A morosidade na recuperação da oferta de suínos na China, prevista para acontecer somente em 2025 pelo banco holandês Rabobank, continuará a exigir um aumento das importações do país para atender à demanda doméstica, avaliou a instituição em uma apresentação realizada na última sexta-feira.

Referência global em análises do setor agrícola, o banco informa que, no ano passado, as importações chinesas de carne de porco totalizaram 3.2 milhões de toneladas. Em 2020, esse número aumentará em um milhão de toneladas, estima o Rabobank.

Se confirmada a projeção, a importação total da China, que consome metade de carne suína do planeta, será equivalente a toda carne de porco que o Brasil produz, o que reforça a quão severa é a escassez provocada pelo vírus da peste suína africana.

A produção brasileira é relevante no xadrez global. O país é o quarto maior exportador, atrás de União Europeia, EUA e Canadá. Em 2019, os brasileiros responderam por 9% da carne suína exportada no mundo, conforme as estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA.

O tamanho da necessidade do país asiático é equivalente ao gigantismo da suinocultura chinesa. Antes da epidemia de peste suína africana, a China era responsável por cerca de 50% da produção mundial dessa proteína, o que forçou os chineses a mudarem, ao menos em parte, seus hábitos alimentares, migrando para frango, peixes e até para a carne bovina.

Os dados do governo chinês dão a dimensão do problema. O país asiático produziu 42.5 milhões de toneladas de carne suína em 2019, com queda de 21,30% em relação ao ano anterior. O volume corresponde ao menor nível em 16 anos, segundo informações da agência Reuters.

Ben Santoso, analista do Rabobank baseado em Singapura, disse na sexta-feira que o plantel de suínos da China começou a dar sinais de recuperação com a retenção de matrizes. O processo de retomada, no entanto, é demorado, o que continuará a beneficiar exportadores brasileiros como Seara (JBS), BRF e Aurora.

“Para países como o Brasil, a crise provocada pela peste suína africana é uma oportunidade”, disse o analista Wagner Yanaguizawa, do Rabobank. Ele estima que a produção de carne suína do Brasil aumentará 4% em 2020 e que as exportações crescerão 15%, mesmo com o incremento dos custos de produção, puxados pelo milho usado na ração animal.

Em 2019, o Brasil produziu 4.2 milhões de toneladas de carne suína e exportou o recorde de 750.300 toneladas, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A China foi o principal destino dos embarques e respondeu por um terço do volume total.

Do ponto de vista chinês, a União Europeia é a principal fornecedora da carne suína, mas o bloco econômico tem pouco espaço para aumentar a produção este ano, de acordo com a analista do Rabobank Eva Gocsik.

Para 2020, ela estima um aumento de produção de carne de porco na UE de não mais de 1%. “Esperamos que o crescimento venha da Espanha e Ucrânia, já que países como Alemanha e Holanda tendem a reduzir os volumes produzidos em função de questões regulatórias e ambientais”, disse. Metade da produção europeia de carne suína foi destinada para a China em 2019.

No cenário traçado pelo Rabobank, os EUA aumentarão em 3% sua produção de carne suína em 2020. No ano passado, a produção do país já aumentou entre 4% e 5%, segundo a analista Christine McCracken. Para ela, o desafio americano não está em aumentar a produção de animais, mas em acompanhar esse movimento na indústria frigorífica, com a ampliação da capacidade de abates nas unidades.

 

Valor Econômico