Sinonímia
Tísica; peste cinzenta; doença do peito e mal-de-secar.

Etiologia

Bacilos gram-positivos álcool-ácido-resistentes do gênero Mycobacterium. O principal agente etiológico envolvido na tuberculose em primatas sempre foi o M. tuberculosis (bacilo de Koch), porém com o advento das imunodeciências e as novas organizações sociais, a importância da tuberculose causada por M. bovis e M. avium vêm aumentando. M. africanum é um agente importante na África tropical. São resistentes a vários desinfetantes, à dessecação e outros fatores ambientais adversos devido ao alto conteúdo lipídico de suas paredes celulares.

Distribuição geográfica

Não há nenhum país livre. A tuberculose atingiu 10,4 milhões de pessoas em todo o mundo e foi, em 2015, uma das dez principais causas de morte, quando dizimou 1,8 milhão de pessoas, matando mais do que as infecções pelo HIV e a malária. Desses 10,4 milhões de casos novos, no entanto, apenas 6,1 milhões foram corretamente identificados. Índia, Indonésia, China, Nigéria, Paquistão e África do Sul concentram 60% dos casos mundiais da doença. A tuberculose multi-droga-resistente (MDR-TB) fez 480 mil novos casos em 2015, com Índia, China e Rússia concentrando metade desses casos.

O Brasil é um dos 20 países de maior incidência, com 81 mil casos notificados em 2015. A noti cação é obrigatória tanto aos serviços de saúde quanto ao MAPA. M. bovis está presente em bovinos e bubalinos de todo o território, atingindo mais as explorações leiteiras.

Ocorrência no homem

Um terço da população mundial tem o M. tuberculosis em sua forma latente, e 10% destes correm o risco de desenvolver a doença ativa, mas as infecções pelo HIV, a desnutrição, o diabetes e o fumo incrementam este risco. A prevalência de tuberculose humana de origem animal diminuiu historicamente com a implementação da pasteurização do leite e as campanhas de controle e erradicação animais, onde ocorreu. No entanto, como o aumento dos casos humanos de tuberculose por M. bovis ocorre mesmo nos países e populações que erradicaram as infecções bovinas, considera-se a transmissão de M. bovis entre humanos. M. bovis foi envolvido principalmente em casos pulmonares e em adenite tuberculosa em crianças, mas também destacam-se manifestações genitourinárias.

Ocorrência nos animais

Em grande parte dos países é uma das doenças mais importantes em bovinos e bubalinos e em animais domésticos e silvestres. Países desenvolvidos conseguiram erradicar a tuberculose bovina e outros avançaram em seus programas de controle, mas regiões produtoras de leite próximas a grandes cidades têm especial di culdade, principalmente quando associados à alimentação de suínos com resíduo lácteo não-pasteurizado. Humanos podem transmitir M. tuberculosis para primatas, cães, gatos e psitacídeos, e sofrer a reinfecção.

Bubalinos e bovinos são comumente contaminados pelo ar

A doença no homem

Tosse, febre e suores noturnos e perda de peso podem ser moderados por muitos meses, retardando a procura por diagnóstico e infectando mais 10-15 outras pessoas por ano. A tuberculose pulmonar ativa provoca tosse com expectoração e hemoptise, dor no peito e fraqueza, além dos sintomas gerais. A tuberculose miliar pode atingir outros órgãos, podendo ocorrer inclusive neurotuberculose.

A doença nos animais

A infecção é geralmente subclínica, e os sinais clínicos, quando presentes, não são característicos, podendo incluir fraqueza, anorexia, emaciação, dispneia, linfadenomegalia e tosse. Achados frequentes em matadouros, granulomas característicos são mais comumente encontrados nos pulmões e nos linfonodos retrofaríngeos, bronquiais e mediastínicos, podendo ocorrer também nos linfonodos mesentéricos, fígado, baço, membranas serosas e outros órgãos.

Fonte de infecção e modo de transmissão

A exposição aerógena ao M. bovis é considerada a via de infecção mais frequente em bovinos e bubalinos, mas a infecção pela ingestão de material contaminado também é importante. Humanos contraem a infecção primariamente por ingestão, embora a infecção por inalação possa ocorrer. Um humano com a forma respiratória ou urogenital da tuberculose pode retransmitir a doença para o gado, tornando-se epidemiologicamente importante nas fases finais da erradicação da doença animal. Suínos, caprinos e ovinos contraem a doença de bovinos, aves e ocasionalmente, do homem. Entre humanos, a via de transmissão mais importante do M. tuberculosis é a aerógena.

Papel dos animais na epidemiologia

Geralmente a infecção por M. bovis depende de uma fonte animal, não sendo comum a infecção de uma pessoa para outra. Neste caso, a pasteurização do leite e inspeção do abate assumem crucial importância.

O diagnóstico de tubercolose nos bovinos (e em búfalos) é feito individualmente

Diagnóstico

O diagnóstico de tuberculose em bovinos e bubalinos é feito de forma individual e indireta por veterinários capacitados, utilizando testes alérgicos de tuberculinização intradérmica. Em humanos, a microscopia do escarro falha em detectar metade dos casos e tem sido substituída pelos testes rápidos (Xpert MTB/RIF®) desde 2010, e em duas horas detecta, além da infecção, a resistência à rifampicina, um dos antibióticos de primeira linha. A tradicional cultura micobacteriana é difícil e exige medidas de proteção para o laboratorista, mas permanece como golden standard e permite estudos complementares.

Controle

As medidas de prevenção visam baixar a prevalência, e seu sucesso têm cado abaixo do esperado tanto nas populações humanas quanto nas populações animais. Em humanos, a vacinação sistemática de recém-nascidos com o bacilo Calmette-Guérin baixa em torno 20% a probabilidade de crianças serem infectadas, e em 50 a 80% a probabilidade de desenvolverem a doença, caso infectadas. Na prevenção da infecção humana por M. bovis, a pasteurização do leite é importante, mas o controle da erradicação da tuberculose bovina é a única abordagem efetiva. O controle nas populações animais é baseado em identi cação extensiva e repetida, com eliminação de animais positivos; o tratamento é caro e demorado, e como, mesmo em humanos, precisa ser corretamente assistido devido às falhas das drogas ou da adesão e condução correta, tem sido associado ao aparecimento de cepas resistentes. O sucesso na erradicação da tuberculose bovina nos países desenvolvidos foi associado a alguma compensação nanceira para o produtor, por programas de incentivo direto ou por maior margem de lucro de seus produtos no mercado, quando produtos de rebanhos livres alcançam maior valor e maior produtividade. As estratégias devem começar em rebanhos de baixa prevalência e depois estendidos. A cooperação com os serviços de saúde para prevenir pessoas com tuberculose de trabalharem com os animais é importante, bem como a educação sanitária.

No Brasil, a primeira regulamentação de um programa de controle e erradicação data de 1976, com revisão e edição em 2000, baseando-se em adesão voluntária e certi cação de rebanhos livres, estimando-se dez anos para baixar a prevalência da doença em 1%. O Programa de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose foi reeditado em 03 de novembro de 2016, através da Instrução Normativa SDA n.19, com ênfase na capacitação e habilitação dos médicos-veterinários que assistem aos rebanhos, a padronização das ações e dos métodos diagnósticos, o monitoramento dos rebanhos e a inspeção do abate.