Roberto Bordin é médico veterinário, com ênfase em nutrição, produção, sanidade e agronegócio animal, e Prof. Dr. do Centro Paula Souza – FATEC – Governo do Estado de São Paulo – Mogi das Cruzes

Nos últimos dez anos a produção e criação de codornas no Brasil apresentaram uma evolução significativa. Este fato é observado por um maior número de pesquisas científicas realizadas por centros especializados, entre outros fatores. O professor Roberto Bordin, em entrevista para a Revista Animal Business Brasil, fala um pouco mais sobre as curiosidades e evolução do setor.

ABB: Fale um pouco sobre a história e o panorama atual da coturnicultura brasileira.

RB: A coturnicultura, ou criação de codornas, começou de forma mais estruturada no Brasil por volta das décadas de 1950 e 1960, com aves importadas do Japão – e não demorou muito para a codorna japonesa se adaptar por aqui. Inicialmente, a atividade era voltada ao consumo familiar ou produção artesanal de ovos. Hoje, ela ganhou status de atividade econômica relevante, com produção profissionalizada, abastecendo supermercados, feiras e redes de food service com ovos (maior fatia da cadeia) e carne.

Atualmente, o Brasil é um dos principais produtores de ovos de codorna do mundo, com polos produtivos fortes em estados como São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Embora ainda seja um setor menor em comparação com outras cadeias avícolas, vem crescendo de forma constante e ajustada ao crescimento do mercado consumidor.

ABB: Como a tecnologia tem impactado na cadeia produtiva do segmento?

RB: A tecnologia entrou forte nas granjas – Nos últimos anos, vimos a adoção de automação em ambiência (controle de temperatura, ventilação, umidade), sistemas automatizados de alimentação, coleta de ovos e até gestão zootécnica via aplicativos e sistemas computacionais

Além disso, a genética também avançou, com linhagens mais produtivas e adaptadas às condições tropicais brasileiras. Até a nutrição animal se beneficiou da tecnologia, com rações mais balanceadas e precisas, formuladas especialmente para o metabolismo dessas aves.

Foto: Анна Таскаева. Pixabay.com

ABB: Quais os principais benefícios gerados por esses aportes tecnológicos?

RB: Produtividade aumentada em todos os sentidos. Com a tecnologia, o produtor consegue ter mais ovos por ave, menor mortalidade, melhor conversão alimentar e padronização dos produtos.

Além disso, o bem-estar animal melhorou: aves mais saudáveis produzem mais e com melhor qualidade. Sem contar a rastreabilidade e a segurança dos alimentos, que ganham destaque com o uso de sistemas integrados de controle e monitoramento.

ABB: Existem desafios para a evolução dessa atividade?

RB: Sim, e como. Apesar dos avanços, o setor enfrenta pontos importantes como o alto custo de produção (principalmente ração), acesso limitado a crédito específico, mão de obra pouco qualificada e, em alguns casos, a informalidade, que ainda permeia parte da cadeia.

Outro desafio é o consumo ainda concentrado em nichos de mercado. O ovo de codorna, por exemplo, é muito associado a festas e petiscos, mas tem alto valor nutricional e poderia estar mais presente nos cardápios familiares.

ABB: Como você avalia o futuro do segmento?

RB: O futuro é promissor. Com um consumidor cada vez mais atento à saúde, o ovo de codorna ganha espaço por ser nutritivo, saboroso e acessível. A carne de codorna, por sua vez, vem conquistando espaço na gastronomia gourmet.

Com maior incentivo à formalização, investimento em marketing e acesso à tecnologia, a coturnicultura tem tudo para se consolidar como uma alternativa econômica e sustentável.

ABB. Algo mais que você gostaria de destacar?

RB: Sim. A coturnicultura também tem um papel social importante: é uma porta de entrada para pequenos produtores qualificados. É a prova de que nem sempre é preciso pensar em grande escala para gerar renda, emprego e alimento de qualidade.

 

Por André Casagrande.
Foto de capa: Cristian Puerta. Pixabay.com