A série de filmetes Agro veiculada pela TV Globo em horário nobre está mostrando à população brasileira o quanto a vida nas cidades depende das atividades do campo. E isso é inédito no Brasil onde poucos compreendem a importância do agronegócio para a alimentação, a saúde e a força de trabalho das pessoas, a empregabilidade, e a economia brasileira.
Prestígio
“Grande influência exercida por pessoa ou coisa sobre outra(s) pessoa(s)”.
“Reconhecimento das qualidades de algo ou alguém, admiração, respeito”.
Estas são duas das várias definições do Houaiss para prestígio.
É preciso reconhecer que salvo em algumas situações esporádicas, as atividades do campo – agricultura, pecuária, agronegócio – nunca conseguiram conquistar o prestígio merecido.
Complexo de inferioridade
Alguém pode duvidar de que café e cana-de-açúcar sejam vegetais, produzidos no campo, como atividades tipicamente agrícolas e portanto do âmbito do Ministério da Agricultura?
Pois saibam os mais novos que durante anos essas duas atividades eram controladas, respectivamente, pelo IBC – Instituto Brasileiro do Café e pelo IAA-Instituto do Açúcar e do Álcool, ambos na esfera do Ministério da Indústria e Comércio.
A “explicação” é que sendo duas atividades de produtores milionários e da maior importância para a economia nacional, elas não poderiam estar sob o guarda-chuva de um ministério “menor”, dos capiaus desdentados, do chapéu de palha e do cachimbo de barro.
Ministros quebra-galhos
Salvo raríssimas exceções, tradicionalmente, através dos tempos, o lugar de ministro da agricultura serviu para acomodar empistolados para quem era preciso dar um ministério. E a permanência, no cargo, durava e ainda dura uns poucos meses, tempo insu ciente para que o titular conseguisse entender a complexidade do assunto no nosso país tão grande, diverso e complicado.
E, muito comumente, para dar o ar da sua graça e tentar defender a permanência no cargo, o ministro desandava a fazer alterações na estrutura do órgão que mudou dezenas de vezes de nome, o mesmo acontecendo com as antigas delegacias federais de agricultura, no momento em que escrevo ( início de 2017), superintendências federais de agricultura.
Raramente, o ministro era um pro ssional do ramo, como, felizmente, aconteceu em alguns anos, com os ministros Cirne Lima e Alysson Paulinelli e a criação Embrapa, responsável pela transformação do Brasil num dos maiores e melhores produtores e exportadores de produtos da agropecuária do Planeta. O risco agora é que a Embrapa, cuja e ciência é reconhecida mundialmente, seja “politizada” e comece a deteriorar, como não é incomum no nosso País do Futuro.
Também merecem menção – embora tenha permanecido por pouco tempo no cargo – a ministra Kátia Abreu e o ministro Roberto Rodrigues. Quanto ao atual – Blairo Maggi – que também é do ramo e sabe das coisas, tomara que permaneça no cargo o tempo su ciente para aumentar e consolidar o prestígio do agronegócio.
O negócio que dá certo
A julgar pelos dados concretos, pelos números, pelas estatísticas, parece não ser exagerada a a rmação de que o agronegócio – a verdadeira vocação do Brasil – é o único negócio em que somos competitivos no cenário mundial, com a possível missão de alimentar o mundo.
E o agronegócio – lembremos todos – não é apenas responsável pela produção de comida, com destaque para as carnes, o leite e seus derivados, os ovos e os peixes, que são os alimentos essenciais, de alto valor biológico, o que já não seria pouco.
Destaques da TV Globo
Como a TV Globo vem mostrando, de forma atraente, tecnicamente correta e didática, e com isso prestando um serviço público da maior importância, quase tudo o que usamos vem do campo: as matérias-primas para os tecidos; a energia do etanol; o couro dos sapatos, das bolsas, dos cintos, dos casacos; os óleos vegetais, da culinária; a madeira, do mobiliário e das construções, para citar alguns exemplos. O campo também oferece emprego para milhares de pessoas com uma crescente melhora do nível de vida.
E, ainda, podemos acrescentar as matérias-primas para vários produtos medicinais e de beleza.
Os números
As informações a seguir foram publicadas pelo Presidente da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, Antonio Melo Alvarenga, e re etem a importância econômica do agronegócio brasileiro:
- Nos últimos cinco anos, o saldo da balança comercial do agro atingiu US$ 400 bilhões, valor su ciente para cobrir o dé cit de US$ 330 bilhões dos demais setores.
- A FAO espera que o Brasil aumente sua produção, nos próximos 10 anos, em torno de 35% em grãos, 25% em carnes, 85% nos biocombustíveis e 18% em açúcar.
- Em 2015, exportamos US$ 5,8 bilhões em carne bovina e a previsão é fecharmos 2016 com US$ 7,5 bilhões, valor pouco maior do que a exportação de car- ne de frango (US$ 7,1 bilhões). Em relação à carne suína, a exportação – que está crescendo – foi no valor de U$ 1,3 bilhão, em 2015.
Conclusão
Segundo Antonio Alvarenga, “A despeito do que a rmam alguns pseudoambientalistas, o Brasil possui uma das agriculturas mais sustentáveis do planeta. As áreas destinadas à produção agrícola e à pecuária representam menos de um terço do território nacional”.
Somos um dos mais importantes produtores agropecuários do mundo, temos uma moderna e pujante indústria de alimentos, fabricamos e exportamos equipamentos de produção, industrialização e comercialização de produtos de origem vegetal e animal, somos pioneiros e dominamos a tecnologia da produção de etanol de cana, estamos progredindo na produção de outros combustíveis e tudo isso, destaco, ocupando menos de um terço do território nacional. Podemos crescer ainda muito mais, aumentando também muito nossa participação no PIB.
Mas, então, o que falta? Falta uma compreensão maior dos homens de decisão política e econômica e da população em geral do verdadeiro papel do agronegócio brasileiro e das suas enormes possibilidades. Em última análise, falta prestígio. E nesse sentido, a TV Globo está fazendo um magnífico trabalho