Numa avaliação visual de bovinos que são selecionados para ganho de peso, é necessário olhar quais outras alterações estão ocorrendo, como por exemplo, se e melhora do ganho de peso está mudando ou mantendo as características raciais ou mesmo as características reprodutivas. Quando se seleciona para ganho de peso, não se pode esquecer da fertilidade, dos aprumos e de outros atributos correlacionados com a saúde e o bem estar dos animais.

Fazendo um trabalho de seleção de bovinos, específico para ganho de peso, isso significa que não estamos selecionando animais de bons aprumos, ou de bom aparelho reprodutor, devido à baixa correlação genética entre estas características.

As características raciais do bovino são importantes, como o tamanho da orelha, se o chanfro é curto ou longo, assim como várias características ligadas ao bem estar, como é o caso dos aprumos, responsável pela distribuição do peso e pelo equilíbrio do animal ou mesmo o umbigo, pois se muito penduloso pode machucar e resultar em prejuízo em termos de conforto do animal, e principalmente do financeiro, porque diminui a capacidade de reprodução do touro.

A herança das características, cor do pelo, formato da cabeça, formato do chanfro, formato das orelhas, tipo de umbigo e aprumos não está ligada ao peso do animal. Então, é importante fazer a avaliação visual do bovino de forma a garantir que os aprumos, o aparelho reprodutivo e outras inúmeras características estejam corretas e adequadas à reprodução.

Quando se faz seleção de bovinos para peso,também é preciso observar qual é o local do corpo do animal que está sendo modificado com o processo de seleção, pois o acúmulo de peso em algumas regiões, pode ser prejudicial, como, por exemplo o aumento da proporção de dianteiro nos bezerros durante a gestação, que pode causar problemas no parto.

No trabalho científico apresentado a seguir, não constam as observações de mudança na conformação em decorrência do processo de seleção, mas nota-se que o zebuíno selecionado para peso apresenta aumento no volume do corpo, aumento da área do lombo, assim como também ocorre aumento do comprimento das costelas, e os membros ficam mais curtos. Como conseqüência, pode estar despertando um gene deletério ligado ao ananismo, que existe tanto em zebuínos como em taurinos. Também existe o gene do gigantismo, acarretando animais muito grandes ao nascimento e que não conseguem sobreviver. Nenhum destes genes interessa ser perpetuado num rebanho.

Foi realizado um trabalho de pesquisa de avaliação visual com o objetivo de qualificar e de analisar as relações que existem entre o tamanho do bovino, a conformação e as características raciais, assim como as características funcionais. Este trabalho foi realizado juntamente com a equipe do Instituto de Zootecnia (IZ) de Sertãozinho. Durante três anos consecutivos, foram estudadas as correlações genéticas e fenotípicas, além da herdabilidade das características ligadas ao peso e à raça.

Cada bezerro Nelore de 13 meses de idade recebeu avaliação morfológica logo após o término da prova de ganho de peso. No mesmo dia das avaliações, os bezerros foram pesados e tiveram a altura da garupa anotada. A altura da garupa foi medida através de uma régua colocada na balança. Quanto à avaliação morfológica, foram dadas notas entre 1 e 9 para cada parte do corpo, sendo nota 5 se a parte avaliada era normal; se fosse abaixo da média, a nota era de 1 a 4, e acima da média, a nota era de 6 a 9.

Para avaliar as características raciais, as notas foram dadas para a cabeça (incluindo marrafa, chanfro e formato do crânio), o pescoço, o cupim e a pelagem. Para avaliar as características ligadas à produção, as notas foram para o corpo, quarto traseiro e aprumos.

O estudo mostrou como cada uma das partes avaliadas estava ou não relacionada com a herança genética do peso do bovino.

Houve alta correlação simples entre o peso e a altura dos animais (0,77), ou seja, os animais mais pesados eram os mais altos. A correlação genética entre peso e altura foi mediana, ou seja, 0,42.

Neste trabalho, a herdabilidade para peso foi de 0,53, e para altura do bovino foi de 0,47, sendo considerada alta.

As características raciais não apresentaram correlação com o peso do bovino.

As correlações genéticas entre peso e largura do peito, vistas pela frente (0,92), e a largura da garupa vista por trás (0,98) são altíssimas, mostrando forte associação entre touros que transmitem alto ganho de peso para seus filhos, também produzem filhos com peito mais largo e garupa mais larga.

Além da ligação com o peso do animal, a garupa vista por trás também está altamente correlacionada geneticamente à altura do peito (0,79), com a linha do dorso (0,86), com o comprimento da garupa (0,85), além da profundidade torácica (0,83).

Portanto, na escolha visual, é muito importante avaliar a garupa vista por trás.

A largura do peito, vista pela frente, também tem alta correlação genética com a profundidade do animal (0,76), e o comprimento da garupa (0,71).

 

Matéria extraída do livro ”Nelore e outros zebuínos”,
de autoria de Fausto Pereira Lima e Maria Lúcia Pereira Lima