A Produção Nacional e o Mercado Externo
Alimento essencial presente na dieta diária dos brasileiros, o ovo é uma fonte nutritiva que, apesar de não ser uma novidade no mercado, vem conquistando novos nichos para comercialização como a indústria alimentícia, as redes de fast foode o mundo fitness.
Essas novas tendências são refletidas nos recordes da produção nacional. No último ano de 2017, a produção de ovos no Brasil ultrapassou o patamar de 604 milhões de dúzias, um aumento de 6% quando comparado a 2016.
Conduto, esse crescimento de produção não é recente. Analisando o histórico da produção brasileira nos últimos 30 anos, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país apresentou um constante aumento, com pequenas retrações, ao longo dos anos, refletindo em um acréscimo de 47% só na última década.
Entre os maiores produtores nacionais, destacam-se os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, que juntos detém mais de 65% de total a produção do país.
Tabela 1- Ranking dos maiores produtores de ovos no Brasil em 2017
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), hoje, o consumo per capta no ano do brasileiro é de 192 ovos, maior índice já registrado na história do setor, com previsão de aumento para os próximos anos refletindo a volta do aquecimento da economia nacional, como indicado pelo aumento do Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Fundação Getúlio Vargas, que saltou 4,6 pontos em março de 2018, refletindo a intenção de compra para os próximos meses.
O relatório de divulgação do ICC ressalta que essa tendência da retomada de hábitos de consumo e aumento do poder de compra, poderá se manter real caso não haja ocorrência de choques negativos no âmbito político ou econômico nos próximos meses.
Apesar da produção de ovos ser consumida quase integralmente pelo mercado interno, a exportação também sustenta um negócio de US$ 60 milhões, mas que ainda apresenta um comportamento instável tanto da quantidade comercializada, quanto no valor de comercialização.
A exportação ainda é refém de dois grandes compradores, os Emirados Árabes Unidos e Senegal, que juntos detém 40% do total do valor das comercializações das exportações praticadas.
Apesar dessas implicações, o setor está otimista para os próximos anos, ainda mais com a abertura do novo mercado em 2018, a África do Sul.
Os Produtores
Os números de quantidade de comercialização no âmbito nacional são animadores, contudo, o poder de compra dos avicultores tem sofrido redução frente aos principais insumos da cadeia.
Segundo dados divulgados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, CEPEA – Esalq/USP, o início do ano de 2018 foi caracterizado pela diminuição do poder de compra dos avicultores frente ao milho e ao farelo de soja, principais insumos da cadeia do ovo.
Apesar da constante queda do preço desses produtos, o movimento de baixa nos preços dos ovos tem acontecido de forma mais acentuada. Em janeiro de 2018, o avicultor paulista adquiriu 116,7 quilos de milho com a venda de uma caixa de 30 dúzias do ovo tipo extra branco, 16% menos que em dezembro de 2017.
Como apresentando no histórico de comercialização de ovos tipo branco na Grande São Paulo (CEPEA), os preços sofreram uma constante queda a partir de abril de 2017, mas que no geral foi considerado um bom ano para os produtores com média de R$89,65 a caixa de 30 dúzias. A retomada do crescimento é identificada em março de 2018 com uma recuperação das cotações dos ovos, superando até mesmo a alta dos insumos, com expectativas de novos reajustes devido às condições do mercado.
Tendências e Oportunidades
Os produtores e varejistas atentos às mudanças de comportamento e tendências do consumidor sairão na frente na conquista novos mercados e preços diferenciados.
Hoje, a chamada geração Z, nascidos após 1997, dita as regras de hábitos alimentares, norteando os investimentos futuros e decisões de negócios. A geração que tem no sangue a veia gastronômica busca a “comida de verdade”, elevando as taxas de consumo de alimentos e bebidas saudáveis, não apenas pelo componente com apelo orgânico, mas também valorizando a base nutricional dos produtos.
A alimentação consciente, ou em inglês “mindful eating”, está preocupada com outros fatores que estão agregados ao alimento, querem saber se a empresa é transparente nas suas ações, é engajada socialmente, respeita o meio ambiente e o bem-estar animal.
Nesse sentido, algumas empresas brasileiras já se colocaram à frente do comportamento futuro como uma oportunidade estratégica, inserindo o Brasil no ranking Business Benchmark on Farm Animal Welfare (BBFAW), relatório mundial de bem-estar animal elaborado anualmente em parceria entre as ONGs Compassion in World Farming, Coller Capital e World Animal Protection.
Empresas como a Marfrig, BRF e JBS estão progredindo no ranking assim como outras empresas mundiais como mostra o gráfico do relatório divulgado pela BBFAW.
Segundo o relatório, as barreiras que ainda impedem o avanço das estratégias empresariais voltadas para o bem-estar animal estão associadas a uma percepção da falta de disposição dos consumidores em pagar um preço mais elevado, investimento de capital necessário para atender ao padrão de bem-estar animal e falta geral de conscientização dos benefícios para o negócio.
Com relação à produção de ovos, uma das estratégias amplamente adotadas pelas empresas, tanto varejistas quanto restaurantes e produtores, é assumir o compromisso até um futuro próximo de eliminar o modelo tradicional de produção de aves criadas em gaiolas.
O chamado sistema cage-free dispensa o confinamento das aves em gaiolas, respeitando condições de espaçamento para atender o bem-estar dos animais. Marcas como Mcdonald’s, Burguer King, Giraffas, Kraft Heinz e Unilever já assumiram o compromisso e seguiram a tendência que vem ganhando cada vez mais adesão mundialmente.
Quem já segue esse modelo de manejo são os produtores de orgânicos, aqueles regidos pela Lei 10.831, que além do sistema de espaçamento, devem atender outros critérios de boas práticas e bem-estar animal como proibição da prática de debicagem, programa de iluminação restrita, acesso à ambiente externo, padrões de higiene, alimentação preferencialmente orgânica.
Não é novidade que o mercado dos orgânicos cresce em todo o mundo. De acordo com o Conselho da Produção Brasileira Orgânica e Sustentável (ORGANIS), a previsão nacional é de em 2018 haja um aumento de 20% da comercialização de orgânicos. Ovos orgânicos não são uma novidade para o consumidor brasileiro, mas ainda há um grande espaço para a sua expansão tendo em vista essa crescente demanda por alimentos “de verdade”, além de categorias a serem exploradas como o caipira, vermelhos e os enriquecidos nutricionalmente.
Outro mercado consumidor que vem ganhando destaque nos últimos anos que tem o ovo como base da dieta alimentar natural e de muitos produtos processados é o mundo fitness.
Os chamados ovoprodutos, aqueles derivados a partir da clara ou gema do ovo após retirada a casca, são apresentados na forma líquida, em pó ou congelado. São explorados por diversos segmentos alimentícios devido a sua praticidade e confiabilidade. No mercado fitness são uma opção de fonte de proteína para os praticantes de atividades físicas.
A lógica de mercado alimentício tem mudado rapidamente, assim como outros setores que sofrem influência do mundo conectado, onde as informações e o conhecimento são transmitidos em alta velocidade, fornecendo ao consumidor base para novas tomadas de decisões mais conscientes em prol da saúde, meio ambiente e bem-estar animal.
Fica claro que apensar da grande variação dos preços praticados na comercialização dos ovos, a demanda ainda está aquecida e pode proporcionar uma margem de ganho maior para os produtores e empresários que acompanham as tendências do consumidor e estão focados na diferenciação da qualidade do produto.
Luciana Vieira Esteves é Engenheira Agrícola e Ambiental da Agrosuisse