Os resultados do censo agropecuário de 2017 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, indica a dinâmica da produção animal no Brasil nos últimos trinta e dois anos. Os resultados fortalecem que a realização do censo agropecuário deve ser de forma sistemática e com maior frequência devido á grande importância, cada vez maior, do setor no desenvolvimento do Brasil e na sua participação no Produto Interno Bruto, PIB, do pais.
Dentre todas as atividades econômicas do Brasil o agronegócio destaca-se como o setor mais importante para a economia nacional. Entre 2017-2018, a agropecuária contribui com 21,6% do PIB nacional, sendo que só a pecuária representa 6,6% desse total e 31% do PIB do agronegócio. (CEPEA, 2018a; ABIEC, 2018).
Dados relativos ao acumulado no ano de 2017 apontam que aproximadamente R$ 263,9 bilhões são provenientes da pecuária, sendo 73,7% representados pela pecuária de corte e 26,3% pela pecuária de leite (CEPEA, 2018b). O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, seguido de Índia, Austrália e EUA. As exportações de carne bovina, representam 3,2% de tudo o que o Brasil exportou em 2017, com crescimento de 9,6% em volume e 13,9% em faturamento, sendo fundamentais para a manutenção do saldo comercial positivo brasileiro, juntamente com o saldo do agronegócio como um todo (ABIEC, 2018).
O número de estabelecimentos rurais aumentou de 4.849.865 para 5.072.152 de 1995 para 2017, sendo que de 2006 para 2017 reduziu em 2 %. Quanto a dimensão das propriedades apenas 2 % das propriedades possuem mais do que 500 hectares e respondem por 58.3 % da área total.
De 1995 á 2017 a área de uso agrícola/pecuário praticamente se manteve, de 353.611.246 hectares para 350.253.329 hectares, sendo que entre 1995 e 2006 houve uma redução em torno de 20 milhões de hectares, sendo retomados de 2006 para 2017.
Um dos maiores impactos identificados foi a redução do número de trabalhadores ocupados com as atividades agropecuárias, de 17.930.890 para 15.036.9778 pessoas, sendo que de 2006 para 2017 a redução foi de 9,2 %. Este dado indica o aumento do êxodo rural do campo para as cidades o que representa uma falta de política para a retenção do homem no campo.
Por outro lado, em 2017 a pecuária foi responsável pela criação de 353.725 vagas de trabalho com carteira assinada, de acordo com os dados do Cadastro Geral do Empregados e Desempregados (CAGED) (BRASIL, 2018). O número representa um crescimento de 0,4% em relação aos postos criados em 2016. Quando se observa o balanço de empregos, que é a diferença entre as vagas criadas e vagas encerradas, o saldo da pecuária ficou positivo em 8.371. Em 2016, o saldo havia ficado negativo em -2.357 vagas (BRASIL, 2018).
Outro advento que o censo agropecuário apresenta é o aumento de produtores rurais com acesso á internet, subiu 1.790 % de 2006 a 2017. Este indicador é relacionado ao momento do setor caracterizado pela presença da tecnologia da informação no campo. O desenvolvimento tecnológico é notório em diversas regiões produtivas, o uso de instrumentos tecnológicos está modificando o perfil da agropecuária e, certamente, irá impactar nos indicadores do setor nos próximos anos.
A área de pastagens naturais reduziu de 78 milhões para 46,8 milhões de hectares, sendo que de 2006 para 2017 houve uma redução de 18,7 %. Áreas de pastagens plantadas aumentaram de 99.6 milhões para 111.7 milhões de hectares e de 2006 para 2017 aumentou em 9.6 %.
Correlacionando esta dinâmica de área de pastagens com o aumento de área com lavouras temporárias (principalmente grãos) em 13,2 % de 2006 para 2017, podemos supor que áreas de pastagens naturais foram substituídas por pastagens plantadas e áreas de lavouras temporárias. Esta dinâmica de área indica que a atividade de pecuária (principalmente bovina) passa por um processo de transformação e profissionalização em função da necessidade do aumento da produtividade nas áreas de pastagens.
As áreas de matas naturais aumentaram de 88,9 milhões para 106,2 milhões de hectares, assim como as matas plantadas que aumentaram de 5,4 milhões para 8.5 milhões de hectares, um nítido indicador de que os produtores rurais estão em processo de adequação para atendimento da legislação ambiental de acordo com o código florestal brasileiro.
O efetivo do rebanho bovino nacional aumentou, segundo o censo de 2017, de 153 milhões para 171,8 milhões de cabeças. De 2006 para 2017 houve uma redução de 2,4 %. Estes resultados demonstram que existe uma diferença significativa entre outras fontes que apuram o efetivo bovino no Brasil.
Com relação ao efetivo nacional, as pesquisas apontam para diferentes valores, sendo estimados em 171 milhões (IBGE, 2017), 190 milhões (ANUALPEC, 2017), 218 milhões (FAOSTAT, 2018), 219 milhões (PANAFTOSA, 2018) e 221 milhões (ABIEC, 2018) de cabeças de gado no Brasil nos dias atuais.
Esse efetivo está distribuído em aproximadamente 164 milhões de hectares e 2.521.249 estabelecimentos (IBGE, 2018), possibilitando, só na pecuária de corte, o abate de 39,2 milhões de cabeças anuais, e produção de 9,71 milhões de TEC (Toneladas Equivalente Carcaça) por ano. Dessa produção, cerca de 79% é absorvido no mercado interno, e 21% é destinado para exportação, sendo que aproximadamente 400 mil cabeças/ano são exportadas vivas (ABIEC, 2018).
A taxa média de ocupação das pastagens é de 1,34 cabeças/ha e lotação de 0,94 UA/ha (ABIEC, 2018), indicadores que demonstram um aumento na produtividade da pecuária que historicamente não ultrapassava de 1 cabeça por hectare.
A pecuária de leite demonstrou, pelos resultados do censo 2017, um aumento de 46,3 % na produção de leite entre 2006 e 2017, passou de 20,5 milhões para 30,1 milhões de litros de leite por ano. Estes resultados também comprovam um aumento de produtividade por área.
O censo também evidencia a migração da pecuária para os estados nas regiões Centro oeste e, principalmente, nos estados do norte do país. Os estados da Amazônia (Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) possuem um rebanho bovino em torno de 81 milhões de cabeças, ocupando aproximadamente 71 milhões de hectares de pastagens nativas e cultivadas (ABIEC, 2018; IBGE, 2017).
A pecuária de corte é atualmente um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da região, promovendo grande impacto na economia e para a conservação dos ecossistemas locais. Apesar dos avanços recentes, a pecuária de corte na região norte ainda apresenta baixo nível tecnológico e vai exigir investimentos em inovações tecnológicas para promover um modelo que garanta a sustentabilidade dos sistemas e da região.
Em função deste cenário as políticas de regularização fundiária, de melhoria da infraestrutura de transporte e energia, de subsídio à aquisição de máquinas, implementos agrícolas e insumos agropecuários e apoio crescente à assistência técnica qualificada são essenciais para acelerar o processo de transição dos sistemas extensivos para sistemas pecuários intensivos na Amazônia (Barbosa, 2015).
Uma das tendências mais importantes na criação de gado no Brasil nos últimos anos tem sido o aumento da tecnologia de confinamento para engordar o gado com menos tempo para o abate. Essa tendência é particularmente evidente no estado do Mato Grosso, o maior produtor nacional, com aproximadamente 24 milhões de cabeças segundo o IBGE (2017), e 31 milhões segundo a ABIEC (2018), representando 14% do efetivo nacional. Além disso o estado do Mato Grosso possui o maior rebanho confinado do país, com aproximadamente 1,2 milhões de cabeças (Barbosa, 2015).
Além do Mato Grosso, outros estados dessa região contribuem significativamente para a pecuária nacional, como Pará com 18 milhões e Rondônia com 10 milhões de cabeças de gado (IBGE, 2017; ABIEC, 2018).
As estimativas apontam que o estado do Mato Grosso deverá abater, em 2031, 2,8 milhões de cabeças em sistema de confinamento, representando um crescimento de 162,4% em relação ao ano de 2017. Como resultado, mais de 60% do total de machos abatidos no estado seria por confinamento.
Ainda nesse cenário, a produção de arrobas atingiria 6,43 @/ha/ano. As pastagens, que hoje totalizam 24,8 milhões, reduziriam para 21,7 milhões.(Barbosa, 2015).
O cenário apresentado para o setor da pecuária bovina no Brasil, a parti da análise sobre os resultados do censo agropecuário do IBGE de 2017, publicado em 2018, reforça que o setor está em profunda transformação. Esta mudança é caracterizada nos modelos de produção através da melhoria tecnológica (entendendo como tecnologia a integração da produção pecuária, preservação do meio ambiente e conservação dos recursos naturais) e aumento da produtividade (entendendo que este aumento da produtividade será realizado através da implantação dos princípios do bem estar animal, dos sistemas com boas práticas de produção e de tecnologias de manejo genético, nutricional e sanitário dos rebanhos).