Por: Carlos Alberto Magioli

O Sebrae em artigo de janeiro de 2023, apontou as cinco tendências a alavancar o crescimento voltado para o comércio de alimentos e bebidas quais sejam a busca por alimentação saudável pela substituição de ingredientes, diminuição ou eliminação do uso de outros, sobretudo de aditivos químicos e uso de produtos orgânicos: alimentação que promova beleza a contribuir para uma pele e cabelos mais saudáveis, fortalecimento das unhas, redução de gordura e ganho de massa muscular, entre outros aspectos; alimentação natural com tendência de oferecer produtos orgânicos, alimentos sem glúten, produtos funcionais e fortificados, alimentos energéticos e clubes de assinatura que oferecem produtos naturais; substituição do açúcar ou sua eliminaçãoe novos conceitos de embalagem pela redução do uso do plástico, isopor, alumínio e que forneçam informações claras ao consumidor.

Otimismo

2024 prevê um otimismo do consumidor em relação ao futuro, uma redução dos gastos, que as lojas físicas ainda continuarão a desempenhar um papel relevante se comparada com as compras online, tendências de influências estrangeiras, preocupação do consumidor com a sustentabilidade, compras com base em valores pessoais e visões do mundo, concorrência online acirrada e adaptação dos padrões de compra do consumidor ao novo formato de trabalho home office.

Entretanto deve-se considerar que muitas das previsões podem ser passageiras em função de modismo ou tendências a se tornarem definitivas pelas modificações dos hábitos dos consumidores. Assim é preciso ter o cuidado de não confundir modismo, geralmente expressão cultural de curta duração e de interesse excessivo com tendência, capacidade de inovação, uma orientação em determinado sentido com duração longa que influencia modelos de negócio.

Tendência

Com base nesses conceitos cada vez mais as indústrias de produtos de origem animal se esmeram em melhor aproveitamento dessa matéria prima nobre, frente as mais variadas predileções e tendências dos consumidores. Entretanto ao considerar o pequeno conhecimento de parte significativa dos consumidores sobre qualidade de alimentos, nem sempre esse aproveitamento da matéria prima resulta em um produto com qualidade nutritiva que dele se espera.

Muitos são os produtos denominados como “tipo” ou  mesmo “imitação” postos à disposição no comércio varejista fazendo com que o consumidor desavisado os adquira por serem geralmente de menor preço, imaginando ter feito uma economia quando na verdade e na maioria das vezes, estará sendo ludibriado em sua intenção de ingerir alimento de qualidade nutricional sem comprometer a sua saúde.

Escolhas

No trabalho intitulado Hábitos de Compra e Consumo de Alimentos em Famílias com Menores de Cinco Anos em um Município do Nordeste Brasileiro a autora Amanda Cristina Batista Costa e colaboradoras, cita que as escolhas alimentares são determinadas pelo acesso, disponibilidade, propaganda, conveniência e preço. Esse conceito certamente poderá estar disseminado por todas as regiões do país, onde ainda se compra pelo preço e não pela qualidade.

Obviamente que o marketing sobre todos os meios disponíveis atualmente tem um importante peso sobre os critérios de escolha do consumidor de alimentos, aliado a apresentação dos produtos sempre em embalagens esmeradas em cores atrativas e figuras que levam a despertar o interesse pela aquisição, além das informações obrigatórias na rotulagem.

Comportamento

Em pesquisa sobre alimentação: hábitos, preferências e comportamento do consumidor a autora Danielle Salgado cita que na hora de escolher o que comprar, o preço do alimento é o que mais pesa para 51% dos internautas, seguido por uma opção de produto mais saudável (36%) e sabor (30%), além disso, para 50% dos entrevistados, o local preferido para comprar é o supermercado.

De acordo com o site Educapoint, o preço é um grande determinante para decisão da compra pelo consumidor, não adiantando o produto ter excelente qualidade se está a um preço inacessível para a grande maioria dos consumidores, muitos deles com as compras orientadas exclusivamente pelo preço.

Percepção

A condição básica para a comercialização de alimentos de origem animal no Brasil é que eles sejam previamente inspecionados por um órgão federal, estadual ou municipal dependendo da área de comercialização do produto em relação ao estabelecimento produtor, antes de serem expostos a comercialização. Assim a identificação da chancela do órgão fiscalizador apensa a embalagem do produto é uma importante referência de qualidade sanitária e tecnológica para o consumidor.

A autora Isabelle Correa Rochebois Campelo em sua dissertação para obtenção do título de Mestre, Percepção dos Consumidores sobre o Selo Arte em Queijos Artesanais, apresenta como resultado que 99% dos 294 consumidores entrevistados, dos quais 65,7%possuíam ensino superior completo, responderam reconhecerem o selo do serviço de inspeção Federal (SIF). Dos entrevistados, 59% concordaram totalmente em comprar o produto queijo quando apresentada à representação de um queijo com selo do SIF e 63% deles discordaram totalmente em comprar um queijo sem o selo. Outros estudos confirmaram que a presença do carimbo dos serviços de inspeção é um fator de influência na decisão de compra dos consumidores.

Entretanto a par dos aspectos até aqui abordados como de preferência dos consumidores, outros fatores já começam a despertara atenção no momento da aquisição de alimentos de origem animal e um deles está relacionado ao bem estar animal.

Por bem estar animal entende-se a criação e o manejo dos animais destinados a produção de matéria prima alimentar humana, de forma a que estejam livres de sede, fome e desnutrição, tendo pronto acesso à água fresca e alimentação, que esteja livre de desconforto, sendo criado em ambiente adequado incluindo abrigo e uma confortável área de descanso, livre de dor, lesões, doenças e prevenção ou diagnóstico rápido e tratamento, com liberdade para expressar seu comportamento normal com espaço suficiente, instalações adequadas em companhia de animais da própria espécie e livres de medo e de stress, assegurando condições que evitem o sofrimento mental.

Essas condições já consideradas em países onde os consumidores têm maiores conhecimentos sobre aquisição de alimentos, começa a repercutir no Brasil em regiões onde, melhores informados sobre questões relativas as boas práticas de criação dos animais, os compradores passam a atentar para essa importância.

Caso especifico que já começa a repercutir principalmente nos grandes centros urbanos, está relacionado a preferência pela aquisição de ovos oriundos de criações de galinhas livres de gaiolas, cage free, ovos caipira ou colonial, rejeitando os produtos tradicionais com os animais em gaiolas com exíguos espaços para se movimentarem, transformando-os em verdadeiras “máquinas” de produção de ovos.

Sustentabilidade

Outro aspecto que já desponta o interesse dos consumidores é referente  a sustentabilidade que é a capacidade do uso consciente dos recursos naturais sem comprometer o bem-estar das gerações futuras e cujo objetivo principal é encontrar o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. O tripé da sustentabilidade é baseado em três pilares: social, ambiental e econômico, que precisam estar interconectados interagindo de forma harmônica, garantindo a integridade do planeta e da sociedade durante o crescimento e desenvolvimento econômico.

Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicada no Portal da Indústria, mostra que os brasileiros estão interessados em consumir marcas preocupadas com o meio ambiente e com a qualidade de vida de todos os envolvidos na cadeia produtiva. O levantamento ouviu duas mil pessoas em 126 municípios e mostrou que quase 38% delas se preocupa em saber se um item foi produzido de forma ambientalmente correta.

A esse respeito muito se discute a produção de carne bovina, pela extensão de terra necessária para a criação dos animais em sistema extensivo como ocorre no Brasil, e os  gases oriundos do metabolismo dos ruminantes a poluir o ambiente, entretanto a proporcionalidade da área destinada a bovinocultura no país é significativamente menor quando comparada aos demais países produtores e a possível poluição ambiental produzida pela digestão dos ruminantes tem demandado controvérsias entre os especialistas.

Exigências

Assim cada vez mais as exigências do consumidor aumentam na medida em que as informações lhes são passadas de diversas formas, interferindo na sua escolha do que comprar e consequentemente o que consumir, com base em critérios pessoais e em outros julgados adequados para seleção do seu alimento. Entretanto quaisquer que sejam eles o importante é que a origem seja reconhecida de forma a garantir a certificação sanitária e a qualidade para consumo que dele se espera.