Depois de amargar os reflexos negativos da operação Carne Fraca, sobretudo barreiras às exportações, a indústria brasileira de carnes de frango e suína vive atualmente um de seus melhores períodos na história recente, com custos relativamente baixos, vendas firmes dentro e fora do País e câmbio favorável aos embarques.

Ainda há restrições a produtos do país em mercados como a União Europeia e incertezas sobre o ritmo de aumento das importações da China, mas os resultados de 2019 serão robustos, com todos os sinais apontando para um 4º trimestre de demanda particularmente aquecida e preços elevados.

Em linhas gerais, esse é o cenário traçado pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que reuniu jornalistas nesta quarta-feira em São Paulo para divulgar suas estimativas para o segmento neste ano.

“Com a Carne Fraca, vivemos nossa ‘tempestade perfeita’. Agora, estamos vivendo uma ‘bonança perfeita’. Este é o ano da recuperação”, resumiu Ricardo Santin, diretor executivo da entidade. “Estamos mostrando nossa força para a economia do país, inclusive com a geração de empregos”, disse o presidente Francisco Turra.

Apesar da animação, a ABPA divulgou projeções consideradas cautelosas para 2019, muito em função das incertezas que emanam da China, que enfrenta uma séria epidemia de peste suína africana, mas que, até agora, vem conseguindo controlar o aumento das importações de carnes para evitar uma enxurrada capaz de prejudicar ainda mais seus próprios produtores.

A entidade previu aumentos de 1% na produção brasileira de carne de frango, para 13 milhões de toneladas, e de 1% a 2,50% na produção de carne suína, para até 4.1 milhões de toneladas.

Quanto às exportações, os percentuais de incremento projetados são maiores: 4% a 5% no caso da carne de frango, para cerca de 4.3 milhões de toneladas, e 12% no da carne suína, para 720.000 toneladas. Mas, segundo Santin, são estimativas calculadas com moderação, que tendem a ser superadas.

De janeiro a julho, os embarques de carne de frango totalizaram 3.4 milhões de toneladas e renderam US$ 4.1 bilhões, com aumentos em relação ao mesmo período de 2018 de 5,80% e 10,80%, respectivamente, ao passo que as vendas externas de carne suína atingiram 414.400 toneladas e somaram US$ 847.8 milhões, com altas de 19,60% e 23,50%.

Os aumentos maiores das receitas do que dos volumes vêm sendo especialmente comemorados, pois significam que as margens da indústria estão melhorando. E como os custos de produção estão sob controle, a injeção é na veia.

Segundo levantamento da Central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa, os custos voltaram a cair em julho depois de terem subido no mês anterior. Para os suinocultores, a queda em relação a junho foi de 0,10%, e para os produtores de frangos de corte chegou a 1,40%. Desse ponto de vista, a oferta doméstica até poderia estar crescendo mais – e está prevista uma aceleração – mas a largada para isso dependerá, em parte, da China.

“Muitos produtores, sobretudo de suínos, ainda estão cautelosos, esperando as novas habilitações de frigoríficos pela China. E essa é uma decisão do País. Temos de respeitar o timing deles”, afirmou Turra.

Santin explicou que, apesar de o avanço da peste suína africana no país asiático estar levando a uma forte redução do plantel local de porcos, o maior do mundo, houve antecipação de abates e que, com isso, houve condições de estocar bons volume de carne.

Mas esses estoques estão acabando às vésperas da queda de temperaturas, a partir de outubro, que sempre gera um aumento da demanda doméstica. Não será difícil, portanto, que as novas habilitações saiam até lá.

De janeiro a julho, China e Hong Kong absorveram 18% do volume de carne de frango exportado pelo Brasil. No caso da carne suína, a participação dos dois países no total foi de 50,50%.

Com as novas habilitações, que podem envolver 30 novas unidades brasileiras, essas fatias poderão aumentar, a depender do comportamento da demanda de outros países asiáticos, que também enfrentam problemas com a peste suína africana. Além disso, a doença começa a avançar na Europa. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) divulgou a confirmação de novos focos da doença na Rússia e o primeiro caso na Eslováquia.

Além das possibilidades abertas com a peste suína, a ABPA também destacou como fatores positivos a habilitação, pelo México, de 26 novas plantas brasileiras de carne de frango, a realização do primeiro embarque do produto do país para a Índia, feito pela Seara, e a gradual retomada das vendas de carne suína à Rússia.

Turra e Santin destacaram, finalmente, que diante das boas perspectivas para as exportações, já há disputa entre compradores de produtos voltados ao mercado doméstico e empresas exportadoras. Daí porque, no país, a tendência é de alta de preços nos próximos meses. No Brasil brincaram. Quem quiser garantir uma boa ceia de Natal a preços em conta é melhor fazer as encomendas agora.

 

Valor Econômico