“Tenho ouvido dizer que lutamos tanto por uns poucos quilômetros de areia. Mas esta é a nossa terra e dela brotará o nosso alimento.
Pode ser árduo o trabalho, mas é a terra que temos. Aqui nascerão os frutos de Israel, dos quais os judeus irão se orgulhar.” David Ben Gurion
Não sou judeu. Mas bem que poderia ser, tal a afinidade e a admiração que tenho por esse povo.
Esse respeito, mais que admiração, que não era nova, aumentou depois da viagem que minha mulher, Nury, assistente social, e eu fizemos a “esses quilômetros de areia”, onde nasceram e continuam nascendo, cada vez mais e melhor, “os frutos de Israel dos quais os judeus irão se orgulhar”.
O começo foi muito duro. Alex Cunningham, representante da coroa britânica, no dia 14 de maio de 1948, nem se dignou a transferir, pessoalmente, o governo aos donos do novo país que estava acabando de nascer. Ao invés disso, num gesto de extrema deselegância, preferiu sinalizar de um cruzador que acabara de partir, o fim do domínio britânico sobre a Palestina.
Às quatro horas da tarde do mesmo dia, estava formado o Governo Provisório. David Ben Gurion leu a Proclamação da Independência do Estado Judaico, direito que foi ratificado pela Resolução de Partilha, da ONU –Organização das Nações Unidas.
A imigração estava aberta “com total igualdade entre os habitantes, sem distinção de qualquer espécie.”
Mas, a alegria durou pouco. Apenas oito horas depois da Declaração da Independência as invasões pelos libaneses, pelos sírios e pela Legião Árabe da Transjordânia, pelo Egito e pelos revolucionários da Arábia Saudita, começaram. E nunca mais os israelenses puderam trabalhar com sossego. E foram obrigados a investir em segurança mais da metade do seu PIB.
Não me compete analisar o direito dos palestinos em ter o seu próprio território, porque não me julgo competente para isso.
O que, por mais de meio século dedicado aos assuntos da produção de alimentos, me dá a sensação de conhecer uma boa parte desse assunto foi a leitura dos trabalhos – Geografia da Fome, e Geopolítica da Fome – traduzidos para diversos idiomas, de autoria do médico brasileiro, mundialmente respeitado, Josué de Castro.
Mas com a pobreza do solo, do clima inóspito, da dificuldade na obtenção de água potável, e com o reduzido tamanho do país, o destino do novo Estado de Israel, seria a fome.
Então, como explicar, o recorde mundial na produtividade de leite? Com explicar o sistema, eficiente e muito econômico de irrigação com água, por gotejamento? Como ficou possível e rentável obter água potável de um lago com várias nascentes de água salgada, no fundo? Como é possível criar peixe em estufa? E ser um exportador de tulipas para a…Holanda? E um importante produtor de laranja?
Tem mais. Esses são apenas alguns exemplos que vimos, ao vivo, e que a minha memória de 91 anos (em novembro de 2025) consegue registrar.
Mas como esse progresso todo é conseguido?
Com uma férrea determinação. Por amor ao País. Pela resistência proporcionada pelos “calos” do sofrimento milenar, da alma e do corpo; Pela fé religiosa. Por acreditar na importância da ciência; Pela objetividade.
O leitor, judeu ou não saberá explicar melhor, as outras razões que explicam o sucesso desse povo, nas ciências, na medicina, na música, nas comunicações, nas finanças….
E foi por medo dessas qualidades que um doente mental decidiu – sem conseguir –mas impingindo um inenarrável sofrimento – que os jovens precisam conhecer, para que isso nunca mais ocorra.
Para os que não sabem ou estão esquecendo, o nome deste covarde bárbaro assassino era Adolph Hitler.
No livro que escrevi, como conseqüência, da nossa visita à agricultura de Israel – “Agricultura de Israel – soluções que o Brasil pode Aproveitar” – registro em o “Poema de Israel”, de Cecília Meireles” a frase de Haim Weizman: “Não se oferece um país numa bandeja de prata”.
Na Apresentação do citado livro, o editor escreveu: “Embora seja impossível afirmar com certeza, Luiz Octavio Pires Leal não é judeu. Quem o conhece, sabe também que na área política não se alinharia como um sionista, se é que este homem cujos únicos amores são a terra onde vive, o mar, onde passa as (raras) horas de ócio, a família e a agricultura, possa ser rotulado como isto ou aquilo. O que se pode garantir é que ele é um obstinado.”
Gosto dessas palavras bondosas, de bom tamanho para terminar esta ode.
