Resumo
Originário da Índia e introduzido no Brasil, no inicio e durante o Séc. XX, em alguns estados brasileiros: Bahia, Salvador, 1813, sem localização; Rio de Janeiro, 1870, Guzerá importado pelo 1º Barão de Duas Barras, para sua fazenda em Cantagalo-RJ; 1874, importação de uma vaca e um touro Ongole pelo Barão do Paraná, para Sapucaia-RJ; 1878, importação de lotes de Ongole (Bos taurus indicus) atual nelore, por Manoel Ubelhart Lemgruber, para sua fazenda em Sapucaia-RJ, onde esse gado primitivo indiano importado tinha como finalidade zootécnica aumentar a rusticidade das raças europeias existentes, resistência a doenças, melhoria genética e precocidade no ganho de peso ao abate. Foi nessa fazenda, oficialmente que se iniciou os trabalhos técnicos, científicos e zootécnicos para seleção,melhoria e adaptação da raça ao solo brasileiro. Também, nessa Região do Centro Sul Fluminense, por já existir outros fazendeiros e criadores de Zebu, raças Guzerá e Nelore, foi criada em 1919, a Associação Brasileira de Gado Zebu, ABCZ, com sede em Uberaba, reconhecida pelo Ministério da Agricultura, MAPA, sendo oficializada, nessa Associação, o Herd Book Zebu. Em 1940, o Zebu deixou as fronteiras do Estado, migrando para Minas Gerais, cidade de Curvelo, fazenda do criador e pecuarista Geraldo Soares de Paula, onde em cruzamentos sucessivos, “in breeding” continuou a melhoria e aperfeiçoamento da raça. Em 1974, o Zebu saiu de Minas para São Paulo, cidade de Brotas, levado pelo fazendeiro da Fazenda Manah, que adquiriu parte do rebanho de Minas, melhorando as características fenotípicos e genotípicas por cruzamentos (PO, PC, POI), dos trabalhos iniciais zootécnicos, do Rio e Minas, espalhando essa nova raça em todo o Estado. Nasceu, assim, no Rio de Janeiro, Centro Sul Fluminense, essa nova raça na pecuária brasileira, hoje hegemônica em todo o território nacional, produtora de carne, leite e mista, em cruzamentos industriais e comerciais com as raças europeias (mestiços); o carro-chefe da pecuária nacional. O Zebu é o sangue mais difundido na criação de bovinos no Brasil, pelo seu forte vigor genético e heterose.
A dispersão do Zebu no mundo e no Brasil
O zebu (Bos indicus) é o bovino originário da Índia e do Oriente Próximo. Cerca de um terço do rebanho bovino do mundo é do tipo zebuíno e está concentrado no Sul da Ásia. No Brasil, estima-se que das 218 milhões de cabeças, cerca de 78% são mestiços das raças zebuínas, 2% são zebuínos puros, 18.2% apresentam maior influência das raças taurinas, 1.5% são taurinos puros, 0.2% são raças sintéticas Bos taurus X Bos indicus, e apenas 0.1% são formadas por raças nativas ou crioulas originais. (Azevedo. R,M.M Danielle, 2017).
Na Índia as raças zebuínas são extremamente diversificadas o que revela a sua longa existência na região e o alto grau de adaptação que atingiram. Em seu país de origem o zebu tem sido utilizado como animal de carga, tração, montaria e produção de leite, pois a religião predominante e a tradição da maior parte da população não permitem o aproveitamento da carne bovina na alimentação, o gado bovino é considerado sagrado e vive vagando pelas ruas das aldeias e cidades.
No início do século XX, conhecido como “o grande ciclo das importações”, quando os brasileiros intensificaram a importação do gado indiano, o trabalho de seleção e melhoramento do zebu, na Índia, era realizado nas fazendas experimentais mantidas pelo governo inglês e príncipes indianos, zelosos selecionadores. Com o término do domínio inglês sobre a Índia, em 1947, ocorreu um arrefecimento nos trabalhos de seleção e melhoramento do zebu, aumentando as exportações com o intuito de elevar a renda nacional e diminuir a concorrência entre o bovino e o homem na busca por alimentos.
Assim, o gado de giba ou dos trópicos se espalhou pelo mundo podendo ser encontrado: na China, Mongólia, Tibet, Iraque, Iran e em toda a Ásia Menor. Nas ilhas da Malaia, tendo sido introduzidos na Austrália na segunda década do século XX. Na África apresenta gado do mesmo tipo, o que permite a subdivisão dos zebuínos em asiáticos e africanos. Encontra-se desde o norte do Continente africano: no Egito, Líbia, Marrocos, região do Saara, África Ocidental, África Equatorial, Sudão, Etiópia, Ghana, Angola, Moçambique, Rodésia, em quase toda a África do Sul, inclusive na Ilha de Madagascar, são encontrados bovinos da raça e variedades enquadradas na subespécie Bos indicus ou denotando o seu sangue.
Nas Américas. É encontrado no sul dos Estados Unidos e México, em vários países da América Central, do Mar das Caraíbas como Cuba e em muitas nações latino-americanas, principalmente na Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai, até ao norte da Argentina. Mas, é o Brasil, depois da Índia, a nação que possui um dos maiores e melhores rebanhos, em processo de seleção étnica e funcional.
Diversidade genética funcional no Brasil
Hegemônico na pecuária nacional com 80% de zebuínos puros ou mestiços, e com nove (09) raças registradas na ABCZ, pura ou proveniente de Cross, o zebu contribui com a economia brasileira como maior fonte de proteína animal, couro, leite e derivados, ainda, no comércio nacional e internacional de semens, embriões etc, de reprodutores e matrizes, elevando mundialmente o conceito e valor da pecuária e do agronegócio nacional.
Conforme seleção e aptidão zootécnica os zebuínos são assim classificados na ABCZ:
a) Produtores de Carne:
Nelore, Sindi, Indubrasil, Mocho Tabapuã, Brahman, Nelore Mocho e Tabapuã.
b) Produtores de leite:
Gir, Girolando, Guzerá, Indubrasil.
c) Produção mista, dupla aptidão (carne e leite):
Gir, Guzerá e Indubrasil.
Nesse cenário das raças zebuínas brasileiras sobressai, na produção de carne, em todo território nacional, o Nelore e suas variedades, enquanto na produção de leite, o Gir e o Girolando, produto do cruzamento entre o touro Gir e a vaca holandesa, a raça que mais cresce no Brasil, em médias e pequenas propriedades. Geneticamente o Girolando tem 5/8 do sangue holandês e 3/8 do sangue Gir, aproveitando assim, as excelentes condições de lactação do gado holandês e a rusticidade do Gir.
Por que criar Zebu?
Dentre centenas de características zootécnicas observadas pela ABCZ e EMBRAPA, podemos citar e destacar:
Resistência a endo e ectoparasitas proporcionada por algumas características funcionais como pelos curtos, lisos e dendos, que impedem e dificultam a penetração de moscas, bernes e carrapatos;
Possuem eficiência alimentar a pasto: Diversos autores apontam excelentes oportunidades de produção em sistemas intensivos em pastagens com animais de raças zebuínas, resultando em novilhos precoces para a idade ao abate ou ainda de alta produção leiteira por ha. Produtividade que abre novas perspectivas para fazendas pequenas e que precisam ser exploradas intensivamente para remunerar todo o capital investido na atividade, gerando margens de lucro;
Zebuínos apresentam altos índices de desempenho reprodutivo e produtivo, com grande competitividade em climas tropicais, apresentando, dessa forma, ampla aceitabilidade empresarial devido à elevada fertilidade e prolificidade;
Possuem grande longevidade, conferindo maior rentabilidade. As vacas zebuínas são longevas, pois, mediante monta natural, podem conceber mais de 10 bezerros em sua vida produtiva. Elas possuem peso adulto moderado, o que lhes atribui baixo custo de mantença e maior eficiência produtiva em condições de restrição alimentar em comparação a vacas de maior porte. Sob bom manejo, é possível ver touros com mais de 14 anos cobrindo normalmente a campo e com altos índices de eficiência;
As raças zebuínas são extremamente adaptadas a ambientes desafiadores, caracterizados por longos períodos de seca e restrição alimentar, muitas vezes compostos por pastagens de baixo valor nutritivo. Não é à toa, que há rebanhos zebuínos nas mais variadas regiões do Brasil, no árido sertão nordestino e nos pampas gaúchos por exemplo. O baixo custo de produção e elevada produtividade no ambiente tropical abrem novas perspectivas para produtores recuperarem o capital investido. No frio, aumentam a espessura e comprimento do pelo conferindo aos animais, maior resistência às temperaturas baixas;
Ao cruzar com vacas taurinas com zebu, se tem altos ganhos em produtividade, obtidos pela heterose, o vígor híbrido proporcionado pelo cruzamento. Zebuínos oferecem suas diferentes qualidades para agregar valor aos produtos originados de seus cruzamentos. Os animais 1/2 sangue zebu/taurinos, são mais rústicos, mais longevos, possuem maior resistência a carrapatos e demais parasitas que juntamente com a melhor conversão alimentar e eficiência produtiva, resultam na diminuição dos custos de produção e assim, aumento dos lucros. Nos cruzamentos para o corte, os produtos são extremamente precoces, férteis, rústicos, estruturados e de extrema qualidade de carcaça. Nos cruzamentos para leite, as fêmeas possuem alta produção e grande eficiência à pasto, devida a melhor e maior conversão alimentar, sem falar que os machos cruzados podem ser aproveitados para o abate, gerando mais renda aos criadores. (ABCZ, 2018)
Homenagem a Sapucaia-RJ e a família Lengruber
Nesse ano, em que se completa 140 anos (1878 – 2018) da introdução do zebu no Brasil, não podemos deixar de prestar homenagens ao município de Sapucaia- RJ, região do Centro Sul Fluminense, e a família Lemgruber, fazendeiro Manoel Ubelhart Lemgruber, que, visionário e idealizador, foi o pioneiro na introdução do Ongole no Brasil. Foi em Sapucaia, através de trabalhos de adaptação e seleção genética que começou a história do gado Zebu, essa extraordinária raça bovina que transformou e modificou a pecuária Nacional.
Dr. Edino Camoleze – med vet mil EB.
Planejamento, Zoogeografia da América do Sul e Tec. Alim.
Membro titular da ABRAMVET