto Vale do Itajaí de Piscicultura Integrada -, criação apoiada pela EPAGRI, consorcio de tilápia, carpa e suíno; por São Paulo com a criação intensiva em tanques-rede nas hidroelétricas e pesque-pagues. Em São Paulo, principalmente, nos pesque-pagues dos grandes restaurantes e resorts, surgiu a atividade esportiva & lazer, com a pesca de anzol de tilápia e outros peixes como: pacu, tambaqui e híbridos desses peixes brasileiros tropicais, promovendo e incentivando a piscicultura nacional de água doce que se espalhou por todo o território nacional.
Apesar dos avanços da plataforma científica, industrial e tecnológica desenvolvida pela tilapicultura nos Estados do Sul, não podemos menosprezar o Ceará, estado com maior tradição no consumo e criação do peixe, com influência em todo o Nordeste, em virtude da produção natural nos reservatórios e açudes públicos, (Castanhão, Óbidos e Orós) fruto dos peixamentos realizados no passado, década de 1990, pelo DNOCS. (Kubitza, 2003).
Produção de Tilápia no Brasil, 2017.
A aquicultura brasileira produziu no ano de 2017, (691.700 t) de peixes em cativeiro, superando a marca de (640.510 t) alcançada em 2016, com perspectiva de crescimento ainda maior em 2018. A tilápia com 375.639 t representou um total de 51.7 % dessa produção (Anuário Peixe-BR, 2018). Os cinco maiores estados produtores são: Paraná (105.392 t); São Paulo (66. 101 t); Santa Catarina (32.930 t); Minas Gerais (27.579 t) e Bahia (22.220 t). A região Sul é que apresenta maior úmero de tilapicultores.
Cultivada em 24 dos 27 estados brasileiros e denominada ” frango d`água brasileiro,” em alusão ao desempenho do frango na pecuária e balança comercial brasileira, o Brasil já é o maior produtor de tilápia da América Latina e 4º do mundo.