Alimento é a necessidade básica da humanidade. Contém os nutrientes sem os quais nenhum ser vivo pode existir.

Sem entrar em  detalhes técnico-científicos, da produção ao consumo, serão mencionadas somente as atividades que no decorrer de milênios de civilizações chegaram ao que hoje é chamado de agronegócio.

Como seus ancestrais primatas da África, o homem, como todo ser vivo, tem duas funções básicas: alimentação, para manter o indivíduo e reprodução, para manter a espécie.

Para sua manutenção individual, o homem primitivo era apenas colhedor para os alimentos de origem vegetal e caçador para os de origem animal. Em alguns lugares do planeta ainda existem pequenos grupos humanos que vivem dessa maneira. Exemplo disso são as poucas tribos indígenas ainda não contactadas em áreas remotas da Amazônia.

Como resultado da observação continuada dos fenômenos naturais, as populações primitivas, como necessidade biológica, adotaram práticas de conservação dos recursos naturais dos quais dependiam para sua sobrevivência, incluindo fontes de alimentos vegetais e animais. Desse modo, podiam sobreviver em ambientes intertropicais, desnudos e procriando, como seres da floresta. Se o grupo aumentava, era necessária a movimentação para novo território porque os recursos alimentares não eram suficientes. Daí a necessidade de novas terras, permanecendo até hoje o conceito de “terras indígenas” (em muitos casos a denominação não é mais imprenscindível sob esse aspecto).

Logo os humanos verificaram que era melhor cultivar certos vegetais (agro) do que simplesmente colhê-los (origem da agricultura). Os animais que eram somente caçados, podiam ser criados. Tinham como símbolo o boi (pecus). Assim o atestam as pinturas rupestres nas cavernas de Altamira (Espanha) e Lascaux (França). Além da carne abundante, era dócil, servia para trabalho. Daí nasceu a pecuária.

A população humanacresceu até chegar aos atuais 7 bilhões e meio de habitantes, a grande maioria, (quase metade), nos países do BRICS.

Bilhões
População mundial7.575.333.000
População BRICS3.161.841.212
China1.393.995.260
Índia1.393.995.260
Brasil212.635.700
Rússia146.449.122
África do Sul55.998.530

Fonte: Country Meters, Dez. 2017

A maior parte desses 7 bilhões e meio já vive em grandes aglomerações, as cidades. E estas só tendem a aumentar. A urbanização mundial e a de futuro próximo exigem que os alimentos de origem animal ou vegetal cheguem a seus habitantes em grandes quantidades e com boa qualidade.

Projeções das Nações Unidas indicam  o aumento da população global para 9 bilhões e 600 milhões no meio do século (apenas daqui a 32 anos) e 10 bilhões e 900 milhões no final do século.

A produção brasileira de alimentos de origem animal ou vegetal está pronta para participar do esforço de suprir a população mundial atual e futura. Somente em proteínas de origem animal, a produção em 2017 foi superior a 26 milhões de toneladas. Por outro lado, o total da safra vegetal em 2017 foi superior a 240 milhões de toneladas, com destaque para soja e milho, com mais de 227 milhões de toneladas. Assim, de potência alimentar¹, o Brasil poderá ser potência econômica por produzir a grande quantidade de alimentos para um mundo faminto².

Os animais terrestres (bovinos, suínos, aves) e até certo ponto os aquáticos, produtores de alimentos, devem receber rações de origem vegetal, principalmente as oriundas de soja e milho. Daí a tremenda produção desses dois grãos que, além disso, constituem grande parte da alimentação humana em muitos países (Fig. 1).

Fig. 1 – Produção brasileira de seis alimentos importantes (2017)

As considerações sobre a produção de alimentos referem-se à situação atual. Os investimentos previstos destinam-se a melhorá-la e aumentá-la, com retorno no curto prazo.

Estamos vendo a história no momento em que está sendo feita (History in the making). Brevemente ela será passado.

Os veterinários têm papel importante nesse processo de expansão e aprimoramento da produção agropecuária brasileira.

A começar pelos detalhes da seleção dos reprodutores – as modernas tecnologias relacionadas com o encontro óvulo-espermatozoide e com o desenvolvimento do embrião. Este poderá ser manipulado de várias maneiras: obtido fora do animal (in vitro), dividido em mais de um (clivagem), desenvolvido em mães postiçasou nele serem retiradas ou introduzidas características indesejadas ou desejadas (transgênese, CRISPR). Essas tecnologias são de uso corrente nos grandes estabelecimentos produtores.

Em destaque, a grande quantidade de veterinários necessária para garantir a saúde animal em todos os seus aspectos, incluindo o que se chama de uma única saúde: humana – animal – ambiental, com destaque para a saúde dos animais produtores de alimento.

Outro grande setor em que os veterinários são indispensáveis é constituído pelo grande leque de ações englobadas sob o título genérico de Inspeção de Produtos de Origem Animal, simbolizadas no respeitado “Serviço de Inspeção Federal”, o SIF, instituído há um século.

As ações dos veterinários são sintetizadas na expressão “Do pasto ao prato” ou na mais técnica: “Análise de perigos e pontos críticos de controle”.

Os alimentos de origem aquática atualmente produzidos no Brasil são em muito menor quantidade do que os de origem terrestre. Entretanto, deve ser considerado que, na modernização do agronegócio, além dos animais terrestres, devem participar os aquáticos. Neste ponto, o Brasil tem a perspectiva de ampliar seu papel de fornecedor de proteínas nobres, como as de peixes, e também os crustáceos e outros animais aquáticos obtidos em cativeiro, como o camarão no Nordeste.

Os peixes de água doce ainda não estão sendo criados em quantidades expressivas, e o número de veterinários interessados em aquicultura é pequeno. Esse relativo atraso é até certo ponto benéfico, porque o Brasil poderá desenvolver a aquicultura a partir de tecnologia atualizada e obtida em países avançados no setor, com destaque para a China, líder absoluta, quer com os animais obtidos da vida livre, quer com os criados em cativeiro. A criação de peixes em redes é um bom início.

A mudança de hábitos alimentares das populações humanas é um aspecto a considerar quanto ao investimento que, por definição, visa ao futuro.

Essa mudança tem ocorrido e continuará ocorrendo por pressão econômica. Pessoas com menos recursos demandarão alimentos mais baratos, os quais por sua vez são aqueles que custarão menos para sua obtenção.

Vários fatores são importantes para o custo de produção como o preço da terra e das instalações, maquinário, insumos, cuidados médicos, etc. Ainda mais se a criação é terrestre ou aquática.

A parte mais importante dessa cadeia é a chamada conversão alimentar, ou seja, quanto o animal produtor devolve em alimento o que lhe é fornecido como ração. Isso pode ser sintetizado numa imagem simples (Fig. 2). Ela explica também porque grande parte da humanidade está consumindo carne de frango (o Brasil é o maior produtor-exportador), e porque a China, que tem quase um quinto da população mundial, em grande maioria urbana, é o maior produtor de pescado (e o nosso maior importador de frango). Vê-se claramente que o próximo salto no consumo de proteína nobre, em nível universal, será o de peixes, reiterando a necessidade de o Brasil investir nessa área de produção.

Fig. 2 – Mudanças de hábitos alimentares por pressão econômica de produção

É necessário pensar no longo prazo e agir dentro desse espírito empreendedor que necessita de investimentos.

A conservação da biodiversidadetem sido uma preocupação constante nos últimos anos. As acusações de que o Brasil, para obter os excelentes resultados atuais de sua produção agropecuária, está “… destruindo sua biodiversidade e desmatando a Amazônia …” não têm fundamento.

O país faz grande esforço para que essa produção não cause grande impacto na biodiversidade. Mais de ¼do território nacional é constituído de Unidades de Conservação e Terras Indígenas, além de muitos outros tipos de áreas protegidas.

Quanto à Amazônia, ocupa 60% do território nacional (5.1 milhões de km² em 8.5 milhões). Nela pode caber metade da Europa. As Unidades de Conservação e as Terras Indígenas nela existentes representam mais de metade de seu território. “()são 419 Terras Indígenas (115 milhões de hectares) representando 23% do território amazônico…” (ISA, 2014).

É principalmente no bioma Cerrado que se concentram as atividades agropecuárias atuais. São cerca de dois milhões de km². Depois da agropecuária ocupar grande porção do Cerrado no Centro-Oeste, as atividades expandiram-se para o norte do bioma, na fronteira quádrupla dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (MATOPIBA), uma região até pouco tempo quase completamente abandonada.

Tecnologias modernas serão usadas com os próximos avanços da ciência. As inovações permitirão ampliar o limiar. Alimentos “sintéticos” como “carne” artificial serão obtidos a partir de células-tronco ou de vegetais, estes produzidos por meio de clorofila artificial. Essas perspectivas não são imediatas, mas poderão entrar rotineiramente no futuro, com uso generalizado para produção animal e vegetal em larga escala, desde a genética molecular a drones para agricultura de precisão nos grandes empreendimentos agropecuários participantes do agronegócio brasileiro, com a utilização de tratores e maquinária moderna. A digitalização do agronegócio brasileiro é um fato.

A agricultura de precisão é um dos aspectos mais importantes do agro moderno: Atuar onde é preciso. Com isso, evitando gastos desnecessários além de economia de área a ser cuidada especificamente. Tecnologias inimagináveis há cinco anos já são usadas.

Os grandes agricultores brasileiros responsáveis pela agropecuária em larga escala, com ou sem auxílio governamental ou de universidades, estão usando essas modernas tecnologias. Isso é um avanço considerável, mesmo em países desenvolvidos. Por exemplo, no número de dezembro de 2017 da revista “Scientific American”, uma sessão especial é dedicada às “10 principais tecnologias emergentes em 2017“. Nela está incluída a agricultura de precisão, como já é praticada no Brasil. Faltou mostrar os notáveis adiantamentos empregados no Brasil sobre reprodução animal, incluindo clonagem e outras tecnologias em nível biomolecular, sem falar na saúde única: humana, animal e ambiental.

A declaração da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) de que o Brasil está livre da febre aftosa com vacinação (em Santa Catarina, sem vacinação) confirma o fato de que há mais de dez anos nenhum caso da doença foi observado no país.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tem o mérito e a satisfação de ver coroados os esforços desenvolvidos seguindo as normas e recomendações da OIE, PAHO/WHO, FAO e WTO*. Mais ainda: são merecedores dos elogios recebidos pela declaração milhares de participantes do agronegócio brasileiro, entre eles, pecuaristas, criadores, veterinários, agrônomos, pesquisadores, professores e funcionários governamentais ou privados que contribuíram para esse resultado.

As campanhas de vacinação foram eficientes, empregando bilhões de doses de vacinas produzidas em laboratórios nacionais.

Também mostra o esforço concentrado para manter essa condição num país com mais de oito milhões e meio de quilômetros quadrados e uma população de animais suscetíveis de mais de 215 milhões de bovinos e mais de 40 milhões de suínos.

As palavras com que o Brasil foi agraciado – livre de febre aftosa – repercutem direta ou indiretamente em nível mundial pelo papel que o país representa na produção de alimentos. Não apenas no que se refere às carnes, mas também a outros produtos brasileiros de origem animal ou vegetal que até então eram passíveis de suspeita por serem procedentes de país com febre aftosa.

Por esses motivos, e com redobrada satisfação, o país vê reconhecido seu esforço com a declaração de estar livre da febre aftosa. Ao mesmo tempo agradece a OIE e a outros organismos internacionais pelo apoio que sempre recebeu.

A abrangência do agronegócio é impressionante. Para o público em geral, ele significa alimento. Entretanto, é muito mais do que isso. Mesmo nesse aspecto, é mais importante do que os números mostrados como exemplos para carnes e grãos na Fig. 1. Para alimentos de origem animal: laticínios, ovos e mel. Para os de origem vegetal: café, açúcar e suco de laranja, os quais também constituem grande parcela da economia nacional.

Fora da parte alimentar, o agronegócio expande-se com dezenas de atividades entrelaçadas, usando tecnologias que evoluíram durante milênios. Os respectivos humanos que as desenvolveram as utilizam e delas necessitam, além dos alimentos e de outros produtos de origem animal ou vegetal, também indispensáveis para o mundo atual (couro, lã, madeira, celulose, borracha, algodão, etanol).

Além do campo, onde se desenvolve sua parte mais aparente, com o maquinário agrícola, o agronegócio está presente nos transportes, nos laboratórios, nas redes distribuidoras e até nos restaurantes e lares onde os alimentos chegam para o consumo final. Sem falar nos escritórios, fábricas de maquinária agrícola e bolsas de valores.

É nessa imensa cadeia que existem oportunidades de investimento. Em sua maioria para desenvolver atividades já existentes. Isto sem falar nos grandes empreendimentos de apoio à agropecuária, como fábricas de maquinário agrícola, laboratórios de produção de fármacos e produtos biológicos tais como antibióticos e vacinas (bilhões de doses são necessárias para manter o país livre da febre aftosa com vacinação). Em destaque, é urgente a melhoria da infraestrutura para o escoamento das safras e alimentos da produção aos centros consumidores ou exportadores (rodovias, ferrovias, hidrovias e portos).

Uma figura de retórica bem caracteriza a situação atual em que, apesar das eventuais e transitórias dificuldades políticas e de corrupção, “o agronegócio brasileiro é um rolo compressor que segue adiante atropelando ou contornando dificuldades“. Novas mentalidades usando novas tecnologias.

O agronegócio brasileiro pode expandir-se mais com investimentos para vários de seus aspectos. Como garantia, além das condições ambientais (clima, ausência de catástrofes, solo e água), há o homem brasileiro trabalhador, que já provou sua capacidade com a situação atual do agronegócio brasileiro.