Por Eliane Nishijima – Médica Veterinária Especialista em Acupuntura Veterinária

Se a resposta para a pergunta-título foi “SIM”, provavelmente você já testemunhou resultados da acupuntura em você mesmo, em seu pet, em algum paciente, vizinho, celebridade etc.  Se a resposta foi “NÃO”, ainda assim o texto a seguir pode lhe ser útil, porque informação nunca é demais e, quem sabe não lhe traga novas perspectivas?

A acupuntura é parte integrante da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e, diferentemente do que muitos pensam, não é apenas uma terapia para tratar doenças neuromusculares. A MTC tem justamente sua base apoiada na avaliação e tratamento do paciente como um sistema complexo e integrado, jamais fazendo uma abordagem segmentada. Dois pacientes com doença degenerativa do disco intervertebral, por exemplo, podem receber diagnósticos distintos, pois os mesmos serão obtidos a partir de um conjunto de sinais e sintomas e não apenas com relação à queixa principal (que muitas vezes é apenas uma manifestação) e sim ao quadro sindrômico daquele indivíduo (onde geralmente se encontra a raiz dos problemas); dessa forma a acupuntura está indicada para qualquer desequilíbrio homeostático, físico ou emocional, mesmo naqueles que não tem uma doença ocidentalmente diagnosticada. Já a Medicina Ocidental tem caminhado cada vez mais para a compartimentalização do paciente, o que é desejável por sua especificidade, mas lamentavelmente os profissionais tendem a perder a noção do “todo”, sendo necessário o paciente ter um especialista para cada parte de seu corpo (cardiologista, nefrologista, dermatologista etc.), que muitas das vezes trabalha isoladamente sem interagir com os demais profissionais. Por isso são ciências que devem caminhar lado a lado, se complementando e se apoiando. Uma das principais diferenças entre as medicinas é que a medicina alopática clássica trata doenças e a MTC trata doentes, olhando (e tratando) para os fatores que permitiram expressar doença. Uma outra diferença e que é uma das maiores vantagens da MTC é a ausência de efeitos colaterais. Este, provavelmente, é o principal fator, além da eficácia clínica, do sucesso e disseminação da prática, levando a uma procura em constante crescimento por profissionais habilitados em acupuntura veterinária.

Tanto a Acupuntura para Humanos como a Acupuntura Veterinária hoje, em 2025, está amplamente conhecida nos maiores centros urbanos do país e pelo mundo e já é uma especialidade das classes médica e médica veterinária. Mas não foi sempre assim; um caminho árduo, longo e exaustivo foi percorrido para que esse reconhecimento viesse. Publicações científicas (o Brasil é um dos países que mais produzem trabalhos no campo da acupuntura veterinária), uma associação de classe (Associação Brasileira de Acupuntura Veterinária – ABRAVET), confecção de um estatuto, submissão de documentos, estabelecimento de curriculum mínimo nas escolas de acupuntura veterinária foram necessários para efetivar a especialidade, culminando na Resolução nº1051/2014. E ainda assim, mesmo nas capitais brasileiras ainda encontramos profissionais veterinários que ignoram esse feito, alguns chegando a desacreditar da especialidade.

O ensino da acupuntura tem uma peculiaridade: não consta nas grades curriculares das faculdades de Veterinária do País, tendo no máximo uma disciplina optativa apresentando terapias complementares. Isso se deve ao fato de que, por ser uma medicina com bases conceituais diferentes, não pode ser ensinada em pouco tempo. O estudo da acupuntura veterinária na verdade é uma graduação completa, onde se aborda conceitos básicos de Yin e Yang até técnicas avançadas de tratamentos que, embora constem nos livros clássicos antigos de Medicina Chinesa, guardam muita complexidade na execução, e só aquele que domina toda a fisiologia energética, funções de órgãos e vísceras, substâncias orgânicas, circulação energética conseguirá entender e aplicar tais técnicas em seus pacientes. Dito isso, fica claro que uma cadeira optativa na faculdade ou um curso de fim de semana ou 3 meses não o habilitarão a fazer acupuntura. Apenas inserir agulhas em locais doloridos não é fazer a acupuntura clássica; algum resultado até pode ser obtido, pois dor é um quadro de estagnação energética e a colocação de agulhas promove a circulação local (assim como massagear as regiões)… mas só funcionará se a causa não for “interna”.

Pensando nessa interdisciplinaridade com a medicina convencional é recomendável que o aspirante a acupunturista veterinário, antes de buscar tal especialização, tenha vivência e experiências em clínica geral, além de se manter atualizado quanto a tratamentos alopáticos. Essa vivência prévia é de grande valia, pois coloca o profissional em posição privilegiada seja na abordagem do paciente, na entrevista com o tutor, seja na discussão do caso clínico com os demais profissionais envolvidos. O veterinário acupunturista tem um conhecimento extraordinário, e sua visão holística do paciente pode inclusive nortear os colegas de outras áreas em busca de diagnósticos de doenças.

Outras características desejáveis num médico veterinário acupunturista são a empatia, adaptar-se facilmente a situações diversas (a manipulação do paciente veterinário sempre é um desafio) e autocontrole. Geralmente o contato com tutor e paciente é semanal, diferentemente da grande maioria das especialidades.

Filtrar os cursos disponíveis quando você for buscar aprender a Acupuntura Veterinária Clássica se faz muito necessário se você almeja ser um profissional especialista na área. Busque saber se o curso é reconhecido pela ABRAVET, pois ele obrigatoriamente atende aos requisitos básicos de conteúdo, carga horária, etc. Atente para a carga horária de aulas práticas, se o curso oferece práticas na espécie com que você tem afinidade (por ex: nem todos os cursos oferecem práticas em grandes animais ou exóticos). Não é recomendável fazer um curso de pós-graduação generalista de terapias integrativas, se você quer ser um acupunturista, pois não o habilitará à acupuntura. Esses cursos são ótimos para o profissional “integrativo” ter conhecimento de como funcionam as inúmeras práticas e saber quando indicar ou até posteriormente escolher a que ele mais se identifica, mas não conseguem entregar o aprofundamento e vivência necessários para formar um acupunturista.

A especialidade utiliza, além de agulhas, ferramentas simples (no máximo aparelho de eletroacupuntura), nada oneroso para o profissional, pelo contrário. Quanto ao mercado de trabalho a Acupuntura Veterinária está sempre em ascensão, a demanda é sempre muito boa. Há opção de trabalhar em estabelecimentos como hospitais, clinicas e consultórios ou atendimento domiciliar. Geralmente o atendimento domiciliar é mais rentável já que o custo com transporte costuma ser abaixo do percentual do aluguel de um espaço físico. Mas pode ser muito variável, pois depende do número de animais atendidos, tempo de deslocamento, custo de estacionamento etc. Um fator favorável também é a frequência de atendimentos ao paciente, que geralmente é semanal, o que traz uma “fidelização” daquele tutor. Uma sessão de acupuntura dura, em média 30 a 40 min. Valores variam de região pra região.

Em resumo, a Acupuntura Veterinária é uma especialidade que pode trazer uma grande satisfação e sucesso profissional a quem a escolher, agregando conhecimentos extraordinários aos conhecimentos acadêmicos (possibilitando inclusive resolução de casos insolúveis pela medicina convencional), pouco onerosa nos custos com insumos, com possibilidades de renda estável. Não é à toa que completei 30 anos dessa prática e disserto sempre com muito orgulho, prazer e entusiasmo sobre a minha profissão.

E agora, você continua pensando ou passou a pensar em ser um especialista em Acupuntura Veterinária?

Foto: Wikimedia Commons