A China anunciou nesta sexta-feira que vai impor mais tarifas sobre produtos agrícolas dos Estados Unidos, em sua mais recente medida retaliatória, que tem como alvo os estados do Meio-Oeste norte-americano onde eleitores ajudaram a levar Donald Trump à presidência em 2016.

Como o governo chinês já havia proibido empresas de comprarem produtos agrícolas dos EUA, as tarifas foram vistas mais como simbólicas. Ainda assim, as crescentes tensões preocupam o setor agrícola, que perdeu um importante mercado para as exportações e viu suas receitas despencarem.

Trump reaqueceu as tensões nesta sexta-feira, com uma série de tuítes em que disse que está ordenando que empresas norte-americanas encontrem maneiras de encerrar suas operações na China. Os tuítes de Trump impactaram de forma significativa os mercados globais.

Segundo o Ministério do Comércio da China, haverá tarifa extra de 5% sobre a soja dos EUA a partir de 1º de setembro e taxas adicionais de 10% sobre trigo, milho e sorgo dos EUA a partir de 15 de dezembro. A China é a maior importadora de soja do mundo, tendo adquirido o equivalente a US$ 12 bilhões da safra norte-americana no ano anterior à guerra comercial.

“Quase não ocorrem compras de soja dos EUA por companhias privadas há um ano”, disse Ryan Findlay, presidente executivo da Associação Norte-Americana de Soja. “Já passou da hora de ambas as partes, China e EUA, se aproximarem, pararem com as tarifas, encontrarem soluções.”

A China também cobrará tarifas extras de 10% sobre a carne bovina e suína dos EUA a partir de 1º de setembro, de acordo com a lista publicada pelo Ministério do Comércio em seu site.

As tarifas mais recentes, que seguem taxas norte-americanas sobre bens chineses no valor de 300 bilhões de dólares, ameaçam prolongar uma guerra comercial entre as duas principais economias do mundo, que tem levantado preocupações sobre a desaceleração do crescimento global.

No ano passado, a China impôs tarifas retaliatórias que permanecem em vigor sobre as importações de uma série de produtos agrícolas dos EUA, incluindo soja e carne de porco. Essas tarifas reduziram a exportação de produtos norte-americanos e levaram a administração Trump a oferecer até US$ 28 bilhões em ajuda federal para compensar os agricultores norte-americanos por perdas.

“Qualquer escalada na disputa comercial com a China é uma grande preocupação para os produtores de suínos dos Estados Unidos”, disse o Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína em um comunicado. A tarifa anterior sobre a carne suína dos EUA tinha sido de 62%.

O Ministério do Comércio da China disse em 5 de agosto que as empresas chinesas pararam de comprar produtos agrícolas dos EUA, acirrando a guerra comercial entre os países.

A disputa comercial entre China e EUA vem beneficiando o Brasil desde o ano passado, quando as exportações brasileiras de soja atingiram recorde de mais de 80 milhões de toneladas, com grandes compras dos chineses.

Neste ano, contudo, o impacto da peste suína africana na China amenizou os efeitos da disputa comercial para a demanda por soja brasileira. Por outro lado, indústrias de carnes brasileiras estão vendendo mais aos chineses.

Os contratos futuros de soja na CBOT operam em baixa após a China dizer que acrescentaria mais 5% à tarifa de 25% que impôs em julho de 2018. “Para mim, é totalmente político e psicológico”, disse Dan Basse, presidente da consultoria AgResource Co, em Chicago. “A proibição foi mais destrutiva do que aumentar as tarifas”.

 

Reuters