Às vésperas do périplo que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, fará pela Ásia, os frigoríficos estão em pé de guerra pelas habilitações para exportar à China, a principal pauta comercial da viagem. O conflito, até então restrito aos bastidores, veio a público durante a tarde de ontem.

Em nota enviada à imprensa, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) criticou a lista de unidades que será entregue durante a visita da ministra à China. É a partir dessa lista, que contém 24 plantas, que Pequim autorizará novos abatedouros a exportarem.

Para a Abrafrigo, o critério do Ministério da Agricultura privilegia “grandes frigoríficos como Minerva e JBS”. Na lista dos 24 frigoríficos, sete pertencem à JBS e quatro à Minerva. Procuradas, a JBS não comentou e a Minerva lembrou que a habilitação é uma decisão dos chineses.

No setor privado, a nota da Abrafrigo causou perplexidade. Ao escancarar uma divergência, alegam fontes, uma grande conquista do Brasil pode ser afetada. O entendimento é que a habilitação de novos frigoríficos é iminente devido à necessidade de suprimento da China, que sofreu grande abalo na disponibilidade de carnes por conta do surto do vírus da peste suína africana.

Também chamou atenção o fato de a Abrafrigo ter voltado suas baterias apenas contra a JBS e a Minerva. A Marfrig, segunda maior indústria de carne bovina do país, tem pelo menos tantos abatedouros na lista que será entregue aos chineses quanto a Minerva, e não foi mencionada na nota da associação.

Para uma fonte próxima à Abrafrigo, a ausência da menção à empresa é um reflexo da postura da Marfrig em defesa da igualdade de condições entre os frigoríficos.

A diferença entre elas, ironizaram duas fontes da indústrias, é que somente a Marfrig é associada da Abrafrigo. JBS e Minerva fazem parte da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). A Marfrig também faz parte da entidade. Procuradas, Marfrig e Abiec não comentaram.

Ao Valor, o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Orlando Ribeiro, reconheceu o mal-estar, mas criticou duramente as insinuações da Abrafrigo.

“Não trabalho para empresa, trabalho pelo interesse nacional. Quando foi feita a estratégia de negociação com os chineses, não se levou em consideração estabelecimentos específicos, apenas a possibilidade de habilitar um número maior de estabelecimentos”, disse Ribeiro.

Segundo o Ministério da Agricultura, os critérios para o envio da lista atenderam a um pedido feito pelos próprios chineses. Para acelerar a habilitação, a Administração Geral de Alfândegas da China sugeriu a indicação dos abatedouros já habilitados a exportar para a União Europeia, um mercado considerado exigente em questões sanitárias.

A ideia é que esses abatedouros sejam habilitadas em um primeiro momento, o que abarca sobretudo os grandes frigoríficos. No entanto, a ministra também entregará outras listas, como parte de um processo de novas habilitações.

O caminho adotado pelo ministério desagradou a executivos de médio porte consultados pelo Valor. “A competição é desleal”, disse um deles, argumentando que um frigorífico habilitado a exportar para a China pode pagar mais caro para adquirir o gado a ser abatido.

Em meio à disputa, fontes próximas a grandes frigoríficos criticaram a postura dos menores. Mas ressaltam que o acesso a um mercado tão cobiçado não é trivial. “A China é um baile que exige gravata”, disse.

 

Valor Econômico