O agrônomo e engenheiro florestal Norman Ernest Borlaug, PhD pela Universidade de Minesota, nos Estados Unidos, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, em 1970, por sua contribuição para superar a fome no mundo. Ele é considerado o pai da Revolução Verde, dos anos 50 e 60, que se caracterizou – e ainda se caracteriza – não apenas pela seleção genética das sementes mas, principalmente, pelo uso intensivo dos defensivos e fertilizantes químicos como também pelo emprego de aditivos nas rações animais, além do seu confinamento extremo.

Não há dúvida de que a Revolução Verde aumentou, dramaticamente, a produção agropecuária, por meio do incremento da produtividade, mas isso foi conseguido a um custo que não é mais possível sustentar. E o termo custo aqui não se refere apenas ao econômico, mas ao da destruição gradativa dos recursos naturais do Planeta e comprometimento da saúde humana.

É fácil compreender como isso vem acontecendo na produção intensiva de plantas e de animais de criação.

As substâncias químicas usadas como defensivos agrícolas são altamente tóxicas, tanto para as pragas que se propõem combater, como para o reino animal – aí incluída a espécie humana – e em sua quase totalidade não se degradam com o passar do tempo. Elas permanecem inalteradas, atravessam as camadas superficiais do solo, levadas pela chuva ou pela própria irrigação até encontrarem a parte impermeável onde circula o lençol freático que, por sua vez, alimenta as nascentes e desemboca nos rios, contaminando a água.

Fato semelhante ocorre com os adubos químicos, ricos em nitrogênio, fósforo e potássio.

Nas rações animais, imprescindíveis para a obtenção dos altos rendimentos da agropecuária intensiva, um dos problemas é o resultado do uso dos aditivos promotores do crescimento, como por exemplo, os hormônios e os antibióticos que podem causar danos importantes à saúde do consumidor.

Os antibióticos, como estimulantes do crescimento e da conversão alimentar, são de uso praticamente obrigatório na avicultura industrial.

Acontece que essa prática, provadamente, vem criando cepas de bactérias resistentes o que é um problema de saúde pública mundialmente reconhecido. Em função disso, os países importadores do Primeiro Mundo, começando pela União Européia, proibiram o seu emprego. E uma solução já foi encontrada para substituí-los. São os chamados probióticos e os prebióticos, ambos derivados de uma levedura (Saccharomyces cerevisiae), que é um fungo há séculos usado na fabricação do pão, da cerveja e do vinho, mas cuja ação só foi descoberta graças às pesquisas de Louis Pasteur, em 1860. E, atualmente, com os recursos da biotecnologia, desempenham diversos papéis benéficos na produção, sem causar nenhum malefício para o consumidor.

Do mesmo modo, passaram a ter uso constante as técnicas de controle biológico das pragas e que estão em pleno desenvolvimento. São técnicas que, numa explicação simplista, empregam insetos, produtos deles derivados, ou outros de origem orgânica, no combate às pragas que atacam as plantações. E também os mais variados recursos como a esterilização (por radiação) de insetos machos, daninhos, que, soltos nas plantações, geralmente por via aérea, reduzem drasticamente a população, uma vez que da sua cópula com as fêmeas não mais resultam ovos férteis capazes de perpetuar a espécie.

Cada vez mais, os fertilizantes químicos estão sendo substituídos por adubos orgânicos que melhoram a qualidade do solo sem prejuízo algum para a natureza.

Quanto ao melhoramento genético, o mundo passa por uma revolução sem precedentes decorrente das técnicas da biotecnologia avançada, da engenharia genética, que interfere, como nunca aconteceu desde a criação da Terra, no íntimo da natureza, criando espécies vegetais e animais artificiais, produzidas em laboratório.

No que se refere aos vegetais de uso industrial, como é o caso do eucalipto, para produção de celulose e de papel, não há risco de qualquer espécie, mas apenas benefícios visto que a técnica possibilita a produção de espécies de crescimento mais rápido, mais resistentes e de florestas mais homogêneas além de outras vantagens.

Mas no que tange ao consumo humano, os vegetais e animais produzidos pela engenharia genética, como os transgênicos, suscitam dúvidas, mesmo entre os cientistas, quanto aos eventuais riscos do seu consumo pelo homem.

Por sua vez, a substituição radical dos recursos químicos pelos naturais, com os limites dos conhecimentos atuais, significa uma redução da produção e da produtividade o que vale dizer um drama para uma população mundial que cresce descontroladamente (em que pese à maior consciência do problema nos anos recentes) na direção da fome em dimensões catastróficas. Eis o grande dilema e seu correspondente desafio: – como parar de destruir o Planeta (do qual a espécie humana faz parte) e, ao mesmo tempo, conseguir alimentar sua crescente população? É uma resposta que os cientistas do mundo todo, inclusive do Brasil, que são muito bons na matéria, estão procurando dar o mais depressa possível.

A essa agropecuária mais natural, praticamente antagônica da Revolução Verde, que compreende que não é mais lógico continuar indefinidamente desconsiderando a preservação do meio ambiente, contaminando o solo com produtos químicos não degradáveis nem com aditivos alimentares prejudiciais à saúde do consumidor – aí incluídos os processos de conservação dos alimentos industrializados – dá-se o nome de agricultura orgânica, conceito que valoriza a responsabilidade social e ambiental e está incluído no contexto maior da agroecologia.

Atualmente, o consumidor bem informado não se interessa apenas pela qualidade do produto exposto no supermercado. Ele exige mais. Ele quer saber sua origem e todos os procedimentos aos quais foi submetido desde o interior dos estabelecimentos agropecuários, dentro da porteira, no campo. Ele exige segurança e qualidade.