A influenza aviária é uma doença cosmopolita, de elevada transmissibilidade e letalidade, provocando a morte das aves em até 48 horas, e considerada doença cuja notificação é obrigatória às autoridades sanitárias.

Manifestações clínicas como queda na postura, diarreia, secreção nasal, hemorragia nas pernas, apatia, incoordenação motora, edema de crista e barbela podem ser observadas e estão relacionadas ao grau de patogenicidade do vírus envolvido. Logo, sinais clínicos brandos estão ligados às formas de baixa patogenicidade e sinais mais marcantes e de alta disseminação no lote, às formas de alta patogenicidade que fazem com que se tenha uma perda imensurável no plantel, gerando prejuízos econômicos e impactando no comércio externo. Além desse contexto, também deve ser ressaltado a possibilidade e o risco de transmissão aos humanos pelo contato direto com as aves (vivas ou mortas) sendo, então, uma doença de caráter zoonótico e, principalmente, de cunho ocupacional para aqueles que lidam diretamente com os animais.

Até o ano de 2022 a influenza aviária não estava presente no Brasil. Porém, em maio de 2023 foi decretado estado de emergência zoossanitária de 180 dias devido à detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) no país (Figura 1). Apesar do cenário atual, o comércio internacional continua mantido, pois o país permanece com a condição de livre de IAAP na criação comercial. Contudo, a preocupação permanece por conta da doença se disseminar rapidamente pelo contato direto com outras aves infectadas ou fômites que contenham o vírus. As aves selvagens migratórias são hospedeiros naturais e reservatórios. O vírus se encontra viável por longos períodos, principalmente em temperaturas mais baixas, e tem como fonte de infecção as fezes e as secreções respiratórias e todo e qualquer objeto que tenha sido contaminado por essas secreções e excreções.

 

Figura 1: Mapa com os focos de Influenza Aviária nas Américas. Fonte: embrapa.br/suínos-e-aves/ia (acesso em 12/06/2023).

Atualmente, o MAPA elaborou um boletim epidemiológico que está sendo constantemente atualizado e que passa o panorama da doença, sua disseminação no Brasil e também está promovendo educação sanitária por meio de cartilhas com linguagem acessível aos produtores rurais e a sociedade como um todo para identificação e notificação da doença. Nesse sentido, nota-se que a vigilância para influenza aviária no país está sendo realizada com tanta acurácia que no dia 27 de junho, foi divulgada na plataforma oficial do Ministério da Agricultura, o primeiro caso da doença em aves de subsistência no estado do Espírito Santo e sendo ele o maior em números de casos confirmados (28 casos) em aves silvestres. Além disso, até o final do mês de junho, foram confirmados casos de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade em aves em estados como Bahia (4), Paraná (7), Rio de Janeiro (13), Rio Grande do Sul (1), Santa Catarina (1) e São Paulo (7) (Figuras 2 e 3). Com a situação da doença presente no país, o plano de contingência de sanidade avícola em relação à influenza aviária, já está sendo posto em prática desde as suspeitas da doença até a confirmação ou descarte de casos. Nele contém instruções de ações a serem realizadas por meio de etapas, sendo a investigação de casos suspeitos, vigilância passiva pela investigação de mortalidade excepcional de aves silvestres, vigilância ativa em avicultura industrial, vigilância passiva em aves de subsistência em áreas de maior risco de introdução da doença e vigilância ativa em compartimentos livres da doença. A partir dessas avaliações é possível identificar os casos e tomar as medidas cabíveis. Um exemplo disso, é a suspensão em todo território nacional de eventos com aglomerações de aves pela Portaria MAPA nº 572 de 29/03/2023.

Figura 2:  Localização dos focos com coletas de amostras para confirmação de IAAP. Fonte: Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves (SRN) (agricultura.gov.br) (acesso em 07/07/2023).

 

Figura 3: Quantidade de investigações e casos confirmados por semana. Fonte: Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves (SRN) (agricultura.gov.br) (acesso em 07/07/2023).

Segundo o boletim “Gain Report”, feito pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a expectativa com relação ao Brasil, em 2023, seria uma produção totalizando 14,825 milhões de toneladas de carne de frango. Desse total, 4,6 milhões estariam voltadas para a exportação, valor que supera os 4,447 milhões exportados em 2022. Nessa perspectiva, esses números mostram que, se os casos de Influenza Aviária chegarem às granjas, o país terá um prejuízo econômico bastante significativo. Ademais, com o intuito de evitar esse prejuízo econômico, algumas medidas de controle têm sido implementadas e a vacinação de animais de granja foi colocada em pauta como uma dessas medidas, visto que, aves silvestres e aquáticas são de difícil vacinação. Porém, essa proposta ainda não foi aceita por alguns motivos, dentre eles o alto custo, a questão do vírus de influenza possuir genoma RNA o que faz com que a vacina não seja tão eficaz pela constante mutação do mesmo e, principalmente, pelo fato dos outros países saberem que se há vacina, há a doença circulando no país e logo, não comprariam essa carne ou comprariam por um preço menor, havendo então uma queda da exportação de carne de frango, impactando diretamente o PIB do Brasil.

Mesmo com todo esse panorama de desafios, observa-se que Brasil possui capacidade para enfrentar a influenza aviária caso ela atinja plantéis comerciais por existir um plano de contingência que aborda tudo o que deverá ser feito para garantir a confirmação e prevenir o surgimento de novos casos, além da ajuda financeira ofertada pelo governo de R$200 milhões que será aplicado no Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA). Portanto, é de suma importância que a prevenção seja feita, também, de forma individual ao não tocar em aves doentes ou em suas carcaças, além da notificação  pelo site http://www.gov.br/agricultura/pt-br/sisbravet/, caso haja detecção de aves com dificuldade respiratória, pescoço torto, diarreia, problema de locomoção ou alta mortalidade de aves.

Fontes de Consulta

Influenza aviária – Portal Embrapa. Disponível em: <https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/influenza-aviaria>.

INFLUENZA AVIÁRIA (IA). Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/pnsa/influenza-aviaria>.

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Brasil chega a 50 casos de gripe aviária em aves silvestres, com primeiro caso confirmado em Santa Catarina. Disponível em: <https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/granjeiros/353048-brasil-chega-a-50-casos-de-gripe-aviaria-em-aves-silvestres-com-primeiro-caso-confirmado-em-santa-catarina.html>. Acesso em: 7 jul. 2023.

 

Layla Cerqueira Lameira,  Maria Eduarda Marinho Carvalho B. de Andrade e Thaina Cerqueira são discentes do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ.

Artigo sob a supervisão de Clayton B. Gitti – Professor do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ