O estudo do exterior dos animais domésticos constitui a parte da zootecnia que trata da avaliação visual do animal, sendo que é mais uma arte do que uma ciência.

Através do estudo dos princípios fundamentais de anatomia, fisiologia, mecânica e patologia dos bovinos, e ainda relacionando tudo isso com a função do animal em um determinado sistema de produção, observa-se que o formato do corpo ou de partes do corpo é mudado ou modificado pela influência de todos estes fatores citados.

O conhecimento do exterior e julgamento associa o formato do corpo à sua importância econômica.

O técnico ou o artista que se dispõe a julgar animais expostos nas exposições agropecuárias, precisa estudar o porquê e a importância das características raciais de cada raça a ele apresentada para escolher aquele indivíduo que melhor representa a raça ali exposta a julgamento, aliada à melhor conformação corporal relacionada com o que se espera quanto à produção, reprodução e aumento da população.

Por outro lado, os produtores e os técnicos ligados às fazendas de produção não precisam ser grandes artistas para serem treinados, e, então, usarem a avaliação visual como uma ferramenta muito útil no dia a dia.

A escolha de um bovino de corte pela conformação deve estar ligada às partes do corpo que têm significativa relação com o peso, como, por exemplo, o perímetro torácico, o comprimento do corpo e a distância entre os ísquios. A altura dos bovinos também está altamente correlacionada com o peso, porém está indiretamente correlacionada com o acabamento da carcaça. Naturalmente, são os membros que mais se relacionam com a altura do animal, mas prejudicam a relação com o perímetro torácico e a distância entre os ísquios. Portanto, a altura dos membros precisa estar em equilíbrio com o tórax do bovino, ou seja, com a profundidade torácica.

O animal é constituído por um conjunto de órgãos em contínua atividade fisiológica.

A resposta econômica de um bovino é determinada pelo grau de intensidade do funcionamento de um ou outro órgão. É o funcionamento dos órgãos internos e a secreção de hormônios específicos que moldam o animal desenvolvendo uma determinada aparência externa.

A atividade de um órgão, segundo a lei da fisiologia, “a função faz o órgão”, resulta na modificação do formato deste animal e também de seu desenvolvmento, imprimindo ao corpo um formato externo que tem correlação com sua função produtiva, de maneira a se poder dizer que há íntima relação entre a conformação exterior do corpo do animal e sua produtividade econômica.

O exemplo mais evidente são os dois tipos de bovinos: o leiteiro e o de corte.

Foram necessárias centenas de anos de seleção, consumidas muitas gerações de bovinos, bem como gerações de criadores e técnicos para se chegar ao padrão dos bovinos de produção que se têm hoje.

A seleção dos bovinos com a função de produzir muito leite, determinou o desenvolvimento de um corpo com pouca musculatura e muitos ossos à mostra. A seleção dos animais especializados em produzir leite, isto é, a seleção do conjunto de órgãos que levam ao aumento da produção leiteira, necessariamente, deixa o animal de corpo mais anguloso.

Ambos os tipos, o leiteiro e o de corte, surgiram a partir de um ancestral comum que através de estudos paleontológicos indicam vir de bovídeos que surgiram na Ásia e depois migraram e adaptaram-se a várias partes do mundo,e foram classificados como Bos namadicos ou Bos primigenius namadicus,que evoluiram para o zebu atual.

Na Europa, os ancestrais foram classificados como Bos primigenius, o arouque antigo, entre outras classificações que receberam de vários pesquisadores. Também, a partir do trabalho de seleção contínua do bovino europeu, surgiram os tipos de corte e de leite.

A apreciação do exterior do animal apresenta algumas dificuldades, devido à complexidade do desenvolvimento do mesmo e de suas funções econômicas.

As formas externas dos bovinos podem trazer confusão, e a avaliação pode ser prejudicada pela desarmonia das diversas partes do indivíduo, principalmente se o bovino estiver em crescimento.

Outros fatores podem alterar o resultado da avaliação de um bovino, como o seu temperamento, assim como o seu estado de saúde pode influenciar no exterior e interferir no julgamento.

A mente e o comportamento do juiz também são importantes, pois muitas vezes a vaidade pessoal ou mesmo algum interesse financeiro do avaliador do animal pode ter grande influência no julgamento. Desta forma,um juiz ou avaliador de animais precisa, necessariamente, ter conhecimentos teóricos e práticos aliados a critério imparcial.

 

Matéria extraída do livro “Nelolre e outros zebuínos”,
de autoria de Fausto Pereira Lima e Maria Lúcia Pereira Lima.