Segundo nos ensina Ivan Wedekin, autor do importante livro “Política Agrícola no Brasil”, que contou com a colaboração de vários especialistas de renome, com prefácio do respeitado Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e consultor internacional de temas relativos ao agronegócio, não é apenas a inflação que influi na margem de lucro do produtor. Outros fatores também afetam os seus índices.
“Os mercados agropecuários são mais competitivos do que os mercados de produtos industriais e de serviços, e isso é o resultado da combinação de mercadorias mais homogêneas, produção dispersa, do ponto de vista geográfico, e grande número de produtores.”
Outro aspecto destacado pelo autor, considerado importante, é que os preços dos produtos agropecuários são mais voláteis do que os dos produtos da indústria.
“A produção agropecuária é influenciada pelo clima, que determina a sazonalidade da produção (os períodos de safra e entressafra). E o clima também pode causar choques de oferta e grande variação nos preços dos produtos agropecuários.”
Atividade de risco
A realidade – digo eu – é que as atividades do agronegócio sempre implicam riscos.
Não é fácil compreender as razões que explicam o fato de pessoas dos mais variados níveis de cultura e recursos financeiros arriscarem a produzir alimentos, comodities exportáveis e outros bens indispensáveis. Tradição familiar? Vocação irrefreável? Grande espírito empreendedor? Amor ao risco? Expectativa de grandes lucros? Uma combinação disso tudo?
Por outro lado, é preciso levar em conta que, as modernas tecnologias, resultantes, em grande parte, do trabalho da Embrapa, permitem a redução dos riscos a um nível suportável, assim como a disponibilidade da assistência técnica de médicos veterinários, zootecnistas, engenheiros agrônomos e outros profissionais de nível universitário e de nível médio.
Destaco o trabalho dos profissionais de nível médio, das mais variadas especialidades e habilidades, que vêm prestando serviços relevantes ao agronegócio brasileiro. Lembro ao leitor, que um exército não é composto basicamente de generais (os profissionais de nível superior) e sim de pessoal de nível “inferior” (os técnicos de nível médio). São eles que “carregam o piano”, que fazem as coisas acontecer.
O endeusamento das profissões ditas de nível superior – ou nem tanto – como garantia de sucesso e felicidade, é um grande erro que permanece vigorando aqui entre nós. Mesmo porque, raramente um curso superior, universitário, faz jus a essa classificação. Exemplo que me ocorre é o funcionamento – autorizado pelo MEC – de mais de 500 faculdades de Veterinária – várias com ensino à distância – funcionando, ou quase isso, em praticamente todo o território nacional. Essa quantidade é superior a TODAS as faculdades de Veterinária existentes no mundo.
Deixo no ar as seguintes perguntas:
1 – temos a quantidade de professores, realmente habilitados, necessários para essa quantidade de faculdades de Veterinária?
2 – como explicar que um país, como o nosso, um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo (cerca de 150 países, com um bilhão de consumidores dos nossos alimentos) tem uma grande e crescente parte da população passando fome total, e outra subalimentada?