A China examina o pedido do Brasil para habilitar mais 75 unidades exportadoras de carnes, mas os sinais é que persistem obstáculos para uma resposta positiva.
O Valor apurou que a tarefa da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que começa na quarta-feira (15/5) em Pequim, será muito difícil se ela não tiver todas as explicações e garantias fitossanitárias exigidas pelas autoridades chinesas para liberar gradualmente a entrada das carnes brasileiras.
A avaliação é que há uma expectativa irreal do Ministério da Agricultura e de frigoríficos brasileiros sobre o que pode ser obtido nessa viagem. Nada é impossível na China, mas parece remota a possibilidade de anúncio de habilitação de novos estabelecimentos brasileiros na próxima semana.
O mais realista, na visão de quem conhece o tema, é que a ministra da Agricultura e seu colega chinês se entendam sobre quais informações estão faltando, para Pequim tomar sua decisão final, e esperar algum anúncio por volta de julho ou agosto.
A missão da ministra Teresa Cristina é ainda mais importante porque a China lidera as importações de carnes brasileiras. Em 2018, o país exportou US$ 2.593 bilhões em carnes para o mercado chinês, representando 17,6% do total das exportações do produto, conforme dados do Ministério da Agricultura.
Com o número de pedidos de habilitação aumentando, Pequim enviou em novembro do ano passado uma missão ao Brasil. Ocorre que o resultado foi ruim para os brasileiros. Os chineses dizem ter detectado problemas fitossanitários em 8 dos 11 estabelecimentos para exportação investigados.
Além disso, as críticas não se limitaram aos frigoríficos. Pequim questionou aspectos do sistema de controle sanitário brasileiro como um todo.
A partir daí, a China enviou questionários para o Ministério da Agricultura. Algumas respostas tinham informações anteriores à visita da missão chinesa. Outros comentários não tinham relação com o que Pequim indagava.
O sentimento na China é que o Brasil considera que a habilitação dos frigoríficos para exportar é uma questão meramente política entre Pequim e Brasília, quando na verdade pressupõe o atendimento de exigências técnicas.
Aparentemente, muitos no Brasil acreditam que Pequim poderia ser flexível porque precisa importar carnes, ainda mais com o surto de peste suína africana que atinge o país.
Ocorre que, como todo grande país, a China não quer ficar dependente de poucos exportadores. Enquanto sustenta que o Ministério da Agricultura brasileiro responde só parcialmente seus questionamentos, Pequim sabe que acabará concluindo um acordo com os EUA e abrirá o mercado de novo para as carnes americanas.
Também a Rússia vem conseguindo habilitar um bom número de estabelecimentos exportadores de carne de frango para vender ao país asiático, e a França conseguiu reabrir o mercado chinês para seu produto.
O Brasil é competitivo. Mas, no caso específico do frango, durante cinco anos o País não vai poder baixar o preço da carne, por um acordo firmado com Pequim para evitar uma sobre tarifa elevada. Significa que a capacidade brasileira de concorrer em preço está excluída por um bom tempo.
Valor Econômico