Após meses de espera, a China autorizou ontem que mais frigoríficos brasileiros exportem carnes ao país asiático, o que poderá agregar US$ 1 bilhão às indústrias, especialmente as de carne bovina. Ao todo, Pequim habilitou 25 abatedouros, sendo 17 de bovinos, seis de aves, um de suínos e outro de jumento.

Com isso, o número de frigoríficos de bovinos habilitados mais que dobrou, de 15 para 32. No caso das unidades de carne de frango, o número de habilitações chegou a 43, ao passo que 11 unidades poderão vender carne suína aos chineses.

Dos 25 novos frigoríficos habilitados, seis pertencem a empresas com ações listadas na Bovespa. BRF, Marfrig Global Foods e Minerva Foods tiveram, cada uma, duas unidades aprovadas por Pequim. No caso da BRF, a China autorizou as exportações de carne suína e de carne de frango produzidas na unidade de Lucas do Rio Verde (MT).

Para a Marfrig, Pequim habilitou os frigoríficos de bovinos de Tangará da Serra (MT) e Várzea Grande (MT). A Minerva recebeu autorização para exportar carne bovina partir de Rolim de Moura (RO) e Palmeiras de Goiás (GO).

As habilitações chinesas tendem a aumentar a participação e a dependência do país asiático nas exportações dos frigoríficos brasileiros. A China já é o principal destino das embarques.

Entre janeiro e julho, as exportações de carne bovina, suína e de frango ao país renderam US$ 1.7 bilhão, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura. Para todos os mercados, as exportações de carnes totalizaram US$ 8.6 bilhões no período.

 

No mercado, a avaliação é que o ritmo das vendas à China deve acelerar não apenas em razão das novas habitações, mas sobretudo porque o país asiático precisará de mais carne devido ao surto de peste suína africana que atingiu seu plantel. Os chineses consomem em torno de 50% da carne suína do planeta.

Diante dessa oportunidade, não é de se estranhar o grau de ansiedade, e até mesmo de animosidade, dos donos de frigoríficos com a demora de Pequim em autorizar mais unidades a exportar. No início de maio, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) chegou a criticar o Ministério da Agricultura pelo que considerava ser um suposto privilégio a grandes frigoríficos.

À época, as autoridades consideraram a possibilidade de priorizar a habilitação de plantas que já contassem com a aprovação da União Europeia. O bloco é considerado um dos mais rigorosos em matéria sanitária, o que limitaria o espaço dos frigoríficos pequenos e médios.

A proposta, porém, não prosperou. Além disso, a lista de frigoríficos divulgada ontem por Pequim veio na contramão da preocupação inicial. A China habilitou diversos frigoríficos pequenos e médios e deixou de fora a JBS, dona da Friboi (principal produtora de carne bovina do Brasil) e da Seara (segunda maior produtora de aves e suínos do país), o que contribuiu para derrubar o preço das ações do grupo na Bovespa.

Ao ampliar o leque de fornecedores, Pequim dá uma indicação de que quer mais competição. “O chinês é feroz e vai jogar o preço para baixo”, avaliou um executivo do setor. Em outras palavras, os maiores frigoríficos podem até continuar dominando o mercado, mas a definição dos preços não será tão fácil.

No governo, as novas habilitações foram comemoradas e vistas com surpresa, uma vez que muitos apostavam que o anúncio só ocorreria em outubro, durante visita da presidente Jair Bolsonaro ao país asiático.

Ao Valor, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, destacou o sistema de inspeção online adotado pela primeira vez pelo Brasil.

Na semana passada, frigoríficos de bovinos foram inspecionados por meio de teleconferências na qual técnicos chineses acompanharam de Pequim as auditorias feitas por fiscais do Ministério da Agricultura dentro das linhas de produção. “Estávamos trabalhando desde maio. Bom que as autorizações vieram logo depois das auditorias”, disse a ministra.

A experiência deixou Tereza Cristina otimista. Segundo ela, novas habilitações podem ocorrer em breve por meio do sistema de teleconferência. “A gente tinha pedido 30 plantas. Avaliaram 25, mas devem analisar mais nove”, disse, ponderando que a qualidade do sinal das transmissões precisará melhorar para as próximas auditorias.

Mas também há lições a serem tiradas da tortuosa trajetória para a habilitação dos frigoríficos, conforme ressaltou um técnico do Ministério da Agricultura.

Do universo total de 78 plantas que chegaram a reivindicar acesso ao mercado chinês, muitas responderam os formulários enviados por Pequim de forma inadequada. Problemas graves de tradução também foram detectados. Em alguns casos, companhias informaram erroneamente a capacidade de abate, lembrou a mesma fonte.

 

Valor Econômico