“Geramos negócios a partir da educação”

Uma mulher multitarefas a serviço do desenvolvimento da pecuária nacional. Essa frase define a zootecnista, fundadora e CEO do Território da Carne (TC), Andrea Mesquita, que também é co-fundadora do Programa C@rne 4.0. membro integrante do Carnivorismo Brasil, Advisor Gran Beef, Advisor Moondog e palestrante em eventos da cadeia produtiva de carne.

Andrea acumula em seu currículo experiências em treinamento do modelo norte-americano de manejo e produção de suínos; gerente de produção, garantia de qualidade e P&D de carne bovina porcionada na Prime Cater (481);  engenharia de processo, P&D e Programa de Trainee na JBS – Divisão Carnes.

Ela se destaca por trabalhar em áreas diretamente relacionadas à excelência, alta performance, produtividade, desenvolvimento e condução de projetos de melhoria contínua na cadeia frigorífica e serviços de alimentação. Conheça a história dessa profissional e como ela tornou-se mais uma “Mulher no Agro”.

– Qual a sua relação com o agronegócio e com as coisas do campo?

Desde pequena, adoro o campo. Quando ia a sítios e propriedades de amigos e familiares distantes, sempre sumia pela manhã, ficando em volta das atividades dos caseiros, apreciando-os tirar leite, tocar os animais, cuidar das hortinhas, até mesmo secar café, na propriedade de uma prima distante de meu pai, enquanto meus primos e irmãos ficavam na piscina ou no salão de jogos. Por ter sido criada em São Paulo/capital e não ter ninguém próximo com relação ao agro, a maioria dos amigos e parentes sempre questionou de onde teria vindo essa paixão pelo campo. É aí que eu, uma pisciana nata, digo que ela veio como parte da missão!

– Quais as atividades que você desenvolve no seu dia a dia, dentro e fora da porteira? 

Hoje, estou muito mais fora da porteira do que dentro! Apesar de termos alguns clientes proprietários de confinamentos ou propriedades rurais, em sua maioria são empresários do varejo de carnes, ou seja, estão nas cidades, próximos aos consumidores. 

Ainda assim, minhas principais atividades cotidianas não ocorrem nas lojas e sim dentro do escritório. Envolvem gestão estratégica da empresa – buscando sempre olhar cinco anos pra frente – além de gerenciamento e desenvolvimento do time, coordenação de atividades relacionadas à educação dos meus clientes e alunos, bem como o envolvimento nas decisões de expansão das empresas as quais participo como conselheira.

Invisto boa parte do meu dia (e dinheiro!) estudando e me atualizando sobre as principais tendências de comportamento do consumidor em diferentes nichos, o que me ajuda a sempre estar preparada para a tomada de decisões importantes. Claro que sem esquecer de ter momentos de cuidar da saúde, da alimentação e da família que são prioridades no meu dia a dia.

– Fale sobre o trabalho como CEO da startup Território da Carne.

O nome CEO dá uma ideia de empresa grande, eu sei! Mas ao longo dos anos à frente de uma companhia, aprendi que ter um CNPJ pra chamar de seu é muito diferente de gerenciar uma empresa. E, no porte da nossa, ainda preciso me sentar em diversas cadeirinhas ao mesmo tempo. Por isso, ser diretora executiva do TC é só mais uma das inúmeras atribuições que tenho hoje. Há momentos que ainda preciso tocar algumas operações práticas, liderar decisões de marketing, criar designs para algum lançamento, ou mesmo carregar caixa no fim de um evento presencial. Aprendi que delegar é necessário e é o que mantém a empresa em crescimento, porém, ter a humildade de saber que tarefas de todos os tipos aparecerão e precisarão ser resolvidas, independentemente de cargo, tem me ensinado muito sobre o caminho de se atingir sucesso na carreira e na vida.

– Qual o foco das ações desenvolvidas pela empresa?

As principais ações do TC podem ser encaixadas em uma frase: “Geramos negócios a partir da educação.” Nascemos como uma edtech, ou seja, uma startup voltada para educação no mercado da carne. Com o tempo, entendemos que muito além de educar precisamos encurtar caminhos e reduzir o tempo investido para aumentar potenciais negócios. E é isso que fazemos. Educamos primeiro e, a partir disso, auxiliamos nas tomadas de decisão do empresário. Quer um exemplo? Ensinamos em determinada aula que nem sempre desossar na loja é a melhor opção e que a tendência é que esse processo seja absorvido por frigoríficos. O aluno então diz que não sabe como comprar carne em caixa, sem ser carcaças. Nosso papel então é apresentar empresas que prestem esse tipo de serviço e viabilizar que a operação aconteça, sendo boa para os dois lados! O desafio é grande, mas tem trazido excelentes resultados. 

– Como você avalia o momento atual da pecuária nacional, considerando os impactos da pandemia?

A pecuária sempre foi uma atividade de ciclos. Parece que agora isso assusta mais por termos mais acesso às informações. Essa é a minha sensação. Não é de hoje que vivemos momentos de baixa e outros de alta, devido ao abate de fêmeas, baixa no rebanho de matrizes, alta do preço da reposição, etc. O ingrediente que foi adicionado recentemente foi a volatilização dos insumos dolarizados, uma vez que vivemos momentos de mais incertezas do que antes – de forma global. Além disso, a pandemia traz uma sensação de insegurança em relação aos alimentos e preocupação com a origem dos produtos, o que eu, particularmente, vejo com bons olhos para a evolução do setor. 

– E o que pode ser feito para que a atividade continue a crescer de forma sustentável e produtiva?

Para o setor continuar crescendo, precisaremos compreender que o ciclo é interdependente e que os líderes das diferentes atividades envolvidas na produção de um quilo de carne precisam conversar mais. Como o exemplo das cooperativas de frangos e suínos, a pecuária integrada tem muito mais chance de prosperar no Brasil. 

– Em sua opinião, quais os benefícios do melhoramento genético animal e dos avanços tecnológicos para o desenvolvimento do setor?

Os principais benefícios do melhoramento genético estão vinculados com compreender e masterizar a vocação daquele individuo ou lote de indivíduos. Quando eu entendo as exigências e as características daquele grupo, consigo dimensionar melhor a nutrição, o manejo, os cuidados específicos, bem como a qual tipo de mercado aquele produto atenderá com melhores atributos. Isso elimina ou minimiza consideravelmente perdas de processo e insatisfação de cliente. Assim como o melhoramento, podemos citar os avanços em nutrição, ingredientes e as tecnologias de aproveitamento de co-produtos da indústria humana para o rebanho brasileiro, bem como os avanços em sustentabilidade, regeneração de solo, manejo rotacionado, bem-estar animal, processos de abate, desossa, processamentos industriais, entre outros tantos já disponíveis no mercado brasileiro. 

– A cada dia, a mulher tem participação mais ativa no mercado promovendo muitas melhorias. A que você credita esse novo momento? 

Certa vez, quando fui convidada para ministrar palestra em um TEDx, escutei um podcast que falava sobre a grande diferença entre homens e mulheres e a importância da complementariedade entre os grupos. Desde que a história humana existe e é estudada, os homens cuidavam de tarefas que exigiam o uso de força, como caçar, construir, defender a família, etc. Já as mulheres, se encarregavam de tarefas mais minimalistas, cuidadosas, como criar a prole, por exemplo. Com base na análise dessas características, fica mais fácil entender – em pleno 2022 –, a que devemos o sucesso dessa soma e o porque é um erro segregarmos os grupos.

A mulher tem uma preocupação com o requinte que não faz parte da grande maioria dos homens. São milhares de anos assim. O homem tem uma composição física preparada para tarefas que exijam força. As mulheres são melhores  em visão, olfato e paladar, sem esquecer de mencionar a afinidade com tarefas delicadas, como colocar a linha numa agulha, por exemplo. Claro que não é por isso que as caixinhas devam ser completamente separadas, porém, conhecer, respeitar essas aptidões e trazer o que cada um tem de melhor a agregar, nos coloca em posição de avanço. O novo momento veio de uma descoberta (muito mais feminina do que masculina) de que podemos trabalhar juntos, sem sobrepor ou eliminar um ou outro da atividade. É somando que crescemos. 

– Quais, em sua opinião, as principais contribuições das mulheres no agro?

No meu ponto de vista, a principal contribuição que a mulher dá para agro é esse olhar cuidadoso, delicado, detalhado, quase que maternal às tarefas, às pessoas, aos animais. Temos muito a evoluir como espécie, mas sinto que estamos no caminho.