A produção animal abrange diversas espécies e setores, neste contexto precisamos ampliar a discussão sobre os desafios que se colocam para os próximos anos. Estes desafios estão diretamente relacionados com as diretrizes globais, a quais são intimamente ligados a questão ambiental.

A conhecida conferência do clima formalizado na Conferência das Partes, COP, é o órgão supremo da convenção quadro das nações unidas sobre mudanças climáticas, UNFCCC, reúne anualmente os países signatários para avaliação dos avanços e das ações frente as metas estabelecidas pelos países participantes. A COP acontece desde 1995 em Berlim, Alemanha, e a COP 24 acontecendo em Katowice, Polónia.

A COP 24 tem o objetivo específico de estabelecer o “Livro de Regras” do Acordo de Paris firmado em 2015 durante a COP 23, neste é definida a necessidade de limitar o aquecimento da terra previsto em 2º C até o final do século.

O objetivo da COP é promover a implantação do que foi convencionado de forma jurídica legal e adotar os procedimentos de monitoramento dos resultados por cada país. Além disto visa promover e facilitar o intercâmbio de informações sobre as medidas adotadas para enfrentamento das mudanças climáticas e seus efeitos. (Mais informações em: www.unfccc.int)

Neste novo ambiente global nascem necessidades de desenvolver metodologias técnicas, diretrizes de boas práticas ambientais e sociais, medidas compensatórias e diversas tecnologias para os sistemas de produção agropecuários e agroindustriais.

O setor agropecuário e agroindustrial no Brasil é dito como um dos principais setores nas emissões de gases do efeito estufa além dos impactos ambientais gerados pelas atividades produtivas e industriais relacionadas ao setor. Esta situação exige que o Brasil desenvolva políticas e diretrizes para contribuir na redução dos impactos ambientais, principalmente nas emissões dos gases de efeito estufa.

Outro setor representativo e relacionado ao setor rural é o setor de bioenergia. Setor estratégico frente aos desafios frente as questões climáticas. O Brasil evoluiu muito nas energias renováveis e certamente são fundamentais para a redução dos impactos ambientais.

O setor da produção animal, como por exemplo da pecuária, desenvolve diversas iniciativas para o enquadramento do modelo de produção dentro das novas diretrizes conforme acima descrito. O Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, GTPS, (www.gtps.org.br) através do fomento e difusão de boas práticas vem estabelecendo protocolos e medidas para a adequação dos sistemas de produção pecuário em todo o Brasil.

Um dos trabalhos mais importantes do GTPS é o Guia de Indicadores que estabelece os indicadores de sustentabilidade associados aos indicadores de produção visando a avaliação de desempenho dos sistemas.

As diretrizes gerais são baseadas na legislação ambiental e social do trabalho, reforçada por normas de controles de qualidade como a norma ISSO 14.001, relacionadas ao compromisso de melhoria continua e conformidade legal. As diretrizes permeiam adequações de acordo com as legislações federais, estaduais e municipais.

A responsabilidade social é um dos requisitos de adequação para as boas práticas ambientais, produtivas e sociais. O ambiente de trabalho seguro, uso do equipamento de proteção individual, a capacitação técnica e educação ambiental para os trabalhadores rurais, a relação com as comunidades da região e a relação com todos envolvidos no sistema de produção são os pontos que devem ser internalizados nos setores de produção e industrialização do setor rural.

Nos aspectos da sustentabilidade ambiental e a conservação dos ecossistemas são medidas fundamentais o mapeamento e conservação das áreas de preservação permanente, APP, e reserva legal, RL, o mapeamento do passivo ambiental da propriedade, o inventário da fauna silvestre e o inventário da flora existentes, além de outros aspectos como a manutenção ou recuperação dos corredores ecológicos.

A produção animal tem uma relação de dependência muito grande na questão do fornecimento de agua para os animais. Diversos estudos e pesquisas comprovam que a qualidade e quantidade de agua nos sistemas de produção são determinantes nos índices de produtividade.

As medidas para garantir o fornecimento de agua para os animais são baseadas no uso racional dos recursos hídricos, no mapeamento dos recursos considerando a fonte e a disponibilidade e na elaboração de um plano para o monitoramento e controle da agua.

Exemplo de sistema de armazenamento de água com qualidade garantida para o rebanho

Neste plano deverá ser considerado o registro do consumo de agua nas diferentes áreas de uso, conter as medidas para redução de desperdício, monitorar a qualidade da água através de analises com periodicidade estabelecida, avaliar a destinação das  aguas residuais provenientes de lavagem de equipamentos (principalmente quando uso de agroquímicos), controle dos resíduos domésticos e tratamento das águas para adequação aos parâmetros técnicos necessários para as atividades agroindustriais (como no caso de laticínios ou abatedouros).

Outros aspectos relevantes são relativos a poluição do ar promovidas pelas práticas de queimadas, uso de agroquímicos em pulverizações (normalmente em horários e condições inadequadas, tanto aéreas como terrestres). Algumas medidas são recomendáveis para a redução do impacto da poluição do ar como arborização, quebra ventos, manutenção do solo e uso de equipamentos de proteção específicos para inalação, além da vedação de compartimentos para evitar passagem do ar em locais como refeitórios, casas de trabalhadores e outros.

A gestão dos resíduos deve contemplar nos sistemas de produção animal um plano de coleta seletiva, um correto destino final para os resíduos, políticas de redução, reutilização e reciclagem, além dos controles nas unidades de abastecimento de veículos automotores.

Sistema de manejo de resíduos sólidos e liquidos para produção de leite, todo o resíduo é aproveitado na adubação das áreas de pastagens

A infraestrutura para atender os sistemas de produção animal deve considerar as adaptações bioclimáticas de acordo com as exigências de cada espécie animal. As construções devem estar localizadas e adequadas ao clima local, o uso de estratégias para amenização dos efeitos climáticos como o aumento de temperatura ou excesso de chuvas e o uso de vestimentas propícias ao conforto ambiental dos trabalhadores.

Modelo de cocho adequado para atender o rebanho na prática da suplementação mineral

Além de todas as boas práticas ambientais e sociais citadas acima, também devemos lembrar que as boas práticas de produção animal devem ser seguidas e implantadas nos próximos anos em todos os sistemas de produção animal.

Este novo cenário representa a adequação do setor animal as novas exigências promovidas e consolidadas entre os governos signatários dos acordos climáticos. O Brasil tem um papel de destaque quando consideramos o posicionamento no ranking dos setores pecuário (bovino e suíno) e avícola.