Por Carlos Alberto Magioli, Médico Veterinário

No artigo “A Segurança Alimentar e os Efeitos Climáticos” o sanitarista Claudio Sergio Pimentel Bastos descreve que a implantação de políticas públicas pelas empresas do setor alimentício e a educação dos consumidores sobre escolhas alimentares saudáveis, ​​são algumas das formas através das quais os governos, as organizações internacionais, os cientistas, o setor privado e a sociedade civil trabalham para garantir a segurança alimentar.

Em muitos casos o preço de um alimento é considerado como fator básico na sua aquisição pelo consumidor e por princípio, poder-se-ia considerar o binômio valor econômico e qualidade como diretamente proporcional, ou seja, quanto mais caro um determinado alimento melhor será a sua qualidade em relação ao similar mais barato. Entretanto há de se considerar também que nessa precificação outros fatores podem estar associados como demanda pelos consumidores, oferta ou escassez, a preferência individual do comprador e a concorrência entre industrias ou mesmo entre estabelecimentos comerciais, para produtos similares.

A demanda por alimentos pelos consumidores refere-se ao tipo e a qualidade do que deseja adquirir em um determinado tempo pois, caso haja uma aquisição maior em um período esta pode se traduzir em aumento do preço independente da qualidade. Outras referências são a capacidade financeira do consumidor ou a sua preferência gastronômica.

Já a oferta de alimentos pelas empresas está associada às suas disponibilidades em produzir, a diversidade de tipos, da qualidade, da marca, da apresentação, da composição e de custo associado ao ganho financeiro.

Tipos de Alimentos

A indústria de alimentos sempre busca novos processos tecnológicos a permitirem o melhor e mais amplo aproveitamento das matérias primas, principalmente as de origem animal, pela sua qualidade nutricional e custo na obtenção, de forma a propiciar com que uma maior diversidade de consumidores possa ter acesso aos produtos delas derivados.

A par dos produtos alimentícios tradicionais tanto os de  origem animal quanto os de outras origens e das mais variadas formas e apresentações, atualmente as expressões “tipo”, “a base de”, “similar”, “sabor de”, “preparado alimentício sabor”, “a base de gordura vegetal e amido” e muitas outras são encontradas no comércio varejista com muita frequência, principalmente em estabelecimentos de vendas por atacado, em que esses produtos em embalagens chamadas coletivas são adquiridos principalmente por comerciantes que os vão utilizar para elaboração de outros produtos, nos quais o consumidor não perceberá a utilização destes similares.

Qualidade de Alimentos

De acordo com a Pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Renata Torrezan, a dimensão da qualidade de alimento está ligada à saúde e segurança do consumidor e de como ele vê o produto. Essa qualidade se refere às suas propriedades ou aos atributos capazes de distingui-los e que permitem a sua aceitação, aprovação ou recusa. Já para os alimentos processados a qualidade diz respeito às suas características físicas, químicas, nutricionais, sensoriais e também a outros componentes como o seu custo, apresentação, facilidade de manuseio, consumo e embalagem.

Dessa forma para os alimentos de origem animal processados, principalmente os embutidos o que se apregoa é que no geral, não são adequados com respeito a saúde do consumidor, fato passível de relevância para os classificados com embutidos cozidos que por serem submetidos ao processamento tecnológico pelo calor, permitem a utilização de matérias primas as mais diversas, algumas vezes até de baixa qualidade nutricional ainda que próprias para consumo, além de elementos químicos para conservar, conferir uma cor agradável, estabilizar a composição ou para outras finalidades.

Há de se considerar que tanto as matérias primas quanto os aditivos, no geral, obedecem a uma padronização especificada em legislação nacional ou internacional sobre os seus teores máximos permitidos não estando, portanto, aqui considerados que estejam sendo utilizados de forma irregular ou resultando em eventual fraude no produto final.

É conveniente aqui se reportar ao Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, instituído pelo Ministério da Agricultura e Pecuária para regular os controles de alimentos de origem animal no Brasil, que define como embutidos os produtos cárneos elaborados com carne ou com órgãos comestíveis, curados ou não, condimentados, cozidos ou não, defumados e dessecados ou não, tendo como envoltório a tripa, a bexiga ou outra membrana animal.

Produto Salsicha como Exemplo

Como exemplo de um dos produtos de consumo bastante generalizado e popular no Brasil em refeições e lanches, a salsicha, classificada como produto cárneo industrializado adicionado de ingredientes e que, por ser submetido durante seu processo tecnológico de elaboração industrial a uma fase de cozimento, permite que diferentes matérias primas cárneas próprias para consumo possam ser utilizadas em sua composição, propiciando preços variáveis no seu oferecimento ao mercado consumidor.

Por oportuna é a definição de carne descrita na obra Ciência, Higiene e Tecnologia da Carne dos autores Miguel Cione Pardi, Iacir Francisco dos Santos, Elmo Rampini de Souza e Henrique Silva Pardi como as massas musculares maturadas e demais tecidos que as acompanham incluindo ou não as bases ósseas correspondentes procedentes de animais abatidos sob inspeção veterinária, incluindo as vísceras ou de modo mais amplo os miúdos que tem seu emprego condicionado por suas condições higiênico, sanitárias e tecnológicas.

Portanto frente as definições acima é de se supor que um tipo de salsicha, tomado como exemplo, com composição a partir de matérias primas cárneas diversas como miúdos e vísceras, tenha a mesma qualidade tecnológica e nutricional daquela elaborada a partir de carne bovina ou de frango somente.

Percepção do Consumidor

Muito se comenta sobre o pouco conhecimento do consumidor brasileiro no momento da compra de alimentos, apesar do país ter uma das mais modernas legislações do mundo, o Código de Defesa do Consumidor. Este ato que deveria ter como foco principal a observância pelo consumidor dos seus direitos traduzidos por educação sanitária, geralmente não acontece, sendo o mais comum a escolha pela preferência pessoal por marca ou tipo de produto em que, a qualidade e a leitura atenta das informações do rótulo ficam em segundo plano.

Com respeito as informações expressas nos rótulos, as autoras Paula Maria Nascimento de Oliveira e colaboradoras no artigo, “Percepção do consumidor quanto as informações presentes nas embalagens de Alimentos” registram que a dificuldade do consumidor em adquirir o hábito da leitura do rótulo é observada em relação à compreensão das informações nele contidas,  atribuídas à utilização de uma linguagem técnica cuja compreensão pode ser alcançada apenas por um público mais específico. Também pode-se notar que há uma contradição quanto a finalidade da rotulagem de alimentos, ou seja, ao mesmo tempo que ela possui um papel de comunicação entre o consumidor e o produto, essa compreensão muitas vezes não é entendida por aqueles que possuem um baixo nível educacional, só conseguindo ser pelos mais capacitados, os com melhor conhecimento em relação às substâncias presentes ou os que possuem maior acesso à informação ou poder aquisitivo.

A esse respeito o Código de Defesa do Consumidor prevê que a oferta e apresentação de produtos devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa dentre outras sobre sua origem, características, qualidades, quantidade, composição e prazo de validade, com especial atenção para o preço, este obviamente a critério de quem o vai comercializar.

Assim a escolha pelo preço do alimento a ser adquirido ainda é, em grande parte das vezes, a primeira opção do consumidor frente ao tipo de produto de sua predileção quando lhe é oferecido sucedâneos que aparentemente lhe propicie julgar como semelhantes em qualidade com menores valores financeiros.

De acordo com o artigo “Os preços dos alimentos e a segurança alimentar e nutricional: uma ameaça permanente”, dos autores Eduardo Nilson e colaboradores publicado no Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares, a relação entre os preços dos alimentos e a segurança alimentar e nutricional do consumidor é intuitiva, visto que os preços são fatores relevantes para as escolhas alimentares, sendo esse efeito maior nos grupos de menores rendas, em que os gastos com alimentos representam a maior parte de seus orçamentos reduzidos.

Estratégias de Comercialização

Aqui não se está comparando a comercialização em estabelecimentos diferentes ou em ofertas promocionais onde, eventualmente, pode o consumidor adquirir um alimento de melhor qualidade a um preço menor do que o seu similar de baixa qualidade, mas apenas situações semelhantes como no geral se observa.

É importante também observar que faz parte das estratégias comerciais, o oferecimento de produtos próximos a data de vencimento em áreas específicas do ambiente de comercialização, propiciando ao consumidor os adquirir por preços menores do que usualmente é oferecido. Esta prática não oferece qualquer agravo aos ditames legais sobre o assunto, uma vez que, até o último minuto do último prazo de validade o produto presumivelmente estará próprio para o consumo com a segurança que dele se espera.

Ainda como estratégia de comercialização a influenciar o consumo de alimento específico, está a técnica de marketing que por meios criativos visuais, sensoriais e mesmo emocionais, atinge diretamente a vida do consumidor por induzi-lo a os adquirir por impulso, mesmo não sendo os de sua predileção ou de seu objetivo de compra.

Conclusão  

Desta forma apesar de nem sempre haver uma correlação entre o preço e a qualidade seja nutricional, de apresentação ou de sofisticação de alimentos semelhantes, em que os de melhor qualidade são sempre os mais caros, esta não corresponde a uma regra universal uma vez que, conforme o demonstrado neste artigo, muito fatores sejam tecnológicos, competitivos ou comerciais estão envolvidos no preço final de um produto ofertado ao consumidor.

Assim apenas o preço não garante a qualidade do alimento não devendo ser, portanto, o principal ou o único requisito a ser considerado pelo consumidor mesmo nos casos de preferências pessoais.